Se tem uma coisa que maratonista brasileiro ama, essa coisa se chama DESAFIO. Vimos Hugo Farias correr uma maratona por dia durante um ano e entrar para o Guinness Book, e agora Lívia Slaviero está seguindo os passos dele. A gaúcha de 34 anos realmente foi impactada por ele para criar o projeto 52 Maratonas, que começou em janeiro e está para se encerrar em 17 de novembro. O propósito é arrecadar fundos para doar material escolar para as crianças gaúchas. Ainda dá tempo de contribuir, basta fazer sua doação de R$ 199,90 aqui.
"Resolvi fazer o projeto no dia que eu estava correndo a prova de trilha na cidade de Santo Antônio da Patrulha. É uma cidade aqui próxima conhecida como a terra da rapadura", explica. Na subida da corrida, ela começou a sentir uma conexão com o pai, que já faleceu. Ela decidiu o perdoar, colocar um ponto final em uma história permeada por muita violência. "Ali eu pensei que tinha que usar a corrida como uma ferramenta para colocar um ponto final nisso, e como já conhecia a história do Hugo Farias, resolvi fazer um projeto também com um propósito", conta. De início, ela pensou em correr 21 meias, mas o marido dela achou que seria fácil, e ela decidiu por 52 maratonas em 52 semanas, para sair totalmente da zona de conforto. E no dia 6 de Agosto de 2023 surgiu esse projeto, que se iniciou em janeiro e vai ser finalizado na 4ª Maratona Internacional de Xangri-lá, na praia gaúcha de mesmo nome, em 17 de novembro. E vai ser aquela festa.
Na infância, Lívia teve privações financeiras e por isso o objetivo do projeto é doar para as crianças material escolar. "Cada pessoa que fizer a doação vai receber uma medalha, e pode correr onde quiser e quando quiser pensando no projeto. Todo o valor doado vai se transformar em um kit material escolar completo, com mochila de marca boa e tudo que uma criança precisa para começar o ano letivo de 2025", explica. O projeto também contempla um livro, que está sendo escrito por ela, e as fotos dos doadores serão colocadas também.
PAIXÃO PELO MOVIMENTO
Lívia é educadora física, treinadora de corrida de rua, nutricionista esportiva e empreendedora. "Sou apaixonada pelo movimento", afirma ela que é especializada em treinamento funcional, corrida de rua e emagrecimento. Ela é casada, tem um filha de 7 anos e é tutora de quatro cachorros. Descendente de italianos e indígenas, Lívia não nasceu em berço de ouro, e aprendeu logo cedo a dar valor a cada uma das conquistas.
A corrida sempre foi uma de suas brincadeiras preferidas da infância. Ela era muito inquieta e sempre fazia tudo literalmente correndo. Até para o mercado comprar pão ela ia é correndo. Na adolescência os pais dela se separaram e ela, muito magra, sofria calada o bullying dos colegas. "Cheguei a pesar 38 kg com 17 anos", lembra. Depois engordou muito, o pai foi diagnosticado com câncer de próstata e ela viu o ponteiro da balança bater os 90kg. Conseguiu se graduar em Educação Física e foi atrás do estágio com uma cartinha na mão. "Em 2008, a convite do dono da academia que fui fazer o estágio, pude fazer um acompanhamento nutricional. Era preciso emagrecer para vender uma imagem saudável e isso foi fundamental para o tratamento da minha depressão", revela.
No final de 2008, ela teve a oportunidade de fazer um estágio em uma escola de educação física no Rio de Janeiro. "Foi a primeira vez que entrei numa pista de atletismo. Ali percebi que a corrida era fundamental para a minha vida. E pretendo que ela fique comigo até o último dia da minha vida", promete. E em 2014, ela se tornou maratonista amadora, mas foram 42km muito sofridos, chegou destruída.
Em 2016, no mesmo dia que ela entrou em trabalho de parto, o pai dela faleceu. "Foi muito difícil. E tive depressão pós-parto", revela. E mais uma vez, a corrida resgatou para Lívia sua saúde mental. Dois anos depois, ao ver suas fotos na praia, decidiu que tinha que cuidar melhor de seu corpo. Marcou a nutricionista no dia 4 de janeiro de 2018 e decidiu se preparar para a segunda maratona, a de Porto Alegre, em junho do ano seguinte. "Terminei empurrando minha filha no carrinho", lembra.
Durante a pandemia descobriu que sua praia eram as longas distâncias. Entrou para as ultras. E como ela é treinadora, ela se auto treina. "Sei o que que funciona para mim, eu já estou com 48 maratonas quase terminando a 52 e não tive nenhuma lesão nem mesmo um resfriado. Meu lema é devagar e sempre", observa.
A pior parte foram as enchentes no Rio Grande do Sul. Por sorte a casa dela é no alto, e não inundou, mas todos ficaram sem água e luz. Mesmo assim, ela correu os 42.195m procurando ruas não alagadas. "Eu estava correndo na Avenida Ipiranga e os caminhões e as carretas chegando. Muita gente perdeu tudo. Nossa, eu comecei a chorar no meio da maratona", lembra.
E Lívia não vai parar por aí, já está planejando o próximo desafio. "Vou atravessar o Rio Grande do Sul percorrendo 1.064 km em 23 dias, são quase 47 Km por dia correndo. Estou finalizando este projeto e vou buscar patrocínio de R$ 144 mil", destaca. E tem mais um já geminando: ela deseja ser a primeira mulher no Guinness Book a correr 130 maratonas - o recorde atual é 129. "Minha proposta de vida é ajudar a fazer diferença na vida das pessoas, então que Deus me permita continuar ajudando", conclui.
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