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Cerimônia mais conservadora fechará as sustentáveis e controversas Olimpíadas de Paris

No Stade de France, 80 mil pessoas vão assistir ao evento que encerrará os Jogos Olímpicos, marcados por ações ecológicas, reclamações de atletas e brilho de superestrelas, como Rebeca Andrade, Simone Biles e Teddy Riner

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Foto do author Ricardo Magatti

PARIS - Terminam neste domingo, 9, os Jogos Olímpicos de Paris, megaevento que marcou o retorno do público aos estádios, arenas e ginásios após a pandemia, priorizou a sustentabilidade, emprestou os símbolos mais importantes da capital francesa às competições e não passou ileso a reclamações, críticas e controvérsias. A cerimônia de encerramento começa às 16h (de Brasília) e, diferentemente da abertura, organizada nos arredores do Sena, será tradicional, uma vez que acontece num lugar fechado, o Stade de France, em Saint-Denis.

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A despoluição - ou não - do rio Sena, a qualidade da comida no refeitório da Vila Olímpica, o baixo teor proteico das refeições, as camas de papelão nos quartos, atrasos, e a ausência de cortinas e de aparelhos de ar-condicionado para amenizar o forte calor na capital francesa foram algumas das reclamações de atletas que competiram na 33ª edição da Era Moderna das Olimpíadas.

Para a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, os problemas relatados por torcedores e atletas são pequenos. No geral, ela entende, as coisas transcorreram bem. Segundo a prefeita franco-espanhola, a cidade se transformou e foi possível organizar sem muitos solavancos os Jogos no meio da transformação.

Sustentáveis, harmônicos e controversos, Jogos Olímpicos de Paris terminam neste domingo, com cerimônia no Stade de France Foto: Robert F. Bukaty/AP

“Estive tão imersa em felicidade, alegria, vi as pessoas juntas, vi diversidade. Eu chorei duas semanas quando vi as pessoas compartilhando comigo suas doses de alegria”, disse Anne Hidalgo, absolutamente entusiasmada com os Jogos, em conversa com jornalistas no centro de imprensa montado no centro da cidade. “Esse júbilo vai manter meu coração aquecido por um longo tempo”.

Paris foi transformada para as Olimpíadas e a prefeita se orgulha das mudanças e adaptações às emergência climáticas que fizeram da cidade um espaço mais agradável aos pedestres. Ela cita a criação de novas áreas verdes, a construção de linhas de metrô, as obras de acessibilidade e a melhora da mobilidade urbana, de modo que as viagens de bicicletas (11%) superaram as de carro (4%) e o legado que ficará após os Jogos vai beneficiar a população, ela acredita. " O maior legado é a transformação de nossos distritos”, realça.

Anne Hidalgo fez várias citações à despoluição do Sena como uma herança de que os parisienses poderão desfrutar a partir do verão de 2025. No entanto, não está claro se o rio mais importante do país se tornou balneável. A natação do triatlo e a maratona aquática aconteceram nas águas do Sena, mas não sem adiamento e reclamações de atletas. Além disso, os níveis da bactéria E.Coli estiveram altos em alguns momentos durante os Jogos após dias de chuva.

“O que fizemos agora vai ter um grande impacto em dez anos em Paris como uma cidade turística. Pessoas que reclamam hoje vão reclamar no futuro. É uma longa batalha, mas o impacto é incrível. Fizemos Paris brilhar para o mundo”, avalia a prefeita. Seu cálculo é de que os Jogos custaram 385 milhões de euros (R$ 2,3 bilhões) à França. Os valores reais, porém, ainda não são conhecidos. Devem ser divulgados até 2025, prazo final para o Tribunal de Contas da França publicar o relatório de gastos.

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Anne Hidalgo, prefeita de Paris, próximo à pira olímpica, presa num balão Foto: Joel Saget/AFP

Presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), o alemão Thomas Bach repetiu o discurso paz e amor de Hidalgo. “Os atletas, os franceses e as pessoas ao redor do mundo estão apaixonados pelos Jogos e uns pelos outros. Você pode sentir e ver o entusiasmo compartilhado por todos.”

