'Jornal Nacional' - 50 anos: Cid Moreira relembra estreia do programa em 1969

Confira o que foi noticiado na 1ª edição do 'JN', o que passava na emissora antes do telejornal e a lista de 27 apresentadores que participarão do rodízio em homenagem ao aniversário da atração

PUBLICIDADE

Foto do author André Carlos Zorzi
Cid Moreira e Hilton Gomes à frente do 'Jornal Nacional' em sua primeira década de existência. Foto: Arquivo / Estadão

O Jornal Nacional, principal telejornal da TV Globo, completa 50 anos de existência neste domingo, 1º. Por conta da data, a emissora dará início a um rodízio entre 27 apresentadores na bancada do programa a partir deste sábado, 31. O E+ conversou com Cid Moreira, apresentador que esteve presente no JN de estreia em 1º de setembro de 1969, e fez um breve panorama sobre a história do Jornal Nacional.

Confira a seguir detalhes sobre o programa de estreia, apresentadores que passaram pela bancada do telejornal ao longo das décadas e outras curiosidades sobre o Jornal Nacional.

PUBLICIDADE

Cid Moreira: o apresentador do Jornal Nacional de estreia

Em depoimento ao E+, Cid Moreira, um dos apresentadores da 1ª edição do Jornal Nacional, em 1969, ao lado de Hilton Gomes, relembrou a estreia.

Publicidade

"Para dizer a verdade, eu não estava ansioso na época, não. Eu e o Hilton Gomes estávamos apresentando, há uns quatro meses, o Jornal da Globo [programa exibido entre março de 1967 e agosto de 1969], então tínhamos uma certa tarimba", conta. Na sequência, ressalta as diferenças entre o telejornal anterior e o Jornal Nacional: "A novidade era o aumento do público, que deixaria de ser só do Rio de Janeiro. A apreensão maior era dos técnicos, que recebiam e enviavam as imagens através de links nessa nova etapa do jornal." "É claro, estavam também ansiosos para que tudo desse certo o Armando Nogueira, a direção da empresa e o pessoal da redação", complementa.

Cid Moreira e Sérgio Chapelin no 'Jornal Nacional' em agosto de 1994. Foto: Tasso Marcelo / Estadão

Questionado se, naquela época, já poderia imaginar que o Jornal Nacional teria uma trajetória tão duradoura na TV brasileira, respondeu, bem-humorado: "Como é que eu poderia? Não sou nenhum Mister M [Risos]." O apresentador relembra os momentos em que passou a ter uma noção maior sobre a dimensão do programa: "Na época, o Repórter Esso era sinônimo de notícia, o jornal mais famoso na época. Então quando o Jornal Nacional começou a ser visto, eu senti isso. Eu era apontado na rua: 'Olha lá, o Repórter Esso!'.  "Quer dizer, eu gostava do que tava ouvindo, [porque] o jornal estava sendo visto, mas, equivocadamente porque estavam me chamando de Repórter Esso", complementa Cid. "Hoje nós temos o Jornal Nacional com esse layout bonito de uma nave espacial. Redatores, apresentadores se comunicando, andando em pé, coisa que na época eu nem pensava [risos]. Enfim, é evolução, tecnológica e dos apresentadores, também", opina, sobre o atual formato dos telejornais.

Cid Moreira e Sérgio Chapelin ao lado de William Bonner e Renata Vasconcellos no encerramento do 'Jornal Nacional' em 2015. Foto: Reprodução de 'Jornal Nacional' (2015) / Globo

Entre a estreia do JN e a despedida de Cid Moreira do telejornal, passaram-se 27 anos. Ele chegou a ser chamado para encerrar uma edição do Jornal Nacional em 2015, ao lado de Sergio Chapelin, em uma edição especial por conta dos 50 anos da Rede Globo (assista ao momento aqui). Atualmente, aos 92 anos de idade, Cid Moreira tem chamado atenção por conta de sua frequência em redes sociais como o Instagram. Hilton Gomes, que o acompanhou na estreia do JN, morreu em 17 de outubro de 1999, aos 75 anos de idade.

VEJA TAMBÉM: Relembre a trajetória de Cid Moreira

Publicidade

O 1º Jornal Nacional da história 

A 1ª edição do Jornal Nacional foi ao ar em 1º de setembro de 1969, uma segunda-feira, em pleno período da ditadura militar. Prevista para começar às 19h40, teve início alguns minutos depois.  A ideia era que, pela primeira vez, diversos Estados, como São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Guanabara e Distrito Federal acompanhassem um telejornal simultaneamente. Exibido de segunda a sábado, o Jornal Nacional tinha, inicialmente, 15 minutos de duração e era dividido em três partes: local, nacional e internacional. 

