É de praxe descer a lenha no Campeonato Brasileiro porque nossos times, dentre outras mancadas, não perdem a vocação para exportar talentos. Daí falamos em queda de qualidade técnica, nivelamento por baixo, etc. e tal. Não deixa de ser verdade. Mas emoção não falta, mesmo para quem não goste do sistema de pontos corridos. O equilíbrio está numa passada d"olhos na classificação e numa panorâmica no que ocorre em campo. Está lá: termina o turno e vemos que há pelo menos seis times na corrida pela taça. Coisa que, em terra de gente fina e montada no dinheiro, raramente acontece - em geral são dois ou três grandes de sempre que brigam pela hegemonia. Por aqui, é bololô na área, como diriam locutores das antigas.A ausência de supertimes ajuda a entender esse equilíbrio, já com os reparos feitos nas duas primeiras linhas desta crônica. Fluminense e Corinthians servem como exemplos, pois lideram e são (ainda) os principais candidatos. Nenhum manteve linha de desempenho estável a ponto de justificar previsões que lhes davam larga vantagem já ao final da primeira metade da Série A. Teve quem cravou que um dos dois, senão ambos, disparariam, com base na sequência de jogos e no retrospecto.Essa análise seria correta, se houvesse lógica no futebol, e sobretudo se tricolores e alvinegros estivessem muito acima dos demais. E não estão. Ambos têm elencos razoáveis, bons treinadores e se ajustaram com mais rapidez na competição. Em contrapartida, cada um teve seu momento de oscilação, fundamental para entender por que emperrou. A praga atingiu antes o Corinthians, agora pegou o Flu. O time de Muricy nadava de braçada até dez dias atrás. Empatou com São Paulo e Palmeiras, ontem perdeu para o Guarani e neste momento não depende só de si para segurar a ponta - tem 38 pontos, um a mais do que o Corinthians (com um jogo a menos).A perda de pontos é normal num campeonato longo. O que preocupa, no caso do Flu, é a instabilidade. O sistema defensivo, antes seguro, entregou o ouro nessas três rodadas. Conca desequilibrava e passou a ter atuações discretas, Deco largou bem, ao chegar, e empacou, Washington não dá o toque de diferença, embora tenha ajeitado a bola para o gol de Emerson ontem em Campinas. Gol insuficiente para evitar a derrota. O Flu não esgotou seu arsenal, porém são claros os sinais de limitação. Ao contrário do Corinthians, que parece ter reencontrado o caminho do sucesso no embalo das boas notícias da semana do centenário. Iarley vive seu melhor momento no clube, Bruno César se fixa como o arranjador do meio-campo e o sistema defensivo voltou a ajustar-se. Na virada do calendário, é a equipe que chama mais a atenção e está serena, a ponto de nem se preocupar com a ausência de Ronaldo. Técnico e torcedores sabem que o astro terá participações esporádicas.A ameaça para os líderes, até outro dia, se restringia a Inter e Santos, que se ligaram no Brasileiro depois de outras conquistas. Os gaúchos bicampeões da Libertadores têm potencial para incomodar, mas na reta final, em novembro/dezembro, estarão mais interessados na preparação para o Mundial de Clubes. Os santistas viverão momentos de apreensão, com a saída de jogadores decisivos no Paulista e na Copa do Brasil, e com a baixa prolongada de Ganso. A prova foi o empate sem graça com o Fla.O Botafogo está no bloco principal, só que não me parece ter estofo para aguentar o ritmo até o fim. Já o Cruzeiro pode ser o destaque do segundo turno. Os mineiros mostraram ontem, no Pacaembu, grande poder de reação, na virada sobre o Palmeiras. Cuca soube mexer no time e se valeu de eficientes opções de banco, detalhe que vai contar muito.O Palmeiras de novo reafirmou a vocação para coadjuvante: marca passo e tem tudo para fechar outro ano com decepções. O São Paulo se ergue aos poucos. Após a pausa para o título de 2009, o Flamengo voltou à rotina de frequentar a parte baixa da tabela. O fantasma do descenso assusta o Grêmio e muito mais o Atlético-MG.
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