Gilberto Barros e Yu-Gi-Oh!: por que vídeos raros de 2003 viralizaram nas redes sociais hoje

Polêmica do programa ‘Boa Noite Brasil’ rendeu relatos variados nas redes sociais ao longo dos anos, mas imagens eram difíceis de encontrar em plataformas como o YouTube até este mês de novembro

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Foto do author André Carlos Zorzi
Atualização:

Gilberto Barros e Yu-Gi-Oh! são dois termos que se conectaram para uma geração de crianças, adolescentes e seus pais na década de 2000. O motivo foi uma série de edições do programa Boa Noite Brasil, da Band, em que o apresentador fez duras críticas ao jogo de cartas. Vídeos com imagens daquele dia eram muito difíceis de serem encontrados no YouTube ou na internet em geral. Ao menos até este mês de novembro.

Gilberto Barros mostra carta de Yu-Gi-Oh! durante programa 'Boa Noite Brasil' exibido em 2003 Foto: Reprodução de 'Boa Noite Brasil' (2003)/Band

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Usuários de redes sociais encontraram três vídeos, que juntos totalizam cerca de 12 minutos, com material gravado da TV àquela época. O material estava em um canal de YouTube com poucos inscritos e visualizações chamado “CTERHEMA”, desde outubro de 2010. Os títulos, porém, eram pouco intuitivos: “Debate Card Introdução”, “Debate Card 1″ e “Desenho Violência Leão”.

Desde então, viralizaram em redes sociais como Instagram, YouTube, X e TikTok recortes com momentos em que Gilberto Barros diz frases como “Vocês viram a carta? O capeta está aqui e crianças de dois anos e meio estão sendo treinadas por esse baralho para realizar magia negra!” e “[São] brincadeiras que induzem à violência, ensinam como bater, como matar. Alto lá!”.

Em determinado ponto, um teólogo diz: “[Yu-Gi-Oh!] ensina a magia negra, ensina a criança a resolver os seus problemas no duelo, na força do braço. Isso nós podemos ver no trânsito, quando há uma buzina, a pessoa sai e dá um tiro na cabeça do outro.”

O programa ainda ultrapassa o tema do jogo de cartas, mostra uma matéria em que um repórter diz que “a violência dos desenhos japoneses é constante na vida da garotada” e, ao juntar o tema com outros animes, acrescenta que no filme Dragon Ball “um dos personagens ensina ao outro como matar o próprio pai”.

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Porém, as cartinhas de Yu-Gi-Oh!, que foram ‘febre’ à época, impulsionadas também pela exibição do desenho de mesmo nome na Globo e no canal pago Nickelodeon, não traziam instruções explícitas como o programa sugeria - ainda que trouxesse temáticas obscuras, entre outras.

A carta Mystic Clown [Palhaço Místico, em tradução livre] uma das mostradas no ar por Gilberto Barros, por exemplo, conta com a seguinte descrição: “Nada pode parar o louco ataque desta poderosa criatura”.

Ao longo das décadas, foram diversos os relatos em redes sociais de pessoas que alegam que seus pais teriam rasgado as cartas após a repercussão do programa - gesto que teria sido feito pelo próprio apresentador ao vivo. Muitos afirmavam se lembrar de ter assistido à época, o que gerava também informações imprecisas ou desencontradas. Os trechos que viralizaram ajudam a ‘desmistificar’ ou ‘confirmar’ parte de algumas ‘lendas’ sobre o tema.

O que diz Gilberto Barros sobre a polêmica com Yu-Gi-Oh!?

Gilberto Barros já chegou a se pronunciar sobre as suas críticas contra Yu-Gi-Oh! depois que o assunto tomou conta da internet anos depois.

Em julho de 2017, durante live em sua página de Facebook, a TV Leão, o apresentador relembrou o tema: “Eu tive culpa, mas não tive tanta culpa. As pessoas não entenderam o recado que eu quis dar através disso aí, respeitando principalmente as crianças. Foi só isso, exatamente isso.”

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“E te confesso, a carta do capeta, que vendiam lá, foi uma ‘venda’, entre aspas, da imprensa japonesa que veio para o Brasil. Eu peguei rapidamente, porque ali havia aquela concorrência de pegar assuntos, esse negócio todo.”

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“A gente começou a chamar pessoas especializadas e começaram a crescer o negócio. Até a tal da carta que mandava matar o pai... Não é isso? Aí tua geração [há um interlocutor mais jovem na conversa] quis acabar comigo. Até na minha casa eu tive problemas.”

“Mas foi tudo de coração, um movimento para melhorar a juventude do Brasil. Mas eu não tenho nada contra, de verdade, essas cartas. É um jogo, de fato. A minha preocupação é que o pequenininho não poderia entender o jogo, foi só isso. Estando eu certo ou errado.”

Já em outubro de 2017, Gilberto Barros voltou a falar sobre o tema no podcast Não Ouvo. “É a carta de baralho. Uma delas é de um capeta que falava assim: ‘Mata o seu pai para não ir na escola amanhã’. Na época, debati isso aí, a carta que veio do Japão. ‘Corte o dedão da sua irmã se ela estiver te enchendo o saco’. [Yu-Gi-Oh!] era assim. A preocupação era não se chegar a ser uma ‘baleia azul’. O que eu fiz foi só alertar. Não falei para pai nenhum tirar. O pai tem que sentar e ver o que o menino está fazendo.” O apresentador não citou quais cartas supostamente trariam tais instruções.

Por onde anda Gilberto Barros hoje?

Gilberto Barros em foto de outubro de 2024, na pré-estreia da série 'Maníaco do Parque', do Prime Vídeo Foto: @gilbertobarrosoficial via Instagram

Gilberto Barros, também conhecido como ‘Leão’, teve passagens marcantes pela TV pela TV brasileira nos anos 1990 e 2000, especialmente na Record e na Band. Seu último programa foi ao ar em 2015, na RedeTV!.

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Posteriormente, chegou a lançar um canal na internet, a TV Leão, mas não obteve o mesmo sucesso de antes. Também já relatou ter saído do Brasil para morar nos Estados Unidos.

Recentemente, Gilberto Barros apareceu em duas séries de destaque sobre true crime no streaming. Volta Priscilla, sobre o desaparecimento da irmã de Vitor Belfort, no Disney+, e Maníaco do Parque, do Prime Vídeo.

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