"O Jornal Nacional, da Rede Globo, um seviço de notícias integrando o Brasil novo, inaugura-se neste momento: imagem e som de todo o Brasil", anunciava Hilton Gomes. Cid Moreira completava: "Dentro de instantes, para vocês, a grande escalada nacional de notícias". Na pauta do dia, estavam uma crise circulatória que abalava a saúde do então presidente Artur da Costa e Silva, assim como o Ato Institucional número 12 (AI-12), que transferia os poderes do governo a uma junta militar, em vez do vice-presidente Pedro Aleixo. Na parte internacional, imagens vindas de agências mostravam notícias de países como Líbia, Paquistão e Japão. A morte do boxeador Rocky Marciano, único campeão peso pesado a pendurar as luvas invicto, em um acidente aéreo, também ganhou destaque. O preço do litro da gasolina foi abordado: o da 'azul', especial, passava a custar 48 centavos de cruzeiro novo, já o da comum, 39 centavos.

O pugilista norte-americano Rocky Marciano durante sua visita ao Brasil em março de 1956. Foto: Arquivo / Estadão

O craque do Botafogo, Garrincha, teve que depor por conta do processo pelo acidente que resultou na morte da mãe de sua esposa, Elza Soares, ocorrido na rodovia Presidente Vargas em 13 de abril daquele ano (relembre aqui). Na sequência, foram mostradas imagens das obras de alargamento da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, e a previsão do tempo para as cidades do Rio de Janeiro, Niterói e do Estado do Espírito Santo. A estreia do Jornal Nacional se encerrou com a notícia da vitória da seleção brasileira por 1 x 0 sobre o Paraguai no Maracanã, no último jogo das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970, no México. À época, aquele foi considerado o 979º gol da carreira de Pelé, e garantiu o Brasil na Copa.

Publicidade

Tostão e Pelé durante um treino da seleção brasileira no Rio de Janeiro, em agosto de 1969, às vésperas da reta final das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970, no México. Foto: Arquivo / Estadão

O que passava na Globo antes do Jornal Nacional?

O primeiro telejornal da TV Globo era chamado de Tele Globo, e ia ao ar em duas edições diárias: a primeira às 12h, a segunda Às 19h, e que contou com apresentadores como Hilton Gomes, Teixeira Heizer e até mesmo a atriz Nathalia Timberg.

Tele Globo foi ao ar entre 26 de abril de 1965 e 4 de setembro de 1966. Em janeiro de 1966, porém, o telejornal começou a ter apenas uma edição, exibida às 13h.

'Tele Globo', telejornal da Globo na década de 1960. Foto: Reprodução de 'Tele Globo' (1966) / Globo

No mesmo ano, surgiu o Ultranotícias - o nome era originado pelo patrocínio das empresas Ultragaz e Ultralar - com duas edições. A primeira ia ao ar às 15h, com Paulo Gil, e durava cerca de cinco minutos.  A segunda, de quinze minutos, tinha início Às 19h45 e era apresentada por Hilton Gomes e Irene Ravache. Em setembro do mesmo ano, apenas a 2ª edição do programa continuou a ser exibida. Em março de 1967 o Ultranotícias chegou ao fim e foi criado o Jornal da Globo - não confundir com o atual Jornal da Globo, criado em- apresentado por Hilton Gomes e Regis Jatobá, às 19h30. O Jornal da Globo saiu do ar em 31 de agosto de 1969, para dar lugar ao Jornal Nacional, que estrearia no dia seguinte.

Publicidade

Apresentadores do Jornal Nacional

No início, os apresentadores do Jornal Nacional eram locutores. Cid Moreira esteve à frente do programa em seus primeiros 27 anos, entre 1969 e 1996. Ao seu lado, passaram Hilton Gomes (1969-1971), Ronaldo Rosas (1971-1972), Sergio Chapelin (1972-1983 e 1989-1996) e Celso Freitas (1983-1989).

Cid Moreira ao lado de Celso de Freitas no 'Jornal Nacional', em foto de 1990. Foto: Arquivo / Estadão

Em 1996, a Globo resolveu aplicar mudanças, e a 'dupla titular' passou a ser formada por William Bonner, que segue no cargo até os dias de hoje, e Lillian Witte Fibe. Em 1998, Fátima Bernardes, à época, casada com Bonner (o casal se divorciou em 2016) assumiu o lugar na bancada, onde ficou até 2011, quando foi substituída por Patrícia Poeta.

Fátima Bernardes 'passouo lugar' para Patrícia Poeta no 'Jornal Nacional' em 2011. Foto: Renato Rocha Miranda / Globo / Divulgação

Diversos outros jornalistas passaram pela apresentação do Jornal Nacional ao longo dos anos. Na década de 1970, Heron Domingues, Sérgio Roberto e Marcos Hummel , que seguiu na década de 1980, que ainda contou com Berto Filho, Carlos Campbell, Eliakim Araújo e Valéria Monteiro. Na década de 1990, diversos outros nomes passaram pelo JN, com a adoção do rodízio aos sábados. Alexandre Garcia, Ana Paula Padrão, Carla Vilhena, Carlos Nascimento, Carlos Tramontina, Chico Pinheiro, Márcio Gomes e Sandra Annenberg.

