Manoel Carlos, um dos principais autores de novelas da Globo, passou por um período de rompimento com a emissora na década de 1980. Foi com a novela Felicidade, que volta nesta segunda-feira, 21, desta vez no Globoplay, que Maneco 'fez as pazes' com o canal. Ao todo, foram cerca de oito anos entre sua saída e a estreia de Felicidade, em 7 de outubro de 1991 (a trama foi exibida até 30 de maio de 1992). No período em que esteve afastado, fez alguns trabalhos na Manchete, como Novo Amor, Viver a Vida e Joana, além de O Cometa, na Band. Também esteve à frente de O Magnata, novela escrita para a Capitalvision, produtora e distribuidora internacional. O imbróglio entre Manoel Carlos e a Globo teve início em fevereiro de 1983, após a morte da Jardel Filho, um dos principais atores de Sol de Verão, novela escrita pelo autor, à época. "A gota d'água foi a morte de Jardel Filho, meu amigo, meu companheiro, meu irmão. Escrevi Sol de Verão especialmente para ele. Tratava-se, realmente, de uma novela biográfica de Jardel Filho. Ele morreu e eu senti muito. Havia muita dor", explicava, em entrevista ao Estadão, em 1986.
"Propus à Globo acabar a novela em uma semana. Eles argumentaram que não seria possível. Aumentei para duas semanas. Eles reargumentaram que teria de estendê-la, pelo menos, por mais três [semanas]. Eu disse 'não'." "Não acredito quando falam que 'o show deve continuar'. Não. Ele tem de ser interrompido quando a dor é muito forte. Tem de se respeitar a dor alheia. Não há nenhuma alegria em ver o circo pegar fogo. Temos, pelo contrário, de ajudar a apagar o incêndio", concluía. À época, a Globo encomendou uma pesquisa para saber se o público apoiava a continuidade ou a interrupção de Sol de Verão. O resultado indicou que a trama devia prosseguir. Manoel Carlos, então, deixou a novela e Lauro César Muniz, assessorado por Gianfrancesco Guarnieri, escreveram os 17 capítulos finais. Ao sair, o autor divulgou um manifesto em que reclamava: "Poucos protestam contra a excessiva carga horária de trabalho, a desumanização no trato pessoal, o autoritarismo à maneira de Hollywood dos anos 40, as reprises inconsequentes".
Ao Estadão, em 1986, Manoel Carlos explicava que a pressão, a cobrança para estender novelas e a necessidade em se ter sempre novos capítulos lhe causavam revolta. "Havia um certo abuso. Eu me sentia abusado e pressionado 24 horas por dia. Escrever uma novela é viver quase um ano sob pressão constante. Sabe o que é escrever um capítulo por dia, uma média de 30 laudas diárias, com o boy da produção esperando na sala para levar seu trabalho para a emissora?", afirmava. "Você acaba ficando mais preocupado em escrever capítulos diários do que um bom capítulo. A novela acaba ficando por demais repetitiva, redundante. Você tem de prolongar a história por meses e meses."
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"Enquanto puder, não faço mais essas novelas quilométricas. Não tenho mais idade, paciência, nem vontade de ficar sendo cobrado e de as emissoras exigirem resultados sempre. Como oferecer um resultado no mínimo decente, se não existem as condições necessárias para um trabalho verdadeiramente digno?", completava. Posteriormente, Manoel Carlos continuou a trabalhar com a Globo, onde escreveu outras novelas marcantes como Por Amor, Laços de Família, Mulheres Apaixonadas, Viver a Vida e Em Família, seu trabalho mais recente, que foi ao ar em 2014.
O Estadão buscou contato com a assessoria da emissora a respeito da atual situação de contrato de Manoel Carlos e possíveis novelas do autor que estejam previstas, mas não obteve retorno até a programação desta reportagem.
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