PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Provas de rua de A a Z

Tinha um muro na Maratona de Nova York

Daniel Nascimento liderava a prova quando quebrou no km 30

PUBLICIDADE

Foto do author Silvia Herrera
Atualização:

A vitória escorreu das mãos de Daniel Nascimento, o melhor maratonista não africano da temporada, na Maratona de Nova York no domingo, 6 de novembro. Ele estava muito bem-preparado, assumiu a liderança no começo e voou, fez a milha (1,6km) mais rápida da competição - em 4 minutos e 20 segundos. Vestia um traje rosa muito bonito, tênis adida Adios Pro 3 no pé, cabelos descoloridos, todo estiloso. E tinha tudo até para bater o recorde dessa maratona (42km), mas ele "bateu no muro", quebrou. Pode ter sido o calor, falta de combustível (glicogênio) ou algo que ele comeu e deu ruim. Nosso Danielzinho cambaleou e logo foi chão. Ali, a corrida acabou para ele.

Daniel Nascimento liderou a Maratona de Nova York até mais da metade, isolado (reprodução de vídeo)  

Alguns comentaristas disseram que talvez nosso atleta tenha se desidratado por causa do calor. Normalmente a largada dessa maratona tem temperaturas entre 10ºC e 13ºC. Estava 22ºC na largada, foi a edição mais quente de toda a história da Maratona de Nova York! E vamos combinar que novembro em Nova York costuma ser frio, pelos menos costumava.

Os quenianos Sharon Lokedi (2:23:23) e Evans Chebet (2:08:41) venceram a Maratona de Nova York 2022  

PUBLICIDADE

Danielzinho treina no Quênia, e os campeões são desse país africano: Evans Chebet (2:08:41) e Sharon Lokedi (2:23:23). "Foi maravilhoso, eu treinei muito, sabia da minha força, mas não esperava vencer", declarou a campeã que estreou nas maratonas com vitória.  Já Chebet, que ultrapassou Danielzinho caído no chão, considerou a prova muito dura. "A corrida foi difícil para mim, mas estou muito agradecido ao meu treinador. Meu time me deu a motivação necessária, e eu sabia, que depois de ter vencido Boston, eu poderia vir aqui e também fazer bonito", afirmou o queniano, que com este feito é o oitavo atleta a vencer Boston e NYC no mesmo ano.  Esta edição de 2022 marcou o retorno da Maratona de Nova York com capacidade total - 50 mil pessoas, das quais 47,839 concluíram a maratona, reunindo corredores de 131 países.

Publicidade

Após a maratona, na segunda-feira, Danielzinho postou esta mensagem no Instagram: "Pessoal, primeiramente gostaria de tranquilizar a todos vocês que torcem por mim e acompanham meu trabalho. Estou bem! Fui prontamente atendido pela equipe médica da prova e podem ficar tranquilos que estou recuperado. Infelizmente tem dias que as coisas não saem como a gente planeja e gostaria. Foram mais de 5 meses de trabalho e preparação para a "major" em Nova Iorque e, após uma boa primeira metade, acabei não resistindo na parte final da prova. Mais uma experiência, novos aprendizados, e a certeza de que seguirei trabalhando ainda mais para representar o Brasil sempre dando o meu melhor."

Mas o que ocorre para um maratonista bater no muro? O médico nutrólogo Eduardo Rauen (Instituto Rauen) explica que temos no organismo uma quantidade limitada de reserva de glicogênio, que é em torno de 550 gramas. "Um atleta rápido gasta em torno de 200 gramas de glicogênio por hora e ele precisa de uma estratégia de reposição. Um atleta desse não quebraria por desidratação ou pela temperatura, mas pela falta do combustível, no caso, o glicogênio. Tudo indica que houve uma falha na estratégia de reposição do glicogênio", explica o médico. Ele acrescenta que há duas maneiras para se fazer essa reposição para correr uma maratona: na semana anterior e durante a prova. E essa reposição é individualizada. Rauen estabelece essa estratégia levando em conta o exame ergoespirométrico, com o atleta no pace que vai fazer na prova. "Dessa forma diminuímos a chance de um atleta quebrar na maratona", finaliza.

O treinador Nelson Evencio está em Nova York e acompanhou a prova de perto. Ele encontrou com o Danielzinho na chegada a Nova York, pegaram o mesmo Uber até o hotel.  "Domingo estava realmente quente, mas acho que Daniel comeu algo que não fez bem, e por isso passou mal", acredita.

E como diz uma amiga minha, se correr maratona fosse saudável, o primeiro maratonista do mundo não teria morrido. Brincadeira a parte, desejamos ao Danielzinho um pronto restabelecimento. E que venha a São Silvestre, prova que ele deve ser confirmado em breve.

 

Publicidade

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.