Antes mesmo do início dos Jogos de Inverno de Pequim 2022, diversas polêmicas e problemas diplomáticos contra o governo chinês vieram à tona. Dentre eles, o suposto abuso dos direitos humanos, com a existência de campos de concentração na China, fez com que os Estados Unidos não enviassem representantes, além dos atletas, à Olimpíada. Os norte-americanos acusam Pequim de genocídio, citando que mais um milhão de pessoas de minorias étnicas estão detidas no país.
Xinjiang, uma das regiões que recebem os Jogos nesse ano, possui até 12 áreas de detenção, segundo imagens de satélite do Instituto Australiano. Entretanto, o governo chinês quer transformar a área, como um símbolo do novo polo de esportes de inverno.
Esse plano não passa somente por Xinjiang, apesar da região ser o destaque. As autoridades chinesas, organizadores dos Jogos, declararam a intenção de revolucionar a indústria dos esportes de inverno no país, transformando-a em um négocio de mais de US$ 157 bilhões . Além disso, a ideia é de “humanizar” o território.
A região é lar da minoria muçulmana uigur, e grupos de direitos humanos denunciam a China acerca dos abusos contra essa população, em que se acredita que o número de detidos em campos internos e de trabalhos forçados ultrapasse um milhão.
Enquanto isso, meios de comunicação chineses espalham informações sobre o crescimento dos esportes de inverno na região. Através de reportagens com moradores, minorias uigur e jovens se divertindo na neve, a mídia estatal é fundamental para esse plano do governo chinês. A “febre de esqui” fez quadruplicar o número de resorts, com 72 apenas em Xinjiang, desde que os Jogos foram anunciados.
"A política da China de desenvolver os esportes de gelo e neve e promover a saúde da população está beneficiando pessoas de todos os grupos étnicos. Isso mostra que membros de diferentes grupos fazem parte de uma grande família", disse esta semana o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, à imprensa.
Nessa Olimpíada, seis atletas chineses vêm da minoria uigur. Grupos de direitos humanos também temem que a China se utilize de propaganda para glorificar essa minoria étnica, apagando os abusos que ocorrem na região.
"O governo chinês promove o turismo em Xinjiang, transformando a região em uma espécie de Disneylândia onde as pessoas são despojadas de sua identidade e opinião", diz Maya Wang, da Human Rights Watch.
Entretanto, ainda há obstáculos para essa transformação completa de Xinjiang. Apesar de renovada, a região ainda sofre com as questões relativas aos direitos humanos. Especialistas dizem que esse fator pode ser um obstáculo para o país, já que os esportes de inverno são mais populares no ocidente, que tanto criticam a China a respeito do assunto.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.