Como o colecionador mais proeminente do planeta de um tipo muito específico de lembranças do basquete, Andrew Goldberg vasculha a internet e fica o dia inteiro ao telefone. Ele passou seis anos elaborando uma planilha que detalha os itens que estão em sua posse e tem uma rede de informantes do setor que o alertam sempre que encontram algo que possa interessar.
Toda a mágica acontece em vendas de garagem, no eBay e em sótãos empoeirados. “Gosto da caça”, disse Goldberg. “Não sei se alguém pode contestar a alegação de que devo ter a maior coleção de canhotos de ingressos de Michael Jordan do mundo”.
Num momento de crescente interesse por colecionáveis esportivos, Goldberg encontrou um nicho ao perseguir seu objetivo de obter um canhoto de cada jogo da carreira de Jordan. Ele os mantém em envelopes protetores e os armazena em caixas de papelão em sua casa em Palm Beach, Flórida. E não vai parar, disse ele, até que tenha todos os 1.264 canhotos de ingresso. “Seu nível de compromisso é insano”, disse Patrick Powell, fundador do Booger’s Stubs, uma comunidade online para colecionadores de ingressos.
Aos 47 anos, consultor sem fins lucrativos e fã de longa data do Chicago Bulls, Goldberg disse que adora o fato de cada ingresso ter uma história e uma pontuação associada a ele, o fato de cada ingresso ter compartilhado “o mesmo ar” com Jordan por algumas horas e ser um pedaço da história que não pode ser reproduzida. Ele só lamenta que os funcionários responsáveis pela entrada dos torcedores no Boston Garden, antiga casa do Boston Celtics, não tenham exercido seu ofício com mais cuidado.
“Eles não seguiam nem as marcas perfuradas”, disse Goldberg. “Nos anos 1980, eles eram conhecidos por deixar rasgos terríveis nos ingressos. Era simplesmente terrível”.
Como cresceu perto de Chicago, Goldberg sempre foi ligado aos Bulls. Ele teve sorte, disse, porque seu pai, Perry, comprava ingressos para toda a temporada com um grupo de amigos. Sempre que ele acompanhava o pai, o ritual antes do jogo era jantar no Greek Islands, um restaurante não muito longe da arena. E na era pré-Jordan, seu jogador favorito era Artis Gilmore porque ele era alto (Goldberg era alto para sua idade) e porque eles compartilhavam as mesmas iniciais.
Mas a dinâmica em torno da equipe mudou quando Jordan chegou a Chicago como novato em 1984. Ele foi um fenômeno desde o início - e ocorreu a Goldberg que seria bom começar a guardar os canhotos dos ingressos dos jogos dos Bulls a que ele ia. Ele aconselhou seu pai a fazer o mesmo. Já naquela época, Goldberg estava preocupado com a integridade dos canhotos. “Eu falava para ele não dobrar os ingressos”, disse ele.
Parte do sonho de Goldberg estava enraizado no pragmatismo. Ele já era um colecionador ávido de cartões de esportes e histórias em quadrinhos por muitos anos, mas se incomodava com o acúmulo. “Aí pensei: ‘Quer saber? Os ingressos não ocupam muito espaço’”, disse ele. “Mas, como aprendi depois, se você tem muitos ingressos, eles ocupam muito espaço, sim”.
Em pouco tempo, Goldberg decidiu ir fundo e colecionar todos os 1.264 canhotos de ingressos de toda a carreira de Jordan, que é composta por 930 jogos de temporada regular com o Bulls, 142 jogos de temporada regular com o Washington Wizards, 179 jogos de playoffs e 13 participações no All-Star. Goldberg tem 986 canhotos.
Está faltando uma das potenciais jóias de todo o lote: o ingresso da estreia de Jordan na temporada de 1984. Trata-se de um detalhe técnico dos colecionadores de ingressos, mas os Bulls produziram vários tipos de ingressos naquela temporada, disse Goldberg. Havia os vermelhos e azuis para os detentores de ingressos para toda a temporada, havia também uma versão de bilheteria e outra da Ticketron. O bilhete vermelho é o mais procurado, já que vermelho é a cor do time, disse Goldberg, e um deles foi vendido há cerca de dois anos por US $ 33 mil. Desde então, Goldberg não viu outro disponível para compra. Quanto ele estaria disposto a desembolsar para adquirir um ingresso desses?
“Acho que não seria possível dizer uma coisa dessas na mídia impressa e continuar casado”, disse Goldberg, que tem filhos gêmeos de 1 ano com sua esposa, Barbara.
Goldberg ainda pode comprar um bilhete comum de Jordan por cerca de US $ 5 ou US $ 10, disse ele. E, para deixar bem claro, disse ele, seu hobby basicamente se autofinanciou: ele vendeu seus gibis por cerca de US $ 2 mil e agora muitas vezes negocia ou vende ingressos duplicados para preencher as lacunas de sua coleção. (As duplicatas, disse ele, são úteis para fazer negócios com outros colecionadores).
Hoje em dia, o bilhete impresso está se tornando uma relíquia. Embora muitas equipes esportivas ainda os produzam para os detentores de ingressos para a temporada, a oferta diminuiu na era dos ingressos digitais. Agora, a maioria dos torcedores simplesmente tem um código em seus celulares que os seguranças escaneiam quando eles entram na arena.
Quanto à sua coleção, Goldberg descobriu que a publicidade - como a reportagem sobre ele no Midway Minute, uma newsletter sobre esportes de Chicago - às vezes ajuda. Desconhecidos entram em contato com seus ingressos há muito esquecidos para perguntar se eles valem alguma coisa. “Você fica esperando as pessoas saírem da toca”, disse Goldberg, que continua confiante de que concluirá sua coleção. “Só não sei quanto tempo vai demorar”.
Assim que o fizer, ele planeja abordar os dirigentes do Hall da Fama do Basquete e do United Center, a arena onde os Bulls jogam seus jogos em casa, para ver se eles estariam interessados em exibir uma seleção de seus canhotos para o público. “Acho que seria um passeio nostálgico para muita gente”, disse./ Tradução de Renato Prelorentzou.
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