A Secretaria de Esportes de São Paulo terá pela primeira vez na história uma mulher no comando. Trata-se da Coronel Helena Reis, de 52 anos, escolhida pelo governador Tarcísio de Freitas para chefiar a pasta. Natural de São José do Rio Preto, ela fez carreira na Polícia Militar, ocupando o cargo de secretária-chefe da Casa Militar e sendo responsável pela Coordenadoria Estadual da Defesa Civil, em 2017. Em entrevista exclusiva para o Estadão, a secretária, que está assumindo pela primeira vez uma colocação política, revela que visa a criação de um programa voltado para modalidades olímpicas em parceria com instituições de ensino, além de abordar temas como a Lei de Incentivo e parcerias com a iniciativa privada.
Filiada ao mesmo partido de Tarcísio, o Republicanos, Helena Reis concorreu à Prefeitura de Rio Preto em 2020 e no ano passado se candidatou a deputada estadual, mas acabou não se elegendo em ambas as ocasiões. Torcedora do São Paulo, a secretária afirma que sempre foi uma entusiasta do esporte e que os seus 31 anos de carreira na segurança lhe fizeram enxergar na prática esportiva um instrumento importante para tirar jovens e crianças de situações de vulnerabilidade, e que também tem interferência em diversas áreas da administração pública.
“Enxergo que a ausência de políticas públicas de base acaba redundando uma série de problemas que a gente enfrenta na ponta da linha”, diz a secretária. “É por meio do investimento no esporte que se previne diversas situações. É mais barato do que gastar mais com a Fundação Casa, com procedimentos de saúde ou questões que interferem no rendimento escolar. Nos Estados Unidos, por exemplo, o esporte tem esse papel fundamental e acaba sendo determinante na vida de muitos jovens. Gostaria de ter essa visão no Brasil também.”
Ao comentar as prioridades da pasta, Helena revela que sua equipe está elaborando um programa provisoriamente batizado de São Paulo Olímpico. A ideia é firmar uma parceria com a pasta da Educação para a criação do currículo estadual do esporte, visando uma padronização da metodologia de ensino nas escolas, com “orientações importantes” aos educadores. “O que a gente observa é que cada município faz (o currículo) de um jeito diferente”, aponta. “Estamos trabalhando com parceiros da CBF e da USP na construção desse currículo, para tornar mais eficiente o dinheiro que é gasto com o Esporte, além de motivar os professores de Educação Física e trazer a família para esse contexto.”
Neste primeiro momento, não é difícil fazer um paralelo entre o posicionamento da secretária com a da ministra Ana Moser, que defendeu em sua posse a democratização da prática esportiva por meio de uma rede com centros e instituições alinhados ao desenvolvimento de atividades motoras. Por outro lado, Helena Reis tem uma visão diferente com relação aos eSports. Na última semana, a ex-jogadora de vôlei causou polêmica ao afirmar que os esportes eletrônicos não deveriam ser encaixados nos projetos da pasta porque trata-se de entretenimento.
Em 2021, na gestão do ex-governador João Doria, foi lançado o programa Game SP, com um investimento de R$ 20 milhões no setor de jogos digitais. Helena Reis acredita que o setor esteja apto para receber incentivo. “Fazemos parte de uma gestão que está primando pela questão de desenvolver tecnologias a serviço da população e a gente não pode simplesmente excluir o eSport por conta de haver opiniões divergentes sobre a classificação técnica dele como esporte ou entretenimento. Acredito que se enquadra perfeitamente dentro da pauta que nós da Secretaria pensamos para a população.”
ORÇAMENTO, LEI DE INCENTIVO E IBIRAPUERA
Às vésperas da virada do ano, o governo de São Paulo sancionou o orçamento para o ano de 2023 no valor de R$ 317 bilhões, 10,7% maior que o enviado em 2022. Para o ano, a Secretaria de Esportes vai dispor de R$ 365 milhões, valor superior aos R$ 282 milhões destinados ao exercício de 2022, mas que corresponde somente a 0,1% do montante. Helena Reis coloca como objetivo elevar o status da pasta pela sua importância na aplicação de políticas públicas e suplementar o orçamento por meio da formulação do novo Plano Plurianual (PPA).
A secretária Helena Reis diz que pretende trabalhar para desburocratizar os repasses da Lei de Incentivo ao Esporte para atrair mais parceiros da iniciativa privada. Ela ressalta, no entanto, a necessidade de que todos os projetos abraçados pela pasta tenham um sistema de metas de avaliação para que seja decidido a continuidade ou não de cada programa. “Temos projetos muito bons distribuídos em todas as modalidades, em todas as faixas etárias, pelo Estado de São Paulo, e a gente não consegue atender a demanda de projetos que são apresentados.”
Tanto durante a campanha quanto esteve à frente do Ministério da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas se demonstrou um entusiasta das privatizações como uma das formas de equacionar problemas orçamentários. Foi nesta toada que o governo de João Doria deu a concessão do Parque do Ibirapuera à Urbia, empresa do Grupo Construcap. O Ginásio do Ibirapuera, no entanto, segue nas mãos da administração pública depois de o Conjunto Esportivo Constâncio Vaz Guimarães ter sido tombado pelo Iphan. Helena Reis afirma que o local precisa de uma intervenção e estuda parcerias para as reformas.
“A gente ainda precisa sentar e estudar o que que vai ser feito com o Ginásio do Ibirapuera, mas nós vamos levar o nosso projeto ao secretário de parcerias. Vamos conversar com outros segmentos para ver a melhor solução que, claro, venha ao encontro dos interesses da população. É uma das nossas prioridades esta definição”, diz.
Helena Reis recebeu a reportagem no Complexo Esportivo Baby Barioni, na Água Branca. O local foi entregue à nova gestão totalmente reformado, com a restauração da piscina coberta, implantação do edifício de lutas, duas novas quadras poliesportivas cobertas, além de uma pista de skate. Ainda não há definição se o local será entregue para concessão ou ficará sob gerência do Estado.
PARADESPORTO
Ao passear pelas instalações do complexo Baby Barioni, nota-se que as obras para a modernização do local atende às necessidades de pessoas com deficiência, com todas as suas dependências tendo acessibilidade. Em seu plano de governo, Tarcísio sugeriu a ampliação da rede de educação física paradesportiva nas escolas estaduais, além da promoção de competições escolares para alunos com deficiência.
Mostrando alinhamento com as propostas do governador, Helena Reis afirma que sua equipe irá investir em um programa de capacitação para formar profissionais especializados no ensino do paradesporto. “Quando falo do São Paulo Olímpico, na verdade ele também tem esse braço. Muitas vezes o professor é formado, mas não tem esse olhar do paradesporto no trabalho de pessoas com deficiência. Vamos focar isso também no Currículo Estadual do Esporte.
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