Para Kristen Bell, atriz coadjuvante no filme 'The Boss', seu trabalho principal é sua família

Com diferentes prioridades, artista não fica mais obcecada para conseguir um trabalho ou temendo se sair mal em um teste

PUBLICIDADE

Por Amy Kaufman
Kristen Bell Foto: Phil McCarten/Reuters

A menina respirou fundo, armou-se de coragem e aproximou-se de Kristen Bell. "Minha mãe falou que você é atriz", disse ela, um pouco confusa, olhando para a mulher que dá voz à princesa Anna na animação de sucesso "Frozen". "Sim. Minha voz lhe é familiar?" - perguntou Kristen. "Não, não é isso. Como você faz para sua voz parecer a de Anna?".

PUBLICIDADE

Kristen conversou com a garota durante alguns minutos antes de voltar para sua mesa no café. "Isso ocorre sempre. As crianças olham para mim confusas, com dificuldade para separar, em sua cabeça, o humano do animado.

Juntamente com Idinz Menzel, Kristen estrelou um filme que encantou as plateias de todo o mundo e atingiu a marca de 1,3 bilhão de dólares em 2013. Não exatamente ela, mas sua voz. Kristen não é uma estrela de cinema, mas fez uma sólida carreira na TV, primeiro conquistando a simpatia dos fãs da série Veronica Mars e a partir daí interpretando Don Cheadle em "House of Lies", cuja quinta temporada foi lançada esta semana. Na telona ela tem interpretado papéis coadjuvantes, como a namorada de Jason Segel em "Forgetting Sarah Marshall, ou como a assistente pessoal de Melissa McCarthy, a intrépida CEO no filme The Boss (A Chefe), já nos cinemas.

"Não preciso falar com meus agentes todas as vezes sobre a minha posição na comunidade de atores porque sei claramente onde me situo: sou uma boa atriz nível B", disse Kristen, com honestidade. "E acho que isto é bem exato - não é muito narcisístico, mas também sem autocomplacência. Estou perfeitamente bem colocando-me exatamente no meio". 

Aos 35 anos, ela diz que suas prioridades mudaram. Kristen é casada com o ator Dax Shepard (Parenthood) e o casal tem duas filhas, de um e três anos de idade. E suas filhas "lhe oferecem uma gloriosa combinação de autoestima e objetivo na vida". Ela não fica mais obcecada para conseguir um trabalho ou temendo se sair mal em um teste. Está mais prática quanto ao trabalho que assume. 

Publicidade

Concordou em trabalhar em The Boss, cujas filmagens começaram 11 semanas depois do nascimento da sua segunda filha - apenas porque a família poderia acompanhá-la no set em Atlanta. Ser mãe é algo tão fundamental para sua identidade que é difícil imaginar que um dia ela não estava muito certa se desejava filhos.

"Adorava minha vida", disse a atriz, sentada em um dos seus cafés favoritos em Los Feliz, a algumas quadras da sua casa. "Dax e eu podíamos viajar. Tinha cachorros para cuidar. E achava que a gravidez me deixaria muito dependente. Aprecio a minha autonomia. Sou uma mulher corajosa. Não gosto quando as pessoas abrem portas para mim".

Mas Dax Shepard, entusiasmado para ser pai, sugeriu que conversassem com amigos que tinham filhos para saber sua opinião. "Todos eles, mesmo os mais mal-humorados disseram que era uma experiência imperdível. E estavam certos. É tão divertido. A gravidez não é tão agradável. Sentia-me como se tivesse engolido uma truta viva".

Kristen riu e notou que havia uma mulher grávida sentada perto dela. "Sou tão boba, fico comovida. Mas essa mulher está prestes a entrar em uma nova fase e encontrar o amor da sua vida. Sei disto, mas não posso explicar isto a ela".

Ter filhos também mudou a relação de Kristen com seu corpo. Mas ainda é dessas pessoas preocupadas demais em ser saudável - para almoçar ela pediu um prato de lentilhas marroquinas e ovos orgânicos e quando a garçonete lhe ofereceu uma sobremesa ela recusou, dizendo que aboliu o açúcar da sua dieta. 

Publicidade

"Quando olho para meu estômago vejo que está flácido. Agora a pele que sobra está toda na cintura. Mas estou determinada a manter uma dieta saudável. Porque quando me vejo no espelho, também é uma lembrança de que realizei algo extraordinário. Uma lembrança de que tenho um superpoder e elas (as crianças) estão andando pela casa por causa disto".

PUBLICIDADE

Em The Boss, Kristen interpreta uma mãe solteira, uma secretária sobrecarregada de trabalho de uma chefe exigente (McCarthy) que de início não lhe dá o mínimo valor. E está tão preocupada em sobreviver com a filha, com o salário que ganha, que sempre se coloca em último lugar, quando a personagem de McCarthy entra em cena provocando-a por ainda usar um sutiã de amamentação nada bonito. No geral Kristen prefere trabalhar na TV porque muitos programas são gravados em Los Angeles, e sua agenda é repleta.

Além do que, disse ela, "para mim, filmar sempre me faz sentir numa espécie de acampamento. É impressionante, você jura que todos serão amigos para sempre e na maior parte das vezes, não é verdade. A TV, eu acho, parece mais um ambiente de colégio. Gosto de relacionamentos mais profundos".

Mas o ambiente é mais familiar em The Boss porque Dax Shepard é um velho amigo de MacCarthy e seu marido, o diretor Ben Falcone; eles se conheceram quando participavam da trupe de improvisação The Groundings.

Kristen encara seu casamento do mesmo modo que sua carreira, disse ela: racionalmente. Seus agentes sabem que ela não quer almoçar com elas uma vez por mês. Ela não tem nenhum interesse em elaborar estratégias. "Diga-me apenas o que há de disponível e se for convincente falamos a respeito".

Publicidade

"Hollywood é uma luta de jaula enorme. O projeto tem de estar olhando para você do mesmo modo que você está olhando para ele para ele se tornar realidade e acho que especialmente os jovens atores sofrem com seus anseios de se tornarem relevantes. E é uma ilusão. Você nunca se sente relevante". Essa conclusão é de uma mulher cuja voz está numa trilha sonora premiada quatro vezes e é repetida em milhões de lares em todo o mundo.

"Esse sentimento nunca vai desaparecer, não importa que outros trabalhos você fizer", disse Bell. "Temos de aceitar isso e saber que é um demônio que todos temos dentro de nós. Quando atuei nesse filme, a sensação foi de liberdade"./TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.