A atriz Luisa Arraes se despediu recentemente daquele que foi seu papel mais intenso na televisão até agora. A jovem de 23 anos prendeu a respiração dos telespectadores na série Justiça, da Globo, ao dar vida a Débora Carneiro, uma jovem vítima de estupro que decide se vingar de seu agressor.
Filha do cineasta Guel Arraes e da atriz Virginia Cavendish, sua primeira participação em um filme foi com apenas 5 anos, em O Auto da Compadecida (2000). Bem depois disso, após integrar o elenco da série Louco Por Elas (2012-2013), o sucesso mesmo de fato ao interpretar mocinha Lais em Babilônia (2015), par romântico de Rafael (Chay Suede). Porém, foi em Justiça que ela exibiu seu potencial dramático.
Na trama, Luisa experimentou uma dobradinha com a atriz Jessica Ellen, intérprete de Rose. O núcleo comandado pela dupla discutia assuntos importantes, como racismo e ineficiência do judiciário brasileiro, e chamava atenção pela cumplicidade das duas personagens. A relação delas levantava bandeiras como a questão da sororidade, ou seja, do apoio mútuo de mulheres, algo que Luisa considera mais do que fundamental nos dias de hoje.
“É imprescindível a discussão do feminismo, e mais ainda a sororidade. Uma rede que as mulheres possam contar com as outras e ter apoio cada vez que tomarem uma decisão diferente do status quo em direção a uma maior igualdade e liberdade”, diz.
Na trama, é Rose quem inicialmente dá força para Débora procurar o estuprador e fazer o que elas acreditam ser justo, já que ele nunca pagou pelo crime. Ao falar de uma personagem tão envolvida com a questão da violência contra a mulher, Luisa ressalta que abordar histórias como esta na televisão é fundamental para gerar discussão e ampliar o debate sobre o feminismo. “Vivemos em uma sociedade ainda muito machista. Precisamos de representatividade com todas as minorias, em todos os lugares, especialmente na política”, acredita.
Para o papel, Luisa conta que fez um teste e logo em seguida foi chamada por José Luiz Villamarim, diretor geral e artístico da série, para uma conversa. Depois disso, ela já engatou a preparação da personagem: a atriz explica que o principal foi tentar criar essa ligação fraternal entre Rose e Débora - na série, as duas são melhores amigas, sendo que Rose é filha da empregada que trabalha na casa de Débora - sem abandonar o aspecto trágico da coisa. Além disso, um ponto que Luisa quis deixar evidente na construção foi o fato da personagem, em momento algum, acreditar que a culpa do estupro tenha sido dela.
Durante as filmagens, ela lembra que, por conta da temática envolvida, o clima foi muito intenso até o momento final. “Tínhamos um ambiente muito concentrado no set, porque realmente tínhamos cenas de muita intensidade e precisávamos estar todos juntos, equipe inteira. Acho que me despedi aos poucos, com banho no mar, agradecendo, e agora no último episódio nos encontramos todos e brindamos juntos o fim. Acho que foi ali que me despedi da Débora”, diz.
Pronta para alçar novos desafios, a atriz que também esteve nos cinemas este ano com o longa Reza a Lenda colhe os resultados do recém terminado trabalho e demonstra ser grata pela forma como o público se posicionou em relação à história de Débora. “Foi uma reação muito impressionante e feliz, na verdade. Tinham muitas divergências de opiniões sobre o que Débora deveria ou não fazer, mas a repulsa pelo acontecido com ela foi a mesma. As pessoas compraram essa dor, mas com diferentes maneiras de lidar com ela”, avalia.
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