Depois da medalha de bronze nos 400 metros com barreiras na Olimpíada de Tóquio, Alison dos Santos já tem uma estratégia definida para continuar com bons resultados em 2022. Durante as provas, a intenção é aproveitar a estatura de 1,92m para diminuir o número de passadas entre as barreiras. Com isso, ele espera correr de forma mais natural e ser mais rápido.
Atualmente, Alison dá 13 passadas entre uma barreira e outra durante as provas. Para 2022, ele pretende reduzir para 12. Isso é possível por causa de sua estatura, um diferencial entre os seus principais competidores. O número de passadas numa prova é padronizado, treinado exaustivamente, não há improviso. Mas ele varia de competidor para competidor, cada um define o seu ritmo de acordo com seu biotipo.
“Antes, eu tinha de 'segurar' um pouco minha corrida para fazer essa quantidade de passadas. Com essa mudança, vou correr bem mais solto, mais próximo do que acontece naturalmente, do jeito que eu correria se não tivesse barreiras”, diz o paulista de 21 anos.
O técnico Felipe de Siqueira afirma que a mudança já vem sendo treinada. "A gente acredita que o Alison possa ser mais rápido na primeira metade da prova. Estamos treinando. Vamos ver o desenvolvimento do Alison para ver se isso vai acontecer. Se acontecer, nós acreditamos que ele possa melhorar o resultado pessoal dele".
Com a mudança, Alison espera ter um ano ainda melhor do que foi em 2021, quando seus resultados “explodiram”. Ele correu oito vezes abaixo dos 48 segundos, quebrando em seis delas o recorde sul-americano. Na final olímpica, o corredor do Esporte Clube Pinheiros cravou 46s72 e se tornou o terceiro mais rápido da história dos 400m com barreiras, superado apenas pelos atletas que ficaram à frente dele: o americano Rai Benjamin (46s17) e o norueguês Karsten Warholm (45s94), dono do novo recorde mundial.
"Essa dupla (Alison e Felipe) está funcionando. O Alison só é o que é por causa do Felipe. E vice-versa. Essa mudança do Alison será inusitada. Teremos os três líderes do ranking mundial correndo de formas diferentes", opina Cleberson Lopes Yamada, especialista em atletismo e técnico dos 400m sobre barreiras nos Jogos do Rio 2016.
Com o bronze, Alison encerrou um jejum de 33 anos sem conquistas nacionais em provas individuais de pista do atletismo brasileiro. As últimas haviam sido o bronze de Robson Caetano, nos 200 m rasos, e a prata de Joaquim Cruz, nos 800 m rasos nos Jogos de Seul, em 1988.
A sequência de bons resultados, especialmente a medalha olímpica, colocou Alison em outro patamar no esporte brasileiro. Eleito pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) como o principal nome do atletismo nacional no ano passado entre os homens, o barreirista será o destaque do projeto Sesc Verão, iniciativa que procura aproximar o público dos ídolos do esporte com dezenas de atividades nas 45 unidades do Sesc em São Paulo. Alison vai participar de uma apresentação esportiva de corrida no Sesc Pompeia, no dia 21.
No dia seguinte, no mesmo evento, o professor Cleberson Lopes Yamada vai explicar as razões do êxito do atletismo no Quênia, principalmente nas provas de fundo. “Gosto disso de conversar e brincar de uma maneira informal e ter esse contato com o público. Isso me cativa bastante”, explica o barreirista.
O evento é apenas um dos exemplos da notoriedade de Piu, como é conhecido. Ele conta que passou a ser notado nas ruas e percebe que sua voz ganhou um peso diferente. “O que eu comentar terá um peso maior e significado pelo feito que conseguimos alcançar. Acho isso importante e necessário. Ganhei influência e nome”, avalia o atleta que nasceu em São Joaquim da Barra (SP).
Outras coisas não mudaram na vida do novo ídolo. Piu decidiu continuar morando no apartamento cedido pelo Esporte Clube Pinheiros, seu clube, em vez de iniciar a compra de um apartamento em São Paulo. Também não quis alugar um imóvel. O prêmio em dinheiro pela conquista do bronze, cerca de R$ 100 mil, que poderia significar o investimento em um imóvel, está guardado.
“Moro com meus colegas de treino. Isso é interessante. Além disso, o aluguel está muito caro. Se eu fosse alugar um apartamento, ele ficaria fechado muito tempo, cerca de seis meses. Eu viajo muito e paro pouco aqui no Brasil. Agora vou parar menos ainda. Seria um desperdício de dinheiro”, conta o atleta, que já tem uma propriedade em seu nome em São Joaquim da Barra.
Piu ainda não definiu os destinos dessas viagens em 2022. O Mundial Indoor, disputado entre 18 e 20 de março, na capital sérvia Belgrado, está praticamente descartado pelo atleta. A ideia é focar nas competições outdoor (céu aberto). Até a próxima Olimpíada, dois Mundiais de Atletismo estão no caminho de Piu. O primeiro será de 15 a 24 de julho, em Eugene, nos Estados Unidos (a competição marcada para 2020 foi adiada por causa da pandemia). Siqueira afirma que este torneio é a prioridade do ano.
"Também devemos participar de algumas etapas da Diamond League para competir diretamente com os principais adversários e acompanhar o desenvolvimento do Alison até o Mundial, fazendo algumas correções técnicas e táticas, se necessário".
Em 2023, o campeonato ocorrerá em agosto, em Budapeste, na Hungria. Em seguida estão os Jogos Pan-Americanos de Santiago, no Chile, a partir de 20 de outubro. “Quero chegar ao final de 2022 mais ou menos como foi em 2021 e dizer 'eu não esperava conseguir correr tudo isso'. Seria incrível", afirma.
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