COI abre os olhos para os eSports e planeja inclusão nos Jogos Olímpicos a partir de 2028

Entidade realizará primeira semana da categoria neste ano, em Cingapura, e ressalta que privilegiará os esportes virtuais que estimulem exercício físico para entrar no programa olímpico

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Foto do author Murillo César Alves
Atualização:

Palco para discussões há anos, os eSports estão mais próximos de entrar no ciclo olímpico do que nunca. Nesta quarta-feira, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anuncia o programa e série de esportes eletrônicos olímpicos em 2023, com nove modalidades. Segundo o próprio COI, essa é uma oportunidade de “expandir os valores olímpicos entre os mais jovens” e incluir os eSports no programa dos Jogos.

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Em apresentação reservada a poucos jornalistas na última semana, Kit McConnell, diretor de eSports, e Vincent Pereira, head de esportes virtuais e games do COI, apresentaram os planos da entidade para 2023 e o eSports Olímpicos Séries 2023. Com início a partir de março, o programa contará com a 1ª Semana Olímpica de eSports em Cingapura na metade de 2023 como palco para as finais, entre 22 e 25 de junho. É a primeira oportunidade, em escala mundial, de incluir os games em uma realidade olímpica.

“Cingapura está no auge da inovação na Ásia e é um forte parceiro do movimento olímpico há muitos anos. Eles organizaram os primeiros Jogos Olímpicos da Juventude, em 2011, e esse relacionamento é um dos motivos que nos levaram à Ásia”, afirma McConnell. Com o apoio do Ministério da Cultura, Comunidade e Juventude, Esportes de Cingapura e o Comitê Olímpico Nacional de Cingapura, o COI encontrou no Sudeste Asiático a possibilidade de iniciar esse crescimento dos eSports dentro dos Jogos Olímpicos.

Kit McConell é CEO de eSsports do COI Foto: Divulgacao/COI

De acordo com o COI, mais de 350 milhões de pessoas ao redor do mundo consomem ou praticam algum esporte eletrônico. Em 2021, quando foi realizado a última série dos eSports olímpicos, mais de 250 mil atletas competiram. Esses números foram impulsionados pelo pandemia da covid-19 e os lockdowns impostos ao redor do mundo. Esportes virtuais, como o ciclismo, se tornaram possibilidades para os atletas manterem o preparo físico durante o isolamento.

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Nesse primeiro momento, serão nove modalidades de eSports: ciclismo, beisebol, dança, caratê, xadrez, automobilismo, vela, tênis e arco e flecha. Todos têm em comum a parceria com federações internacionais e as desenvolvedoras dos jogos - Ubisoft, com o JustDance, é um dos exemplos. “Desenvolver o interesse e o crescimento dos eSports é um dos pilares da nossa agenda olímpica, de 2020 adiante”, explica Pereira.

Confira a lista de eSports, federações e jogos parceiros do COI

  • Arco e Flecha (Federação Mudial de Tiro com Arco, Tic Tac Bow)
  • Beisebol (Confederação Mundial de Softbol de Beisebol, WBSC eBASEBALL™: POWER PROS)
  • Xadrez (Federação Internacional de Xadrez, Chess.com)
  • Ciclismo (UCI WorldTour, Zwift)
  • Vela (Federação Internacional de Vela, Virtual Regatta)
  • Tênis (Federação Internacional de Tênis, Tennis Clash)
  • Dança (World DanceSport Federation, JustDance)
  • Taekwondo (World Taekwondo, Virtual Taekwondo)
  • Automobilismo (FIA, Gran Turismo)

Em uma possível ingresso nos Jogos Olímpicos, o COI ainda prioriza eSports que incentivem a atividade física. Jogos tradicionais, como FIFA, League of Legends e CS:GO, podem participar no futuro dessa série olímpica, mas algumas mudanças seriam necessárias. Em especial, a existência de uma federação internacional que comande a modalidade. “As portas estão aberta a todas as modalidades, desde que reflitam os valores olímpicos e tenham uma federação internacional. O COI está pronto para novas parcerias”, explica Pereira ao Estadão.

Com o cronograma para os Jogos Olímpicos de 2024, em Paris, já definido, os eSports podem aparecer a partir de 2028, quando Los Angeles será a sede da competição. “O caminho para a inclusão das modalidades na Olimpíada está aberto, mas somente para aquelas modalidades que estimulem a prática física”, ressalta o diretor de eSports do COI ao Estadão. Das nove modalidades, apenas o xadrez - que ainda não é considerado um esporte olímpico em sua versão original - não estimula a prática física.

