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Brasileira colheu mexerica em Guaxupé, estudou na Sorbonne e hoje é guia no Museu do Louvre

Helena Ribeiro se mudou para Paris para fazer mestrado, conta a história da Mona Lisa para turistas brasileiros e fala sobre o aumento de visitantes do museu com as Olimpíadas

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Foto do author Ricardo Magatti
Atualização:

PARIS - Quando contava que seu grande sonho era estudar e viver em Paris, a mineira Helena Ribeiro se cansou de ouvir que não seria capaz e foi desencorajada. “Se enxerga” era o que mais ouvia. Formada em Artes Cênicas, ela não deu ouvido à falta de incentivos e está há 13 anos na capital francesa, para onde se mudou para estudar.

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Primeiro, concluiu mestrado em estudos teatrais na Universidade Paris 8. Sua dissertação foi sobre a escultora francesa Camille Claudel. A artista, que ganhou um museu sobre ela em 2017, foi o grande motivo de a mineira de Guaxupé ter ido iniciar uma nova vida na França em 2011. A mudança para a Europa foi bancada em grande parte graças aos pais, que tinham um sítio em Guaxupé onde plantavam e colhiam mexericas e laranjas.

Anos depois, Helena estudou História da Arte na Universidade de Sorbonne (Paris 4). “Era o grande sonho da minha vida”, conta. Mas ela não tinha bolsa de estudos. Então, enquanto estudava em uma das universidades mais prestigiadas do mundo, a brasileira passou a trabalhar fazendo passeios guiados em português nas ruas de Paris para ter uma fonte de renda.

“Eu fazia roteiros em espaços abertos. Qualquer pessoa pode ser guia na rua, não é preciso uma autorização. Comecei a minha vida como guia na rua porque precisava de uma maneira de me manter como estudante em Paris. Sou completamente apaixonada por Paris e eu via os olhos dos turistas brilhando assim que eu mostrava a cidade”, diz.

Helena Ribeiro colhia mexerica e hoje é guia no Louvre Foto: Ricardo Magatti/Estadão

A guia autônoma mostrava aos brasileiros os principais pontos turísticos da Cidade Luz, com roteiros no charmoso bairro de Montmartre, e em outras regiões especialmente turísticas, incluindo o Arco do Triunfo e a Torre Eiffel. No entanto, não podia fazer passeios guiados em museus, castelos e igrejas, já que não tinha autorização.

Foram quatro anos até concluir a graduação e decidir fazer o curso de guia conferencista na Gustavo Eiffel, universidade que leva o nome do engenheiro responsável pela construção da torre mais famosa da França, erguida em 1889. Pegou a credencial no Ministério da Cultura e tornou-se, então, guia credenciada apta a trabalhar nos principais museus da cidade, incluindo o Louvre, a sua paixão.

Louvre, em Paris, é o maior e mais visitando museu do mundo Foto: David Gray/AFP

Um passeio no Louvre

Na visita, Helena passa primeiro pela origem do Louvre, desde o início como fortaleza erguida a mando do rei Filipe II no século XII para proteger a cidade dos ataques dos vikings, menciona a grande reforma sob o reinado de Francisco I com a construção do palácio, que se tornou residência real no século XVI, e a transformação do complexo de edifícios em museu em 1692, quando Luís XIV exigiu a criação de uma galeria de esculturas antigas, até chegar ao espacomo ele é hoje.

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Depois mostra as esculturas gregas, incluindo a Vênus de Milo, e a galeria italiana, onde está, entre centenas de quadros, As Bodas de Caná, pintada pelo renascentista Paolo Veronese. Mas a maioria dos turistas chega ansiosa mesmo para ver a Mona Lisa e ouvir a história da obra pintada por Leonardo Da Vinci há mais de 500 anos.

“Os turistas desconfiam que o quadro não é original”, diz ela. “A pergunta mais feita é: ‘a Mona Lisa é verdadeira?’ Eles acham que é uma cópia e que a verdadeira obra está escondida”.

A ala mais cheia é mesmo a italiana. Ver a Mona Lisa, ou Gioconda, é como se espremer no metrô na hora de pico: quase 30 mil pessoas se acotovelam diante dela todos os dias, como constatou a reportagem. É possível fotografá-la, mas trata-se da única obra da qual não é possível se aproximar. Há um cordão, com seguranças dentro dele, que impedem que os visitantes cheguem tão perto a ponto de tocá-la. Eles se amontoam para tirar uma foto dela ou uma selfie, ainda que de longe.

O lugar está sempre cheio, o fluxo de pessoas é intenso, mas neste verão não está tão atulhado de gente como antes porque muitos franceses evitaram vir a Paris devido às Olimpíadas, motivo pelo qual também vários parisienses deixaram a cidade momentaneamente.

Louvre recebeu 8,9 milhões de visitantes em 2023 e espera aumento desse fluxo em 2024 com as Olimpíadas Foto: Jung Yeon-je/AFP

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A visita, geralmente de duas horas e meia, é concluída com as obras francesas, ainda que, naquele momento, nem todos já estão mais concentrados no passeio. “Já percebi que, depois de verem a Mona Lisa, as pessoas se desconectam na visita e já não ouvem nada”.

Verão no Louvre

Helena diz trabalhar no Louvre cinco vezes por semana durante a alta temporada, no verão, entre junho a agosto. Como o museu fecha às terças, neste dia, se desloca para visitas no Museu d’Orsay, outro importante símbolo cultural de Paris, onde estão obras do impressionista francês Claude Monet e do pós-impressionista holandês Van Gogh. A brasileira também guia turistas dentro do palácio de Versalhes. A maioria de seus clientes contrata seus serviços por meio de seu perfil no Instagram.

“Meu calendário já está quase fechado para setembro”, ressalta ela. A mineira viaja ao Brasil com alguma frequência para ver a família, mas não tem planos de voltar em definitivo. “Amo o Brasil, mas sou apaixonada pelo Louvre e por Paris. O lugar onde eu trabalho me inspira todos os dias”, justifica.

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O Louvre vende cerca de 30 mil ingressos por dia e recebeu 8,9 milhões de visitantes em 2023, o que representou aumento de 14% em relação a 2022. O museu recuperou um público próximo do nível de 2019, antes da pandemia, e espera voltar a ter números iguais ou melhores do que antes da crise sanitária.

O museu abre das 9h às 18h às segundas, terças, quintas, sábados e domingos. Às quartas e sextas, funciona em horário estendido, até as 21h. Só fecha suas portas às terças. O ingresso custa 22 euros (R$ 130 na cotação atual). Mas há gratuidade para uma série de categorias: professores de arte, jornalistas, menores de 18 anos, residentes de países que fazem parte da União Europeia de 18 a 25 anos e pessoas com deficiência, entre outros. A entrada é de graça para todos na primeira sexta-feira de cada mês após as 18h, exceto em julho e agosto.

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