O Brasil terá apenas um representante em quadra na temporada 2022-2023 da NBA, que começa nesta terça-feira. Trata-se do armador Raulzinho Neto, que vai defender o Cleveland Cavaliers após passagem por Utah Jazz, Philadelphia 76ers e Washington Wizards.
Antes de sua oitava temporada na liga americana, o jogador de 30 anos conversou com o Estadão sobre essa diminuição drástica no número de brasileiros na NBA, sobre o papel na equipe do técnico J. B. Bickerstaff, o reencontro com ex-companheiros na nova casa, seleção brasileira, entre outros assuntos.
O que considera que foi fundamental para permanecer tanto tempo na liga?
A minha ética de trabalho. O acreditar e querer melhorar todos os dias. Essas duas situações foram importantes para me manter na liga até este momento.
O Brasil já contou com nove jogadores na NBA... Como é ser agora o único brasileiro em quadra nesta temporada? Há uma explicação?
É sempre um orgulho representar o Brasil. Infelizmente hoje eu sou o único com contrato. Difícil achar uma explicação, não há uma resposta simples para isso. É um momento. Tivemos uma geração muito boa, de muito talento, que é difícil de comparar com Nenê, Leandrinho, Varejão, Splitter, Huertas... Depois vieram Lucas (Bebê) e Felício, que são da mesma idade que eu, e alguns jogadores nos últimos anos. Há uma concorrência enorme todos os anos, com nível cada vez mais alto para entrar na liga, são jovens jogadores que saem das universidades, atletas estrangeiros, a disputa por uma posição em uma equipe da NBA é muito forte. Espero que tenhamos mais jogadores aparecendo, mais jovens em condições de entrar na NBA e representar o nosso pais nos próximos anos.
Por outro lado, fora de quadra, tivemos o crescimento no número de profissionais, inclusive com ex-companheiros seus, como Splitter e Leandrinho, como avalia este movimento?
É legal. Mostra esse outro lado, não apenas de talento físico dentro da quadra, mas o talento de entender o jogo, aportar coisas diferentes fora da quadra para um time da NBA. Espero que cada vez mais termos técnicos vindo com esta experiência e apoio esses jogadores que agora são treinadores.
Após quatro anos no Utah Jazz, você vai para o seu terceiro time em quatro temporadas, como vê isso? Faz parte do negócio?
Sim, faz parte. Outros atletas da NBA também passa por isso. Chega o momento em que o time precisa de coisas diferentes, de jogadores diferentes. Hoje eu sou um cara mais experiente e os times precisam disso. Faz parte do negócio e estou muito feliz aqui em Cleveland.
Como imagina que será o seu papel nesta temporada?
Um papel de liderança, jogar minutos vindo do banco, sabendo que temos o Donovan Mitchell, Darius Garland, Ricky Rubio, quando voltar, na mesma posição do que eu. Então o meu papel é estar preparado para o que o técnico precisar e fazer um bom trabalho quando entrar em quadra.
A torcida tem um carinho imenso por outro brasileiro, o Anderson Varejão, isso pode te ajudar de alguma forma?
O fato da torcida ter tido esse contato, ainda mais com o Varejão, que tem uma história muito legal no Cleveland, com certeza, ajuda. E tendo ele ali na cidade, por perto, também é uma situação que faz ficar mais fácil essa transição para Cleveland.
Coincidentemente você reencontrou dois ex-companheiros de Utah (Ricky Rubio e Donovan Mitchell) em Cleveland, como isso pode ajudar na temporada?
É sempre bom ter jogadores que você atuou junto no passado. Ter caras que você conhece ajuda quando você está indo para um time novo. Além disso, são grandes jogadores e isso não apenas me ajuda, mas ajuda ao time a ter uma qualidade boa.
Qual o objetivo do Cleveland para esta temporada?
É entrar nos playoffs. Imagino que é o objetivo da maioria das equipes antes do início da temporada. Depois, chegando lá, é ir o mais longe possível. A gente sabe que é uma longa caminhada, que muita coisa pode acontecer ao longo da temporada, como lesões. Temos esse objetivo e estamos bem focados para alcançá-lo.
A NBA incorporou o play-in de maneira definitiva ao calendário... O que acha deste formato?
É interessante para o torcedor. Dá um clima competitivo para o final da temporada, algo que não aconteceu em temporadas anteriores, quando os times já começavam a descansar, se preparavam para os playoffs. Mas na cabeça do jogador, em uma equipe que brigou a temporada toda, às vezes com lesões, momentos difíceis, para terminar em uma posição de playoffs e, depois de tudo isso, dos 82 jogos, ainda ter o risco de ficar fora dos playoffs por um ou dois jogos, é difícil.
Como vê esta possível expansão da NBA para mais duas cidades?
A NBA está crescendo muito. Tem torcedores e cidades para isso. Até mais do que duas. Muda a dinâmica do campeonato, tem o aumento das viagens, mas, dependendo da cidade, se for para o crescimento do basquete, da NBA, eu apoio.
Como vê o momento da seleção brasileira? Ainda tem o desejo de fazer parte do grupo para o Mundial se o Brasil se classificar?
Vejo um momento de transição, com jogadores jovens começando a ter mais espaço, se destacando, chamando mais a responsabilidade na seleção brasileira, cada vez mais, mais acostumados a jogar pelo Brasil. Sempre tive desejo de representar o meu país, infelizmente por motivo de contrato ou de lesões, não pude participar algumas vezes, mas é sempre um orgulho poder defender o meu Brasil, é sempre uma vontade e um privilégio poder vestir a camisa amarela.
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