Como a ginástica brasileira deu um salto rumo à glória nos últimos 20 anos

Medalha inédita neste ano consagra trabalho iniciado em 2001; de Atenas-2004 a Paris-2024, Brasil evoluiu esporte feminino por equipes e individualmente;

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Foto do author Murillo César Alves
Atualização:

PARIS - A nota 15.100 de Rebeca Andrade não foi símbolo apenas da primeira medalha da ginástica artística por equipes na história dos Jogos Olímpicos. O salto decisivo, no mesmo aparelho que lhe havia dado o ouro em 2021, nos Jogos de Tóquio, foi a consagração do projeto da ginástica artística brasileira, com um quinteto formado por três gerações de ginastas do País.

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“A vitória coroa o trabalho de muita gente. Quando é um resultado por equipe, todo mundo ganha. É uma caminhada tão longa para você chegar aqui e conseguir um resultado inédito desse”, vibrou Chico Porath, técnico da seleção brasileira de ginástica.

Jade Barbosa é a remanescente da delegação finalista em 2008. Veio dela o salto que iniciou a recuperação do Brasil na quarta rotação; Rebeca Andrade, Flávia Saraiva e Lorrane Oliveira estão no terceiro ciclo olímpico – que conta a ausência da equipe em Tóquio-2020; e Júlia Soares, na primeira participação olímpica e que já disputará a final do solo em Paris. Um ‘Dream Team’ da ginástica.

Ginástica artística brasileira obteve melhor resultado por equipes na história das Olimpíadas. Foto: Ricardo Bufolin/CBG

Em Atenas-2004, o País teve, pela primeira vez, uma delegação completa em Jogos Olímpicos. Fruto de investimentos da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) com a construção do Centro Olímpico no Paraná e a chegada de Oleg Ostapenko, treinador ucraniano que mudou o patamar do esporte no País. O primeiro salto, ao lado de Iryna Ilyashenko, que desde 2008 lidera a seleção brasileira de ginástica.

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“Foi muito longo o caminho (até a medalha por equipes). Eu já estou em minha sexta Olimpíada. Eu sonhava com essa medalha, mas nunca chegava”, disse a ucraniana minutos depois de ver as brasileiras ganharem o bronze na final por equipes. “A Daiane estava perto, a Jade, na época, estava perto, mas nunca chegava nenhuma medalha. E hoje, elas estavam prontas”.

Existe um antes e depois de Oleg, que chegou à comissão permanente da CBG. Até 2004, a ginástica brasileira dependia de desempenhos individuais para estar representada na Olimpíada. Nomes como os de Soraya Carvalho, Luisa Parente e Daniele Hypólito obtinham resultados expressivos nos Jogos Pan-Americanos e conseguiam garantir vagas para a Olimpíada. Depois de Oleg, em apenas um ano (2020), o Brasil não levou uma equipe de ginástica para a disputa.

É a partir de 2004, com Daiane dos Santos – que se emocionou na transmissão da TV Globo após a medalha de bronze em Paris-2024 – que se inicia uma era da ginástica no Brasil. Em Atenas, terminou a classificatória em nono, a uma posição de se classificar à decisão por equipes feminina; quatro anos depois, um oitavo lugar, na decisão inédita da modalidade.

A ginástica artística é polarizada, com predomínio de poucas nações. Desde a Segunda Guerra Mundial, União Soviética e Rússia conquistaram 15 medalhas, Estados Unidos, dez. Membros do Leste Europeu somam 24 pódios, enquanto a Ásia já levou quatro. O Brasil é o primeiro país do hemisfério sul a ganhar uma medalha na prova por equipes – independentemente da colocação.

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Rebeca Andrade é a grande estrela da ginástica brasileira e uma das ginastas mais completas do mundo Foto: Loic Venance/AFP

E isso passa pelo sucesso de Rebeca Andrade, que em Tóquio-2020, mesmo sem a delegação brasileira representada na ginástica artística, conquistou as primeiras duas medalhas do País no feminino, por Jade Barbosa, que aos 33 anos deve ter disputado sua última Olimpíada, e pelos investimentos nos atletas da modalidade.

Iryna assumiu em 2009 o cargo deixado por Oleg após os jogos de Pequim. Partiu dessa comissão a decisão de que as ginastas que compusessem a seleção brasileira treinassem em seus respectivos clubes; 15 anos depois, quatro das cinco medalhistas têm como casa o Flamengo – Júlia Soares, exceção à regra, é treinada pela própria ucraniana no Centro Olímpico, no Paraná.

“Eu lutei muito para estar aqui. Essa final (da trave) para mim foi algo inesperado e fiquei extremamente feliz. Quero ir para muitas outras Olimpíadas, continuar evoluindo”, disse Júlia, após a medalha de bronze. “Tive alguns erros na final por equipes. O apoio que tive das meninas, não só na trave, mas em toda a competição, faz total diferença.”

Jade Barbosa e Chico trabalharam juntos ao longo da evolução da ginástica brasileira. Foto: Loic Venance/AFP

Além de Iryna, outro membro da comissão técnica fundamental nesse salto de qualidade é Chico. Ele auxiliou e descobriu Rebeca Andrade – e se considera um pai para a ginasta. “Eu participei dessa criação, desse desenvolvimento da Rebeca criança, adolescente e agora mulher com uma personalidade forte. São duas emoções, a do treinador e da pessoa que cuida dela”, disse ele em 2021, emocionado com as medalhas da atleta em Tóquio.

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Rebeca, em quase todos os campeonatos, relaciona seu sucesso a Chico”. Estou muito honrada e orgulhosa desse resultado, com meu treinador e minha equipe. A gente lutou muito para que eu me sentisse pronta quando as coisas acontecessem”, comentou ela em entrevista ao Olympics.com.

O resultado por equipes foi seguido pela prata de Rebeca no individual geral. A quarta medalha olímpica da sua carreira, a transformou na atleta brasileira com o maior número de medalhas na história das Olimpíadas, superando Fofão, do vôlei, e Mayra Aguiar, do judô. Quatro pódios em três anos, em uma modalidade que não tinha nenhuma medalha na categoria feminina antes de Tóquio-2020.

O Brasil ainda terá representantes na final do salto, trave e solo. De quatro, o número de medalhas pode chegar a oito, no cenário perfeito, antes do final de Paris. Na terceira Olimpíada, Rebeca mesmo não confirma se disputará todas as provas, na mesma intensidade que chegou para o ciclo olímpico em 2024. Em Los Angeles-2028, anunciou sua ‘aposentadoria’ do individual geral.

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