Estreia neste domingo, 3, a segunda temporada de Pico da Neblina, na HBO Max. A série brasileira se passa numa São Paulo ficcional na qual o uso e o comércio de maconha foram legalizados.
Durante a primeira temporada, o público pôde acompanhar o despertar da economia pós-legalização e, depois disso, a cultura canábica começou a integrar o cotidiano dos brasileiros, apesar da resistência de alas mais conservadoras da sociedade.
Agora, Luis Navarro, Henrique Santana e Daniel Furlan voltam a interpretar Biriba, Salim e Vini, respectivamente, assim como Leilah Moreno no papel de Kelly. No elenco estão ainda o rapper Dexter, Nathalia Ernesto e Bruno Giordano.
Nos novos dez episódios, que serão lançados semanalmente na plataforma, os desafios são maiores e mais perigosos, porque existe apenas um futuro para essa indústria. Biriba vê todos os aspectos de sua vida dominados por CD (Dexter).
O líder do tráfico tomou controle não apenas de sua família, mas também de sua loja de cannabis. Ao se ver sugado novamente para o mundo do crime, o protagonista se alia a velhos conhecidos em uma tentativa arriscada de articular a queda de CD e sair desse mundo de uma vez por todas.
Em coletiva de imprensa, Luis Navarro descreve que seu personagem, apesar de estar mais depressivo devido aos acontecimentos, escancara o machismo negro nos novos episódios .
“O homem negro sempre se ferrou na vida, mas, dentro de casa, é um rei. Ele era a figura masculina dentro de casa e, quando o CD chega, ele toma esse espaço que era dele. Além de tudo, ele se sente muito angustiado, porque não tem seu amigo Salim”, explica.
O diretor, Quico Meirelles, afirma que a nova temporada, de fato, explora mais profundamente a complexidade dos personagens e seus conflitos, deixando a legalização da maconha como pano de fundo.
“A sensação é que é uma continuidade do retrato que criamos. A gente tratou a maconha com mais naturalidade, porque ela já entrou no dia a dia das pessoas, e exploramos mais os arcos narrativos dos personagens mais complexos e seus dramas nas relações”, afirma.
Henrique Santana afirma que o cenário da legalização da maconha não é tão distante da realidade e aponta o que, de fato, parece utópico na segunda temporada. “O que a série traz como utópico é o acesso para outras pessoas empreenderem em cima deste mercado”, explica.
“Mulheres pretas abrirem empresas de maconha sem represália, família preta fazer óleo de maconha na cozinha, homem preto com dinheiro na mão, com maconha na mão, não ser preso, isso sim é mais distante”, afirma.
Por fim, o roteirista, Rodrigo Batista, reitera a importância do desenvolvimento da complexidade dos personagens ser o foco, principalmente do protagonista, e a legalização ser o apenas plano de fundo da história. Segundo ele, através da empatia com os dramas apresentados, é possível causar mais conscientização sobre o tema.
“Quanto mais a gente conseguir expor problemas tanto do debate sobre a maconha quanto do racismo estrutural brasileiro, sem isso ser tema da cena, é possível adentrar no espectador por uma camada emocional do cérebro. Se você tentar ensinar alguma coisa muito descaradamente, isso afasta o espectador. Mostrar como ele está sofrendo com um certo tipo de situação gera empatia e a gente consegue conscientizar melhor”, conclui.
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