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Provas de rua de A a Z

Vitória Rosa, a mulher mais rápida da América do Sul

A velocista concedeu entrevista exclusiva para o Blog Corrida para Todos

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Foto do author Silvia Herrera
Atualização:

Linda, sorridente, maravilhosa e rápida, muito rápida. Descoberta jogando handebol na escola, Vitória Rosa (Esporte Clube Pinheiros e Puma) era tão mais veloz que todas que a professora de Educação Física a levou para o atletismo, para corrida com barreiras. Essa migração já lhe valeu uma oportunidade de ouro na vida, fazer a 5ª série em uma escola particular. Depois ela migrou para as provas rápidas. Encaixou passadas sublimes e começou a se destacar. Este ano foram dois recordes sul-americanos - 60 metros indoor e 200 metros rasos.

Vitória Rosa aos 26 anos se prepara para conquistar a vaga para a terceira olimpíada  

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A conheci no evento de apresentação da nova marca patrocinadora da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), a Puma, onde batemos um longo papo. Mas o gravador quebrou - perdi uma hora de entrevista, ossos do ofício. Ela, aos 26 anos, estava prestes a embarcar para o Oregon, nos Estados Unidos, para competir no mundial. E foi nessa competição que ela estabeleceu a nova marca sul-americana para os 200 m - 22.47! O recorde brasileiro anterior - 22:48 - era da velocista Ana Claudia Lemos, estabelecido em 2011. E o recorde mundial é de 21:34 (Florence Griffith-Joyner - Seul 1988).

Vale lembrar, que no Troféu Brasil deste ano, Vitória ganhou três ouros: 100 m, 200 m e revezamento 4x100m. Nesta quinta-feira, 3 de novembro, finalmente, consegui fechar uma nova entrevista com a atleta, que está curtindo merecidas férias no Rio de Janeiro. Ela treina no NAR (Núcleo de Alto Rendimento) na zona sul paulistana.

Como o esporte entrou na sua vida, foi influência materna?

Vitória Rosa - Minha mãe, Rosa, foi atleta. Minhas duas irmãs mais velhas também passaram pelo atletismo, assim como as minhas três irmãs mais novas. Mas no momento só eu estou no alto rendimento. Vim do handebol, me destaquei na Educação Física do colégio, e a professora de Educação Física me levou para treinar atletismo.  Eu era bem nova, e fiquei fazendo as duas modalidades. Mas surgiu uma oportunidade de uma bolsa de estudos, no Santa Mônica, uma ótima escola particular, se eu focasse no atletismo. E foi o que fiz, entrei na 5ª série do Fundamental no Santa Mônica e troquei de treinador, que me colocou nos 80 m com barreira. Mas não gostava dessa modalidade, só curtia fazer a técnica dessa prova. Fui me destacando e pedi para fazer os 250 m, fui insistindo. Até que um dia, finalmente me inscreveram na prova dos 250 m. Fui lá e venci, e nunca mais saí da velocidade. Me descobri nessa prova, por isso não é à toa que sou uma das melhores nos 200 metros rasos. Sou a mais nova recordista dos 200 m no Brasil. É igual amor de mãe, não sei explicar, só sinto e aplico na pista.

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Seus cabelos, sempre maravilhosos, são sua marca registrada. Cada prova, você está com um penteado diferente. Como faz para preparar as madeixas nas provas?

Vitória Rosa - Teve uma vez que coloquei um cabelo até os joelhos, todo colorido (risos). Eu, sozinha, consigo fazer as tranças embutidas para treinar. De cabelos soltos não consigo treinar, mas no recorde dos 200 m fui com os cabelos lisos e soltos. O cabelo pesa um pouco. Se a competição for longe, com viagens, preparo o cabelo uma semana antes. Quando a competição é em São Paulo, ou cidades próximas no Brasil mesmo, faço um ou dois dias antes. Quando estou no Rio, minhas irmãs trançam meu cabelo, quando estou em São Paulo, conto com a ajuda de uma outra atleta, minha colega.

A Puma lançou a campanha #SheMovesUs com o intuito de motivar as mulheres em todo mundo a se moverem mais. Dados, de 2015 do IBGE, indicam que 68% das brasileiras nunca praticaram nenhuma modalidade esportiva. Como é essa campanha?

Vitória Rosa - Independentemente se você, mulher, é sedentária ou esportiva, convidamos todas as brasileiras a se mexerem mais. Vá para academia, faça um funcional. O importante é se mover. Homem também tem que pilotar fogão, aprender a lavar, a passar. Os trabalhos da casa não são exclusivos das mulheres.

Vitória Rosa pediu para os seguidores escolherem o look para competir no Mundial - Foto Divulgação CBAt  

Como você acordou no dia que você quebrou o recorde sul-americano dos 200 m no Mundial do Oregon?

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Vitória Rosa - Foi um momento muito impactante para mim. Lembro que joguei nas minhas redes sociais alguns conjuntinhos para a galera escolher com qual look eu competiria. Eu estava muito em dúvida. O pessoal escolheu minha roupa e fui competir com ela, e hoje esse traje é superimportante para mim. O tempo todo não sai da minha rotina, não comi nada que não estou acostumada. Acordei muito de boa, como se nada estivesse acontecendo aquele dia. Não gosto dessa calma, gosto de ficar com a perna tremendo, gosto de sair da minha zona de conforto. Mas aquele dia eu estava muito, mas muito tranquila mesmo. E fui lá e bati o recorde. Chorei muito logo depois e até esperei um pouco antes de ir à zona mista dar as entrevistas. Meu técnico Katsuhico Nakaya sempre me diz que tenho perna para correr ainda mais rápido, mas eu mesma não tinha noção disso. Eu ficava olhando para o telão e a lágrima escorria. Em seguida fui levada pra sala do antidoping e minha irmã me ligou, já era quase meia noite no Brasil, foi ótimo.

Como é esse top de magas compridas que você usou nessa competição?

Vitória Rosa - Ele é de um tecido muito leve, na barra há um silicone para manter a peça acompanhando o corpo, sem que o top suba durante os movimentos. E atrás, há umas bolinhas não deixando o top esquentar. E lá está bem calor. Uso com sutiã por baixo. Mas quem tem pouco peito não precisa. Sou muito vaidosa, tudo tem que estar combinando. Nunca saiu sem escolher a roupa. O sol é que decide a roupa que vou escolher, sempre dou uma checada no clima. Me inspiro na jamaicana Sharon Fraser.

E como foi a quebra do recorde sul-americano dos 60 metros, em 18 de março de 2022 no Campeonato Mundial Indoor de Atletismo no Stark Arena, em Belgrado (Sérvia), onde você cravou 7s14?

Vitória Rosa - Foi inesperado, fui direto do treinamento, sem nenhuma competição antes. E na final, terminei na 8ª posição com o tempo de 7s21. Tinha consciência que daria para ter ido melhor, mas me lesionei nessa final. E mesmo assim sai de lá muito feliz mesmo por essa oportunidade, com a certeza de que dei o meu melhor na pista.

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Vitória Rosa foi a primeira brasileira a disputar uma final nos 60 m do Campeonato Mundial Indoor de Atletismo- Foto Divulgação CBAt  

Quais os planos para 2023, garantir a vaga olímpica?

Vitória Rosa - Para 2023 quero melhorar meus tempos e deixar o melhor de mim nas pistas. Graças a Deus na minha vida as coisas acontecem naturalmente. Mas não fico me cobrando as marcas. Penso em competir bem. Vou focar nos 200 metros rasos, que é a prova que mais gosto. E o que vier será consequência disso.

 

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