Capitã da seleção peruana de basquete em cadeira de rodas, Carina Torres destacou a evolução do país por causa da competição. "Houve muita melhora, muita inclusão. Esperamos que isso se expanda para os outros estados também. A Vila dos Atletas é o grande exemplo disso. Torcemos para que os Jogos incentivem as autoridades fazerem mais adaptações", disse.
A Vila dos Atletas custou cerca de R$ 300 milhões e fica na periferia de Lima, rodeado de favelas por todos os lados. Um muro pintado com a bandeira de diversos países foi erguido para tentar esconder a pobreza ao redor. A ideia do Comitê Organizador, no entanto, é que essa obra de moradia para os Jogos seja o primeiro passo da transformação no bairro. O governo doará uma porcentagem dos imóveis à pessoas carentes. Outra parte será entregue aos atletas que conquistarem medalhas.
Carina, que estreará no Parapan no sábado, contra o Brasil, espera ser uma das contempladas. "Claro, vamos em busca. Logo de cara temos um adversário difícil que é o Brasil (bronze em Toronto-2015). Mas vamos em busca do prêmio", disse em entrevista ao Estado. Outro atleta que vive esse sonho é Carlos Córdoba, do arremesso de peso classe F63 (amputados membros inferiores).
Finalista no salto em distância nos Jogos Paralímpicos do Rio-2016, ele perdeu a perna esquerda em atentado terrorista quando estava no exército peruano, em 2010. Em 2012 começou no esporte nas provas de pista. "A expectativa para agora é me entregar 100%. É uma batalha a mais que tentarei sair vitorioso."
Sobre a melhoria na infraestrutura, ele tem pensamento semelhante ao de Carina. "Temos muitas instalações novas por causa dos Jogos Pan-Americanos. As obras ajudaram muito as pessoas com incapacidade física", comentou. "Mas é um trabalho muito amplo. Esses jogos estão abrindo os olhos das autoridades de cada cidade. Os Jogos vão ajudar Peru a ser mais inclusivo", disse.
OS OBSTÁCULOS - Estima-se que tenha sido gasto em Lima cerca de R$ 1,2 bilhão em obras para o Pan e Parapan. Na cidade, no entanto, aparentemente não houve grande transformação. O trânsito é caótico e intenso nas principais avenidas o dia inteiro. As sinalizações são confusas. O sinal abre para o pedestre, mas ao mesmo tempo também permite que veículos também sigam em frente. A buzina é um item utilizado a todo momento. O barulho ao caminhar por avenidas da cidade é ensurdecedor.
As calçadas estão sempre cheias. Há filas imensas no transporte público na hora do rush. O céu cinza, a poeira de uma cidade que quase não chove nesse período do ano enche as poucas árvores e as casas de uma poeira cor de terra. Nesse cenário a possibilidade de receber os Jogos Pan-Americanos e Parapan-Americanos surgiu como a salvação da pátria para o povo peruano.
A cidade esteve perto de perder a competição por atraso nas obras. Há dois anos, o governo precisou abrir licitação para outros países a fim de estabelecer parceria para entregar tudo em dia. Houve um acordo com o governo britânico, que auxiliou no término das construções atendendo aos padrões de qualidade que uma competição desse porte exige.
O brasileiro Carlos Henrique Garleti, do tiro esportivo classe SH1, elogiou a estrutura em Lima, mas destacou algumas ressalvas. "É bem legal. A alimentação é muito boa. Só o transporte que está pecando um pouco por causa do trânsito. No Rio havia mais voluntários. O ônibus tinha frequência maior. Aqui é um pouco mais simples. É uma cidade muito mais horizontal. Para chegar ao local de tiro, por exemplo, demora uma hora, uma hora e meia de ônibus. Por mais que tenha batedores, há muito trânsito. Mesmo assim é de tirar o chapéu para o esforço do País", disse.
A Cerimônia de Abertura dos Jogos Parapan-Americanos acontece nesta sexta-feira, às 20h (de Brasília). O Brasil será representado por uma delegação com 337 atletas e tentará se manter pela quarta edição seguida no topo do quadro de medalhas.
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