Publicidade

VEJA TAMBÉM: Momentos marcantes da carreira de William Bonner, apresentador do Jornal Nacional

O jornalista Heraldo Pereira foi o 1º negro a apresentar o Jornal Nacional. Sua estreia ocorreu em um sábado, no dia 23 de novembro de 2002 (clique aqui para assistir). Ele apresentou o programa ao lado de Renato Machado.

Heraldo Pereira em foto de novembro de 2002. À época, o jornalista se tornaria o 1º negro a apresentar o 'Jornal Nacional'. Foto: Rafael Neddermeyer / Estadão

A 1ª mulher negra a apresentar o JN foi Maju Coutinho, somente em 16 de fevereiro de 2019. "Eu quero que isso não seja notícia daqui a um tempo. É um simbolismo grande, estou muito feliz, mas espero que esse simbolismo gere uma prática, e que elimine qualquer manchete", afirmou Maju, à época.

A cobertura do nascimento de Sasha Meneghel

Publicidade

Ao longo das décadas, o Jornal Nacional realizou a cobertura de diversos momentos marcantes do Brasil e do mundo, como os impeachments dos presidentes Fernando Collor (relembre aqui) e Dilma Rousseff (relembre aqui), a queda do Muro de Berlim (relembre aqui) e o pentacampeonato do Brasil na Copa do Mundo do Japão e Coreia do Sul, em 2002 (relembre aqui). Um momento inusitado, porém, chamou atenção e chegou a causar certa polêmica à época: a ampla cobertura do nascimento de Sasha Meneghel, filha da apresentadora Xuxa, então um dos grandes destaques da Globo, e de Luciano Szafir, que à época começava a despontar como ator na emissora.

Atualmente, é possível conferir a reportagem, que mereceu longos minutos de atenção no Jornal Nacional. Relembre abaixo:

Um repórter chegou a 'narrar' um banho de Sasha: "O bebê mais famoso do Brasil teve seu primeiro banho filmado a pedido da mãe. Ainda com roupinha de hospital, que usou logo depois do parto, Sasha chora bastante... A enfermeira vai preparando o bebê para o banho..."

"O choro não para... Sasha vai para a água... E, de repente, para de chorar... Fica quietinha enquanto a enfermeira vai enxugando... Nem se mexe enquanto lhe cortam as unhas e ganha um anel igualzinho ao da mãe dela", prossegue.

Publicidade

"A enfermeira prepara o bebê para pose, esperando uma reação de Sasha, mas a princesinha, que nasceu debaixo dos holofotes, faz o que faz todo neném: um longo bocejo e um espirro de bebê", conclui. Ao todo, a 'sequência do banho' durou 1m30s.

Xuxa deixa o hospital São Vicente em 30 de julho de 1998 com sua filha Sasha nos braços. Foto: Zulmair Rocha / Reuters

O JN contou inclusive com um link ao vivo direto do hospital, no Rio de Janeiro, em que Roberto Kovalick entrevistou Luciano Szafir.

Em entrevista ao Estado, em 1999, o então diretor da Central Globo de Jornalismo, Evandro Carlos de Andrade, justificava o fato alegando que o tempo dado à cobertura de Sasha era 'extra', além do tempo normal do programa. "Os críticos classificaram isso como o maior crime cometido pelo JN e por qualquer telejornal em qualquer tempo. Obviamente, havia uma curiosidade popular imensa sobre o assunto. Atendemos ao interesse do público, sem prejudicar coisa alguma", afirmava.

Jornal Nacional - 50 anos: lista dos 27 apresentadores 

Publicidade

Em homenagem aos 50 anos do Jornal Nacional, a Globo anunciou um rodízio de 27 apresentadores que passarão pela bancada do telejornal - um de cada Estado e do Distrito Federal. O representante de São Paulo será Carlos Tramontina. Confira a lista completa abaixo:

Amapá: Aline Ferreira

Pará: Priscilla Castro

Rondônia: Ana Lídia Daíbes

Maranhão: Giovanni Spinucci

Ceará: Tais Lopes

Rio Grande do Norte: Lidia Pace

Alagoas: Filipe Toledo

Sergipe: Lyderwan Santos

Paraíba: Larissa Pereira

Bahia: Jéssica Senra

Goiás: Matheus Ribeiro

Mato Grosso: Luzimar Collares

Espírito Santo: Philipe Lemos

Santa Catarina: Fabian Londero

Rio Grande do Sul: Cristina Ranzolin

Pernambuco: Márcio Bonfim

Distrito Federal: Fabio William

Minas Gerais: Aline Aguiar

Rio de Janeiro: Mariana Gross

São Paulo: Carlos Tramontina

Acre: Ayres Rocha

Amazonas: Luana Borba

Roraima: Ellen Ferreira

Tocantins: Tiago Rogeh

Piauí: Marcelo Magno

Mato Grosso do Sul: Lucimar Lescano

Paraná: Sandro Dalpícolo

VEJA TAMBÉM: Relembre apresentadores e jornalistas que saíram da Globo em 2019

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.