Ana Marcela Cunha não conseguiu repetir o ouro de Tóquio-2020 nos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Ela terminou a prova da maratona aquática na quarta posição. Mesmo que lamente o resultado, a nadadora se sente feliz por representar o Brasil após quase desistir.
“O 4º lugar é pior que o 5º. É um abismo entre uma medalha novamente e ser por pouco”, refletiu, com a voz embargada, após a prova, em entrevista à TV Globo. “Um ano atrás, eu falei para minha família e minha psicóloga que eu queria parar de nadar. Quase deixei de ir para a seletiva olímpica. Foi um ano difícil, mas acho que, a cada treino e prova, eu me superei muito”, revelou.
Apesar de ficar fora do pódio, a atleta comemora a participação e, principalmente, ter representado o Brasil em Paris. “Em um ano, eu me reencontrei no esporte. Tenho que estar feliz. São poucos que estão aqui representando o Brasil. Meu choro é porque não sei se vou ter outra oportunidade”, confessou.
No final de 2022, Ana Marcela foi submetida a uma cirurgia no ombro e ficou fora de competições por cerca de cinco meses. Depois, não conseguiu confirmar a vaga em Paris no Mundial de 2023, em Fukuoka. A confirmação veio no Mundial de Doha, em fevereiro deste ano.
Neste período, a nadadora baiana também mudou de rotina. Ela se mudou para a Itália, onde continuou os treinamentos junto ao técnico Fabrizio Antonelli. Os últimos meses foram dedicados à prova de hoje, inclusive abdicando de participar de etapas do Circuito Mundial de maratona aquática.
Nadadora iniciou na natação com apenas 2 anos e superação de doença rara
Ana Marcela começou a nadar aos 2 anos, em aulas de natação na creche que frequentava em Salvador, na Bahia. Aos 8, passou a competir por influência do pai, o ex-nadador George Cunha, e também da mãe, ex-ginasta. A atleta demonstrou talento desde a infância para as disputas de águas abertas, tanto em mares quanto em rios, além de se destacar nas provas de fundo em piscinas.
O talento nato para a natação levou a atleta a estrear em Jogos Olímpicos com apenas 16 anos, em 2008, quando ficou com o quinto lugar da maratona aquática, resultado considerado histórico. Dois anos antes, a brasileira já havia conquistado dois ouros no Sul-Americano de Buenos Aires.
Apesar do início de carreira promissor, Ana Marcela teve de lidar com frustrações olímpicas. Ela não conseguiu se classificar e ficou fora da Olimpíada de Londres-2012. Quatro anos depois, na Rio-2016, a atleta era favorita para subir ao pódio, mas um erro da sua equipe atrapalhou o seu desempenho. Os treinadores deixaram cair no mar a alimentação que a atleta deveria ingerir durante a prova. Sem a força necessária para competir com as adversárias, a soteropolitana encerrou em décimo.
O ciclo para os Jogos Olímpicos de Tóquio foi marcado por um drama pessoal. Em 2016, Ana Marcela descobriu uma doença autoimune que destrói a produção de plaquetas sanguíneas, células responsáveis pelo processo de coagulação. Ela teve de se submeter a uma cirurgia para retirada do baço para manter a produção de plaquetas em um nível saudável, além de evitar complicações futuras. A nadadora faz uso de vacinas e antibióticos para ajudar o sistema imunológico ativo.
A doença foi descoberta depois de Ana Marcela sentir um mal-estar após uma prova em Salvador. Foi verificado que o número de plaquetas da atleta estava em 110 mil, quando o número normal ultrapassa a marca de 200 mil. Ela precisou passar por exames dolorosos, incluindo uma biópsia na medula para avaliar a possibilidade de câncer, e a retirada de 30 frascos de sangue em um único dia. A atleta se recuperou bem, apesar de a causa da doença ser incerta até hoje.
O tão sonhado ouro olímpico veio em 2021, nos Jogos de Tóquio, dois anos após subir ao lugar mais alto do pódio no Pan de Lima. Ana Marcela completou a distância de 10 km em 1h59min30s8, coroando a carreira de uma das maiores nadadoras de águas abertas da história. Desde então, a atleta alcançou o heptacampeonato em Campeonatos Mundiais, e o quinto ouro em Jogos Sul-Americanos. No Pan de Santiago-2023, ela ficou com a prata.
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