Qual o ‘segredo’ de LeBron James para chegar aos 40 anos quebrando recordes e em alto nível?

Equipamentos de última geração e devoção às sonecas ajudaram o ala-pivô do Los Angeles Lakers a se tornar o segundo jogador da história a disputar 22 temporadas da NBA

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Foto do author Bruno Accorsi

LeBron James completa 40 anos nesta segunda-feira, 30, e continua obstinado na busca por títulos e recordes. Mais do que o talento incontestável para alcançar esses objetivos, o ala-pivô do Los Angeles Lakers reúne aspectos físicos impressionantes para alguém de sua idade e, por isso, ainda atua em alto nível, embora tenha que tomar cuidados especiais.

A rotina que sempre levou, entre partidas de videogame na hora de descanso, tratamentos e muitas horas de sono, o ajudou a chegar saudável ao quadragésimo aniversário, enquanto disputa a sua 22ª temporada da NBA, feito até então alcançado apenas por Vince Carter.

LeBron James completa 40 anos nesta segunda-feira. Foto: Thearon W. Henderson/Getty Images via AFP

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“Ele sempre se cuidou muito. Para ele, quando uma temporada acaba, não tem muito essa história de férias. Tem férias da cabeça, mas ele está sempre se cuidando, está sempre treinando. Tecnicamente, é claro, ele está sempre muito bem. Quanto mais ele conseguir se manter fisicamente, melhor”, afirma o ex-ala pivô e hoje comentarista da ESPN, Guilherme Giovannoni, que fez carreira no basquete europeu e tem mais de 100 jogos pela seleção brasileira.

Só em 2024, o quatro vezes MVP se tornou o primeiro jogador da NBA a atingir a marca de 40 mil pontos, ainda em fevereiro, e assumiu a liderança do ranking de mais minutos jogados na temporada regular, quando superou, no último dia 19, os 57.446 minutos de Kareem Abdul-Jabbar. Além disso, ultrapassou os 49.737 mil pontos anotados pela lenda brasileira Oscar Schmidt para ser também o maior pontuador da história do basquete mundial. A próxima missão é atingir os 50 mil.

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Depois que bateu o recorde de minutos, na vitória por 113 a 100 do Los Angeles Lakers sobre o Sacramento Kings, o astro americano provocou aqueles que o criticam. “Me disseram que eu era velho e tudo mais... Consegui fazer isso em alto nível por mais de duas décadas. E continuar a me colocar nos livros de recordes neste jogo que eu amo tanto e na melhor liga do mundo é muito legal”, disse.

Para manter o desempenho ao logo dos últimos 20 anos, King James investiu muito dinheiro e dedicou muito de seu tempo livre ao aprimoramento da parte física. Em 2018, o jornalista Alex Kennedy, da ESPN americana, publicou nas redes sociais que LeBron gastava cerca de US$ 1,5 milhão por ano em “cuidados com o corpo”.

Na série documental NBA: 5 em quadra, da Netflix, o ala-pivô quarentão diz ter achado engraçado esse tipo de especulação, mas não nega o valor. “Eu ouvi essa história maluca sobre a quantia que eu gasto com meu corpo por ano. Eu apenas dei risada. É um número que eu não vou divulgar. Acho que o maior investimento é o de tempo”, disse.

‘O mais importante é de graça: dormir bem’

Os gastos não revelados são para manter uma estrutura pessoal com equipamentos de última geração, de forma que ele não seja dependente do Los Angeles Lakers. Preparador físico de LeBron, Mike Mancias já citou em algumas oportunidades os principais procedimentos e métodos utilizados na rotina do astro da NBA:

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  • Crioterapia: o atleta entra em uma cabine de gelo e por lá fica de um a três minutos exposto numa temperatura que pode chegar até 180 graus negativos. O aparelho emite uma névoa de nitrogênio e estimula a cicatrização e recuperação, entre outros resultados terapêuticos, sendo mais eficiente do que a tradicional aplicação de gelo.
  • Red light: a terapia usa luz vermelha de baixo comprimento de onda para aumentar a produção de energia celular, a partir da penetração na pele. Ajuda a acelerar a recuperação muscular, reduzir inflamações e melhorar o desempenho.
  • Câmara hiperbárica: o equipamento é fechado, resistente à pressão e costuma ter formato cilíndrico. É nele que é feita o que se chama de oxigenoterapia hiperbárica. Conforme a Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica (SBMH), o tratamento consiste em respirar, por meio da máscara, oxigênio puro enquanto é submetido a pressão 2 a 3 vezes maior do que a atmosférica.

