PARIS - Apesar de haver competições antes mesmo da cerimônia de abertura, esse é o evento que dá o tom dos Jogos Olímpicos e eleva os ânimos do público na torcida pela medalha de ouro para seu país. No entanto, o que se viu, nesta sexta-feira, foi uma grande decepção. A chuva não pode ser apontada como culpada, porque a execução da ideia não foi afetada de forma determinante e, mesmo sob sol, o evento teria recebido muitas críticas.
A preocupação com a segurança dificultou o acesso do público às arquibancadas populares à beira do rio Sena. A ideia de fazer um desfile em embarcações parecia revolucionária, mas ofuscou os porta-bandeiras e tornou a cerimônia arrastada. As inusitadas interrupções do desfile para performances artísticas pouco inteligíveis tinham como objetivo afastar qualquer morosidade. Como resultado, o público acompanhou a cerimônia de abertura mais pelo telão do que ao vivo.
Quem esteve em uma localização mais privilegiada, no Trocadéro, acabou pagando caro pelo pouco que acompanhou. Costumam ser os ápices das cerimônias de abertura as passagens das delegações e todo o espetáculo que a cidade-sede produz para contar sua história e a do seu país. Mas pouco disso houve em Paris nesta noite. Faltou mais de França. Esses Jogos Olímpicos preferiram apostar nas figuras internacionais, como Lady Gaga, Céline Dion e os atletas Rafael Nadal, Carl Lewis, Nadia Comaneci e Serena Williams.
A organização das Olimpíadas de Paris provou a teoria de que falar e propor é diferente de executar. A cerimônia de abertura desses Jogos serve de exemplo para Los Angeles sobre o que não fazer em 2028, quando abrigará a próxima edição do evento. Usar símbolos importantes e pontos turísticos da cidade seria fantástico se o conceito ficasse restrito a uma área menor, entre a Torre Eiffel e o Trocadéro.
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Uma cidade tão importante global, geopolítica e turisticamente como Paris mostrou uma linda viagem cinematográfica, arte, diversidade, ousadia e caos, explorando as suas belezas extraordinárias, de modo que misturou o histórico, o requinte e o popular, o underground e o erudito, sem grandes recursos tecnológicos.
O espetáculo fugiu do padrão e quebrou o protocolo, mas poderia ter mostrado mais. Faltou energia, vibração e integração com os milhares que foram assistir de perto ao evento, sentados na grama, no chão e, quando houve, em cadeiras. A verdade é que, pela televisão, foi belíssima. Ao vivo, nem tanto. Faltou brilho.
A capa do livro “Jogos Olímpicos 2024″ não convenceu. Pode haver tempo hábil para reverter esse cenário. No entanto, há dúvidas: a cidade é capaz de sediar um evento desse magnitude? Há 100 anos foi, com menos países participantes, atletas e população na capital francesa. Só as próximas semanas poderão responder.
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