PUBLICIDADE

Atleta do time de refugiados das Olimpíadas treina há apenas 5 anos e deixou Síria após a guerra

Yahya Al-Ghotany será porta-bandeira, junto da boxeadora Cindy Ngamba

PUBLICIDADE

Foto do author Leonardo Catto
Atualização:

Yahya Al-Ghotany é o filho mais velho de uma família síria de sete filhos. Eles deixaram o país devido à guerra civil que acontece na Síria desde 2011. O destino foi o Campo de Refugiados de Azraq, a Jordânia. Foi lá que ele começou a praticar o taekwondo, há apenas cinco anos. Aos 20 anos, Al-Ghotany será o porta-bandeira da Equipe Olímpica de Refugiados (EOR) na cerimônia de abertura da Olimpíada de Paris-2024.

PUBLICIDADE

São cinco anos desde que o atleta começou a treinar. Hoje, ele é faixa preta, no segundo de dez níveis (dan). Os treinamentos de Al-Ghotany acontecem na Academia Azraq, mantida pela Fundação Humanitária de Taekwondo (FHT). O projeto existe desde 2016 e é a principal frente da fundação.

“Significa muito, para mim, carregar esta bandeira especial para esta equipe única. Na Cerimônia de Abertura, pensarei em todos que me ajudaram na minha jornada – meus amigos, minha família – mas também nas mais de 120 milhões de pessoas ao redor do mundo que, assim como eu, tiveram que fugir de suas casas. Eu represento todos eles”, declarou Al-Ghotany.

Yahya Al Ghotany disputa a primeira Olimpíada, em Paris-2024. Foto: @yahya._63 via Instagram

O Campo de Refugiados de Azraq foi construído especificamente para pessoas que deixaram a Síria a partir de 2014. O local foi desenvolvido e é operado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), junto do governo da Jordânia. A população abrigada superou 35 mil pessoas em 2019. Além de Al-Ghotany, outros 41 atletas alcançaram a faixa preta no projeto desenvolvido pela FHT em Azraq. São quatro treinos por semana, com média de 100 participantes ao todo.

Ao lado de Al-Ghotany, a boxeadora Cindy Ngamba também será porta-bandeira. Ela nasceu em Camarões e, aos 11 anos, mudou para o Reino Unido. “Minha maior esperança é que, nos Jogos Olímpicos deste ano, possamos fazer as pessoas se levantarem e prestarem atenção sobre nossas realidades. Mostrar-lhes do que os refugiados são capazes, porque temos grandes ambições”, falou a lutadora.

Hoje com 25 anos, a pugilista chegou a ser detida em um campo de refugiados em Londres junto do irmão, quando ela tinha 20. Ngamba conseguiu contornar a situação. O retorno a Camarões é questão de vida ou morte para ela, que assumiu ser LGBTQIA+ em 2016. No seu país de origem, ela poderia ser presa por até cinco anos por isso.

“Eu assumi minha sexualidade aos 18, e meu procurador pesquisou sobre meu país e viu que eu poderia ser presa ou morta. Eu não poderia ser mandada de volta”, contou ao jornal britânico Independent.

Publicidade

Em 2023, a lutadora disputou Jogos Europeus de 2023 pelo EOR. Quando ela conseguir o passaporte britânico, porém, será elegível ao time da Grã-Bretanha, inclusive em Olimpíadas. “O time sempre esteve próximo, e eu me sinto parte. Mas, no papel, não sou”, diz.

Ngmba define o ambiente de convívio do boxe como uma segunda família. “Eles são com quem eu passo mias tempo na minha vida, então são minha família, dos boxeadores e treinadores àqueles que trabalham no escritório”, reflete, e conclui: “Isso não quer dizer que não quero representar o time de refugiados, mas me sinto parte do boxe da Grã-Bretanha e eles estão fazendo o melhor para que eu me sinta parte disso, o que eu amo muito”.

Como a Equipe Olímpica de Refugiados é selecionada?

A EOR deste ano conta com 37 atletas de diferentes origens, vivendo em 15 países e competindo em 12 esportes diferentes. O time desta edição é o maior do que em Tóquio-2020 e no Rio-2016.

Os atletas da equipe são selecionados do programa de bolsas para atletas refugiados do Comitê Olímpico Internacional. O COI trabalha com os Comitês Olímpicos Nacionais anfitriões para identificar atletas refugiados que vivem em seus países e que podem ser elegíveis para apoio de bolsas.

PUBLICIDADE

O objetivo é ajudar a participação em treinos não apenas para participar das Olimpíadas, mas também para desenvolver carreiras esportivas. São os casos de Al-Ghotany e Ngmba.

Enquanto a EOR é escolhida pelo COI, as bolsas e a equipe são gerenciadas pela Fundação Olímpica para Refugiados. O status de refugiado dos membros da equipe é verificado pelo ACNUR.

Para Paris 2024, os membros da EOR são acolhidos por 15 confederações nacionais: Áustria, Canadá, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Israel, Itália, Jordânia, Quênia, México, Holanda, Espanha, Suécia, Suíça e EUA. Eles competirão em 12 esportes: atletismo, badminton, boxe, breaking, canoagem, ciclismo, judô, levantamento de peso, luta livre, natação, taekwondo e tiro esportivo.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.