No mesmo dia em que Atlético-MG e Botafogo decidem a Libertadores 2024, em Buenos Aires, a Champions é ocorre em Foz do Iguaçu (PR), a 1,2 km da capital argentina. A taça que será dada na tríplice fronteira Brasil-Argentina-Paraguai é “orelhuda” como a entregue pela Uefa. Entretanto, nada terá a ver com futebol. A Champions Fishing é a competição de 25 equipes de pesca esportiva no rio Paraná em disputa pela pescaria sustentável do tucunaré, espécie mais comum na modalidade.
O campeonato acontece no Lago do Itaipu, formação artificial criada a partir do fechamento das comportas do canal de desvio da Usina Hidrelétrica de Itaipu. O local tem 770 km² pertencentes ao Brasil e 580 km², ao Paraguai. A região é referência em pesca esportiva, na modalidade pesque e solte, pela sua rica fauna aquática.
A semelhança com a Champions League fica no troféu e no nome da competição. Organizador do torneio, Adelir Diniz faz piada ao responder que não há um “Messi da pescaria esportiva”, em referência aos quatro títulos europeus do argentino, todos com o Barcelona. “Aqui só tem Pelé”, brinca, enquanto, conclui, orgulhoso: “Todas as provas são filmadas. É o único campeonato no Brasil filmado 100%. As equipes são filmadas o tempo todo”.
A Champions Fishing segue a regra da chamada “pesca sustentável”. Os 75 participantes utilizam redes, não anzol, e devolvem os peixes após a captura. Entre as 25 equipes, estão cinco classificadas pela 1ª Copa Inverno do Iate Clube Lago de Itaipu e as 20 melhores do ranking de pesca ao tucunaré 2024, também organizado pelo clube a partir da disputa de sete etapas no decorrer deste ano.
O campeão de 2023 é o Designer Fishing Team. Eles estarão novamente na competição, em busca do bicampeonato. “Eu tenho me dedicado há mais de 20 anos pescando no lago. É a maior alegria poder dar a vida do peixe novamente, essa é uma das alegrias que a gente tem ao pegar ele com todo cuidado, medir, fazer a foto... e os torneios têm proporcionado isso”, relata Adriano dos Santos, que compõe a Designer Fishing Team junto de Edivaldo Moreira e Adenilton Diniz.
Adriano vem de uma família amante da pesca e aprendeu a prática com o pai e os avôs. Quando repassa os ensinamentos aos filhos, o pescador faz questão de atentar para a preocupação ambiental, incluindo a devolução do peixe à água. Quando era mais jovem, Adriano viu a pesca do peixe dourado, também chamado de pirajú e tigre de rio, chegar a ser suspensa por ameaça à extinção da espécie.
“Não tinha aquela conscientização. Veio uma parte bacana da Usina Hidrelétrica de Yacyretá, no Paraguai. Quando ela foi criada, foi feita uma lei que proibia a pesca por cinco anos. E foi refeito todo o estoque pesqueiro”, conta.
“Não temos mais aqueles campeonatos de matar o peixe e, sim, soltar. E o lago virou esse palco. A emoção não só está em pegar, mas poder dar a vida novamente para o peixe”, diz Adriano.
A Champions Fishing integra a programação do Foz Internacional Boat Show, evento que funciona como uma vitrine de produtos náuticos para investidores e entusiastas. Segundo a organização, a primeira edição gerou R$ 30 milhões em negócios.
“Pelo segundo ano consecutivo, o Champions Fishing é realizado no Foz Internacional Boat Show para potencializar o turismo náutico na região e também os campeonatos de pesca, unindo esportividade, técnica e preservação ambiental. O evento será realizado em um dos cenários mais deslumbrantes do país e vai atrair pescadores e entusiastas do segmento, além de movimentar a economia local”, comenta Ezequiel de Oliveira, o diretor de Esportes do ICLI.
A pesca esportiva é um mercado sólido. Conforme dados do Ministério do Turismo, houve um crescimento de 20% na movimentação financeira envolvendo a modalidade entre 2019 e 2020, subindo de de R$ 634 milhões para R$ 761 milhões.
O turismo náutico é apontado pelo Ministério como uma potência para o Brasil, que dispõe de 8,5 mil quilômetros de litoral e 34 mil quilômetros de vias navegáveis. No Amazonas, um dos estados mais populares para a pesca, são movimentados cerca de R$ 500 milhões em receita direta e indireta, aponta a Empresa Estadual de Turismo (Amazonastur). Na temporada 2021/2022, os pescadores deixaram R$ 120 milhões no estado. O Paraná, que sedia a Champions, movimentou R$ 1,5 milhão em apenas dois torneios, nos municípios de Marechal Cândido Rondon e Rio Bonito do Iguaçu, no mês de setembro, segundo o governo estadual.
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