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O dia em que o atletismo ocupou o lugar do futebol

Paris 1924: Confira os bastidores da delegação olímpica brasileira

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Foto do author Silvia Herrera

Em 25 de março de 1924, a Confederação Brasileira de Desportos, a CBF da época,  desistia oficialmente de levar o futebol à Olimpíada de Paris por falta de recursos. O governo havia prometido 350 contos de réis, mas a verba não foi liberada. A Secretaria da Associação Paulista de Sports Athleticos (APSA) publicou nota oficial sobre o ocorrido. Para que uma delegação brasileira fosse aos Jogos Olímpicos, a recém-criada Federação Paulista de Atletismo (FPA), fundada em 30 de janeiro de 1924, e o jornal O Estado de São Paulo se uniram. FPA organizou a equipe, e o Estadão viabilizou os recursos, contribuindo e fazendo ampla divulgação da vaquinha. Conseguiram concretizar o sonho, com uma delegação olímpica formada praticamente por atletas paulistas do atletismo. Essa façanha é um dos capítulos do livro do centenário da FPA, que está sendo escrito pelo historiador Diano Massarani e que será lançado no segundo semestre.

Acervo: UFRGS  

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O editor de esportes do Estadão, Américo Netto, teve papel fundamental nessa luta contra o relógio. Para ele, o atletismo era um dogma. Netto foi para Paris como chefe da delegação brasileira  e cobriu os Jogos para o jornal.

"A fundação da FPA não significa o início do atletismo em São Paulo, que já tinha competição oficial organizada desde 1918, a Volta de São Paulo, que era organizada pelo jornal O Estado de São Paulo, através de Júlio de Mesquita Filho, e que depois foi batizada de Estadinho", conta Diano. "A Corrida do Estadinho é um grande marco do início do Atletismo em São Paulo. É anterior a outros marcos como a própria fundação da FPA e a São Silvestre", acrescenta.

Quando aFPA assumiu a missão e luta para enviar uma delegação olímpica de atletismo a Paris, o Estadão divulgou a criação de uma espécie de vaquinha, uma lista de subscrição, para poder arrecadar fundos. "Essa lista foi assinada por veículos de comunicação, por estabelecimentos comerciais, pelas próprias agremiações, por personalidades da sociedade paulista, umas mais ligadas ao esporte do que outras, mas todas inclinadas ao mecenato e querendo participar de alguma forma. E conseguem arrecadar o valor", resume o historiador.

Ajuda começou a vir de todos os lados. Os calções dos uniformes foram doados pela Casa Fuchs, a Casa Pratt emprestou uma máquina de escrever portátil e a representante em São Paulo da companhia Lloyd Real Hollandez, a Sociedade Anonyma Martinelli, deu descontos nas passagens da delegação brasileira para a França. E um grupo de mulheres se prontificou a fabricar uma bandeira nacional para ser carregada no desfile de abertura dos Jogos. O tempo urgia, e a FPA foi obrigada a apressar a formação da delegação brasileira. Dizia-se até que a aprovação da inscrição do Brasil pelo COI foi feita tão em cima da hora que novos programas atléticos precisaram ser impressos.

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 Foto: Acervo Estadão

A delegação olímpica brasileira embarcou em 28 maio de 1924, no vapor Orania com destino a Paris composta pelo chefe Américo Netto, o treinador A. J. Hogarty, e os atletas Alfredo Gomes, Alvaro Ribeiro, Narciso Costa, Eurico de Freitas, José Galimberti, Octavio Zani, Willy Seewald e Alberto Byington, que também exercia a função de secretário. Além deles, foram mais três com recursos próprios - os irmãos remadores Carlos e Edmundo Castello Branco, do Rio de Janeiro, e o atirador José Macedo.A melhor posição do Brasil foi um 11º lugar, no salto com vara, comEurico de Freitas. "Em números, a menor delegação olímpica brasileira de todos os tempos. Em importância histórica, um grupo de valor inestimável, porque ao mesmo tempo que simbolizava o passado recente de luta pela fundação da FPA, mirava um futuro promissor ao dar a primeira demonstração sólida de que o Atletismo seria capaz de viver por suas próprias forças no Brasil", avalia Diano.

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