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Além de valores olímpicos, é uma oportunidade de expandir os Jogos para uma nova geração. Ao longo dos últimos anos, a Olimpíada perdeu audiência na televisão e no streaming. Em 2012, 3,6 bilhões de pessoas acompanharam os Jogos de Londres; em 2021, este número caiu para pouco mais de 3 bilhões em Tóquio.

Esportes como o beisebol, em Tóquio, e o street dance, em Paris no próximo ano, têm como objetivo atrair um público jovem ao Jogos. “As Olimpíadas continuam sendo o evento esportivo mais popular do planeta. Estamos construindo um grande sucesso, mas usando novos esportes para alcançar novos públicos. Esse foco é trazer os jovens para o movimento olímpico”, explica McConnell. O mesmo, segundo o COI, deve acontecer com os eSports. mas ainda há um obstáculo: facilitar o acesso à tecnologia, de forma semelhante, nas mais variadas partes do globo.

Simulação virtual da vela será um dos eSports do ciclo olímpico do COI. Foto: COI/Divulgação

Em países classificados pela ONU como desenvolvidos, cerca de 90% da população, em média, está conectada. Já nos países em desenvolvimento, essa taxa cai para 57%. E nos países mais vulneráveis em termos socioeconômicos — os classificados como least developed countries, ou países menos desenvolvidos —, apenas 27% da população tem acesso à internet. É o caso das Nações africanas e da própria Ásia.

Smartphones e investimentos nas escolas

“É uma longa jornada e isso fará parte de nossa estratégia de longo prazo (incluir todos os países no programa)”, afirma McConnell. Um dos planos do COI é de, ao longo dos próximos anos, incentivar o acesso à tecnologia e, consequentemente, aos esportes eletrônicos. Alguns meios, citados pelo diretor do COI, são os smartphones e os investimentos nas escolas.

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“(Os smartphones) podem ser a melhor combinação que podemos ter entre flexibilidade, inclusão e diversidade. E também é por isso que temos jogos para celular, por exemplo, que podem ser muito populares na África, onde o celular é mais acessível do que consoles e equipamentos”, afirma. Para próximas edições da série de eSports olímpicos, as federações já discutem as inclusões desses jogos.

David Lappartient, presidente do Grupo de eSports do COI, afirmou que o movimento olímpico é uma oportunidade de unir o mundo - e os esportes virtuais se enquadram nessa esfera. “O eSports Olímpico Séries 2023 é a continuação disso, com a ambição de criar mais espaços de jogo para jogadores e fãs do campeonato de elite. Estamos ansiosos para testemunhar algumas das melhores competições do mundo, assim como explorar juntos oportunidades e lições compartilhadas – em saúde, bem-estar, treinamento e inovação”, contou.

Igor Fraga

“Ser tratado como um atleta olímpico trará mais peso para a nossa profissão.” Igor Fraga é um dos milhares de atletas de eSports. Aos 22 anos, foi um dos finalistas da série de Gran Turismo em 2021, promovida pelo COI, e competiu na Fórmula 3. Com experiência no “real e no virtual”, o piloto se mostra satisfeito com a atenção que o COI começa a dar aos eSports.

“Entre o real e o virtual, a única diferença é a questão física, porque o atleta de eSports tem o mesmo preparo mental e a dedicação que um piloto, sem contar a pressão.” Nascido no Japão, Fraga iniciou sua carreira no automobilismo ainda no kart, na infância, incentivado por seus pais.

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Em uma competição de Gran Turismo, Fraga conta que realiza uma série de corridas no mesmo dia. “Na preparação, são até 10 horas para atingir o melhor rendimento possível. Geralmente são quatro corridas no mesmo dia, nas quais eu preciso ter a melhor estratégia para cada uma”, afirma ao Estadão.

Igor Fraga disputa nos eSports com o jogo Gran Turismo. Foto: Divulgação/COI

Recentemente, a ministra dos Esportes, Ana Moser, reacendeu a polêmica quanto aos eSports não serem considerados como esportes em seu governo. Para Fraga, essa visão desvaloriza sua própria profissão. “A única diferença entre os esportes é a parte física dos atletas. A gente não tá ‘brincando’ nos eSports, tem muita gente levando a sério e é muito real”, afirma. “Nós analisamos nossos erros a cada corrida, assim como um piloto da Fórmula 1 e se dedica ao máximo.”

Igor Fraga irá competir na série de eSports do COI, que começa nesta quarta-feira. O programa completo e detalhes para os ingressos para a semana olímpica de E-sports Séries 2023, que acontece em Cingapura, serão revelados em abril pelo Comitê Olímpico Internacional.

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