Nas arenas, ginásios e estádios, alguns candidatos a medalhas do Brasil não confirmaram seu favoritismo, o que não aconteceu com Rebeca Andrade, que se tornou, na capital francesa, a maior medalhista olímpica da história do País. Já a maioria dos astros estrangeiros brilharam como esperado, casos do judoca francês Teddy Riner, da nadadora americana Katie Ledecky, da superestrela da ginástica, Simone Biles, do tenista Novak Djokovic e do time de basquete dos Estados Unidos, o Dream Team, liderado por LeBron James e Stephen Curry.

Dona de quatro medalhas, Rebeca Andrade foi a grande estrela brasileira em Paris Foto: Jack Guez/AFP

Como será a cerimônia de encerramento de Paris-2024?

A mesma equipe artística da cerimônia de abertura, liderada pelo diretor Thomas Jolly, é responsável pelo espetáculo que fecha os Jogos de Paris. Foi essa equipe que chamou Céline Dion para cantar o clássico de Edith Piaf, “L’Hymne à l’Amour”, no meio da Torre Eiffel durante a cerimônia de abertura, há duas semanas.

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Também foi Jolly o responsável por despertar entusiasmo, mas também fortes críticas, com um quadro polêmico, entendido por críticos cristãos e conservadores como uma paródia ofensiva da Última Ceia - verdade, a ideia foi inspsirada em uma pintura holandesa do século XVII dos deuses gregos do Olimpo. A cena apresentou a DJ e produtora Barbara Butch, um ícone LGBTQ+, flanqueada por artistas drag e bailarinos.

“Na abertura tivemos que marcar o tom. Na cerimônia de encerramento, temos que manter o ímpeto e terminar com o mesmo espírito destes Jogos Olímpicos, nesta onda de alegria que nos cerca”, disse à AFP o diretor de cerimônias de Paris-2024, Thierry Reboul. Segundo Jolly, o espetáculo será um “grande afresco visual” e o histórico estádio com 80 mil lugares será transformado em um grande teatro com mais de 2.800m² de palco.

The sun sets behind the Eiffel Tower during play in the women's beach volleyball bronze medal match between Australia and Switzerland, at the 2024 Summer Olympics, Friday, Aug. 9, 2024, in Paris, France. (AP Photo/Louise Delmotte) Foto: Louise Delmotte/AP

O imaginário francês foi apresentado na abertura, diz Reboul. No encerramento, os espectadores verão “os valores do olimpismo em geral”, ele afirma. “Vamos celebrar os valores de compartilhar e da universalidade, mas também a fragilidade do mundo”.

A lista de artistas não foi divulgada oficialmente, mas três grandes nomes vazaram: o ator Tom Cruise, o duo de música eletrônica Air e a banda indie Phoenix. Segundo a revista americana Variety, a cantora americana Billie Eilish, a banda Red Hot Chilli Peppers e o rapper Snoop Dogg vão se apresentar no Stade de France. Há boatos de que outros astros como Taylor Swift e Beyoncé também façam parte do espetáculo.

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Certo é que está prevista a presença de mais de 100 artistas, incluindo dançarinos, acrobatas, artista de circo. A organização promete show de luzes que guiará o público por uma linha do tempo entre passado, presente e futuro.

“Queremos comemorar, mas de forma consciente. Este momento de celebração será também uma oportunidade para refletir sobre a importância dos Jogos Olímpicos na nossa sociedade”, falou Jolly ao site das Olimpíadas.

No fim do evento, a bandeira olímpica de Paris será passada a Los Angeles, com uma sequência protagonizada pelos organizadores americanos dos Jogos de 2028. Serão 15 minutos dedicados à apresentação das próximas Olimpíadas, praxe em toda cerimônia de encerramento.

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