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Olimpíadas 2024: Os detalhes da Vila ‘futurista’ dos atletas em Paris

Caso raro entre as mais de 200 delegações, País optou por símbolos apenas na entrada do prédio na Vila Olímpica; COB diz ser mera questão de escolha da decoração

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Foto do author Marcos Antomil
Foto do author Ricardo Magatti

PARIS - Trata-se de uma tradição decorar os prédios da Vila Olímpica com a bandeira de seu país. Há delegações que preparam algo mais elaborado, outras improvisam, mas comumente as cores do símbolo nacional ou o próprio estandarte cobrem todo o espaço ocupado pelo país. No caso do Time Brasil, nas Olimpíadas de Paris, é diferente.

A bandeira não está nas sacadas, janelas e varandas do edifício. Torna-se difícil encontrar o prédio em que estão os atletas brasileiros pela falta de identificação. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) preferiu um modelo mais simplificado, com uso da mascote na entrada do térreo associado ao nome do País e à frase “manda brasa”. Questionado, o COB afirmou que é apenas uma questão de escolha da decoração.

Prédio da delegação brasileira na Vila Olímpica, em Saint-Denis, não tem bandeiras na janela como fazem outras equipes. Foto: Marcos Antomil/Estadão

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Quem entra na Vila Olímpica, em Saint-Denis, cidade vizinha a Paris, conhecida pela localização do Stade de France - em que o Brasil perdeu a final da Copa do Mundo de 1998 para a França por 3 a 0 - encontra um desenho de cidade futurista, com carros elétricos para o transporte de atletas, prioridade para uso de bicicletas nas ruas, mercado próprio - a preço mais acessível -, fontes de água e muito conforto para os mais de 10 mil competidores. Pouco mais de uma dezena, de diferentes nacionalidades, se sentam em cadeiras de praia diante de um telão ao ar livre para assistir ao jogo entre Brasil e Espanha pelo handebol feminino.

É interessante notar como, na Vila Olímpica, as fronteiras são redesenhadas. O Brasil, por exemplo, é vizinho da Estônia e do Quênia. A delegação brasileira ocupa praticamente cinco dos sete andares do prédio, mas há uma bandeira queniana solitária nas janelas. Os Estados Unidos, país mais forte dos Jogos ao lado da China, está perto do Casaquistão e da Geórgia. Não muito longe dali, está instalada a delegação venezuelana, que divide seu prédio com a Coreia do Sul e os Emirados Árabes Unidos.

A delegação canadense é vizinha de Israel e da Mongólia na Vila Olímpica. Foto: Rebecca Blackwell/AP

Cada prédio tem uma arquitetura diferente. Enquanto o do Brasil remete a um design mais antigo, com tijolos, o da Austrália adota um visual bastante ousado, com um revestimento na cor preta. Apesar da distinção externa, o Comitê Organizador manteve um desenho semelhante nos quartos dos atletas, para não causar prejuízo ou favorecer determinada delegação. Após a realização dos Jogos, a promessa é de que esses apartamentos se tornem moradias sociais, abrigando famílias carentes que vivem na França.

Bicicletas e arquitetura arrojada de alguns prédios chamam a atenção na Vila Olímpica, em Saint-Denis. Foto: Rebecca Blackwell/AP

No prédio brasileiro, os atletas convivem em todos os ambientes. Numa espécie de sala de estar montada no térreo, há sofás e um telão para acompanhar ao vivo o desenrolar das competições. Também existe no local uma preocupação com aspectos relacionados à saúde mental. No quinto andar, à porta dos psicólogos está colada uma folha sulfite com os telefones para agendar sessões com Aline Wolff e Eduardo Cillo.

“O atendimento transcende o espaço da Vila Olímpica, com observações sobre comportamento, humor, foco e concentração, com orientações também aos treinadores. Estamos em um período de consolidação da psicologia esportiva. Os atletas que apoiamos aqui conhecemos de longa data”, explica Cillo. “O aspecto mental faz parte da preparação global deles”, complementa Aline.

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No local, o COB conta com uma academia e um mini laboratório para acompanhamento dos atletas, com exames diários de sangue e urina. Nem todos os competidores usam, mas o ambiente está aberto para todos que sentirem necessidade de complementar sua preparação com os resultados de análises clínicas. As análises são combinadas com cada confederação.

A reportagem do Estadão acompanhou a palestra de boas-vindas a alguns judocas da delegação brasileira, que vão ao tatame a partir de sábado. Entre as instruções estão o respeito ao sono dos colegas e o pedido para que os atletas não mudem de quarto ou fiquem no prédio de outras delegações. Um dos motivos é o atendimento a membros da Wada, agência antidoping, que podem fazer testes ao longo dos Jogos e precisam encontrar o competidor. O COB disponibiliza 18 bicicletas para uso dos atletas dentro da Vila Olímpica, no entanto eles só podem fazê-lo se houver autorização do chefe da equipe.

Se o Brasil optou pela timidez na decoração do prédio quem ganha destaque na Vila Olímpica é Rebeca Andrade. Campeã olímpica na ginástica artística, a brasileira aparece em uma foto que compõe os murais de feitos importantes na história dos Jogos.

Na Vila Olímpica, Rebeca Andrade ganha destaque com foto em mural de feitos memoráveis dos Jogos. Foto: Marcos Antomil/Estadão

Apenas atletas, chefes de equipe, membros do Comitê Organizador, funcionários e voluntários podem frequentar a Vila Olímpica. Ônibus são disponibilizados para levar os atletas a locais de treinamento e sedes de competições. Mas há relatos de atrasos no atendimento das solicitações de transporte. Outra reclamação é com as opções mais restritas de proteína animal no refeitório.

Refeitório na Vila Olímpica atende milhares de pessoas diariamente em Saint-Denis. Foto: Michel Euler/POOL/AFP

Apesar da limitação de acesso à Vila Olímpica, familiares tentam de alguma forma se comunicar com os atletas. Ao lado da primeira sequência de prédios, das delegações de Itália, Espanha, Hungria, Japão e Uruguai, na parte externa da Vila, uma criança grita, em espanhol: “Mãe!”, acompanhada do pai e do irmão ainda mais novo. De repente, sai à janela do edifício espanhol a mãe atleta, que leva bronca: “Por que não atende o telefone?”. Ela diz que não escutou tocar e se prontifica que já descendo para encontrar os filhos e o marido.

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