De acordo com Mancias, contudo, nada é mais importante para a recuperação de LeBron do que os ótimos hábitos de sono mantidos por ele. “Já fizemos de tudo. Mas a coisa mais importante ele consegue de graça, que é dormir bem”, diz o preparador na série da Netflix.

“É inegociável. Não tem como mexer”, acrescenta Savannah James, mulher do astro dos Lakers. “Parece uma criança que começa a fazer bobagem e aprontar quando não tira uma soneca. É como se ele preferisse ouvir: ‘tá bom, vai tirar uma soneca’. Tem de abaixar aquela energia.”

O sono de LeBron ao qual os próximos se referem não é apenas o mais profundo, no período da noite. Ele também costuma tirar a valiosa sesta. Em dias de jogo em casa, em Los Angeles, aproveita uma soneca geralmente do meio-dia às 14 horas.

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“Dormir é a melhor recuperação que você pode ter. É como colocar o celular no carregador. Dormir é assim. Posso fazer isso sempre? Claro que não. Mas tentar dormir o máximo possível é o único jeito de se recuperar totalmente”, diz o jogador.

A soneca é parte de uma longa rotina em dias de jogo. Quando as partidas são em casa, no horário das 19h, LeBron segue os seguintes passos:

  • 8h30 - Chega ao CT
  • 8h45 - Banheira com gelo de 10 a 15 minutos.
  • 9h40 - Treino sozinho na quadra por 20 minutos
  • 11 horas - Treino.
  • 12h - Soneca.
  • 14h30 - Chega à Crypto.com Arena e faz exercícios.
  • 15h15 - Treino sozinho na quadra .
  • 16h - Alongamento e massagem.
  • 18h45 - Aquecimento na quadra, 17 a 20 minutos.
  • 19 horas - Jogo.

Cuidados extras e longevidade na NBA

Mesmo com o excesso de preparação e cuidado, King James está no processo de entender que aos 40 anos precisa controlar a vontade de jogar para não prejudicar sua saúde, ainda mais levando em conta seu histórico de lesões. Em 2024, teve problemas no tornozelo, no pé e na posterior da coxa.

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No início de dezembro, ficou pouco mais de uma semana sem jogar por causa das dores que sente no pé esquerdo. “Se dependesse só de mim, provavelmente eu teria jogado. Teria sido difícil me manter longe disso. Tenho um time e tenho que ouvi-los também. Eles cuidam do meu melhor interesse”, disse, ao voltar na vitória por 116 a 100 sobre o Memphis Grizzlies. .

Como os Lakers não foram às finais da NBA Cup, tiveram apenas dois jogos no período do dia 9 a 18 de dezembro. LeBron ficou fora dessas duas partidas. A ideia do técnico JJ Redick, contudo, não é tomar decisões como essa com frequência e sim encontrar um equilíbrio, “Não necessariamente ele terá menos minutos, mas ações mais curtas para que ele não fique cansado, e instantes mais rápidos no banco. E então ele volta.”

A longevidade de LeBron aponta para uma tendência de jogadores durando cada vez mais na NBA, com capacidade para continuar jogando em alto nível. “A gente está vendo que é uma tendência que os jogadores tenham carreiras cada vez mais longevas. O avanço da medicina esportiva, da tecnologia, faz com que os estudos tragam mais formas de você cuidar cada vez mais do seu corpo. Isso vai fazendo as carreiras ficarem mais longas. Temos o LeBron, claro, mas também tem o Chris Paul com 39, Kevin Durant e Stephen Curry com 36″, diz Giovannoni.

Idade pela idade, King James teria de jogar mais cinco temporadas para se tornar o jogador mais velho da história da temporada regular da NBA. O ranking é composto por Nat Hickey (45 anos e 363 dias; 1948), Kevin Willis (44 anos e 224 dias; 2007), Robert Parish (43 anos e 232 dias; 1997), Vince Carter (43 anos e 45 dias; 2020) e Udonis Haslem (42 anos e 304 dias; 2023).

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Já os nomes mais velhos que disputaram finais são apenas três. Udonis Haslem entrou em quadra aos 42 anos e 363 dias para defender o Miami Heat no jogo 3 contra o Denver Nuggets e roubou o posto que era de Kareem Abdul Jabbar, que tinha 42 anos e 58 dias no duelo entre Lakers e Detroit em 1989. O terceiro mais velho a disputar uma final foi Herb Willians, aos 41 anos e 129 dias, em 1999, durante New York x San Antonio.

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