Natural de Baía Formosa, no litoral do Rio Grande do Norte, Italo Ferreira sempre foi um apaixononado pelo mar e pelas ondas. Seu pai, que trabalhava como pescador, costumava emprestar parte do isopor onde gelava os peixes frescos para o garoto dar suas primeiras braçadas na água. A brincadeira virou coisa séria, ele ganhou uma prancha de presente de um parente e logo mostrou talento nato. "Desde criança ele almeja isso. Ele nunca desistiu. Pedia ajuda aos parentes. Sempre estive por perto. Não podia dar muito a ele, mas sempre dividia o que tinha.", disse seu Luizinho, pai do agora campeão olímpico pelo Brasil nos Jogos de Tóquio. Italo ganhou a primeira medalha de ouro do País na competição e na modalidade. Entrou para a história.
Só que a condição financeira da família, sem tantos recursos, era uma dificuldade no início, pois para participar de competições era necessário pagar inscrição, viajar e ter uma estrutura mínima. Mas Italo nunca desistiu do sonho de ser surfista profissional e via naquela brincadeira uma possibilidade de ter um trabalho com o qual se identificasse. "Queria que minha avó estivesse viva para ver no que me transformei", disse, chorando, após sair do mar do outro lado do mundo.
O talento dele como atleta fez com que estreasse no Circuito Mundial de Surfe em 2015. Na ocasião, chamou atenção pelo seu estilo arrojado e teve até bons resultados, como o segundo lugar na etapa de Peniche, em Portugal, e uma semifinal no Oi Rio Pro. No fim daquele ano, foi agraciado com o prêmio de estreante do ano na modalidade.
Para além dos feitos, no fim de 2015, ele recebeu um enorme elogio de Kelly Slater, 11 vezes campeão mundial. "Ele chocou as pessoas que não o conheciam tão bem, principalmente fora do Brasil, mas o que posso dizer é que ele é muito bom em qualquer condição de mar. Ele tem força para ondas grandes, dá aéreos em ondas menores e é muito competitivo", afirmou o americano.
Desde então, Italo foi crescendo no cenário internacional e amadurecendo seu lado competitivo. Em 2016, teve uma temporada irregular, no ano seguinte se machucou e perdeu parte do calendário de etapas, mas em 2018 ganhou três eventos e por pouco não chegou ao Havaí com chance de título. Desta vez, manteve o foco e se recuperou na reta final da temporada para garantir seu primeiro troféu.
Italo é um surfista talentoso, muito bem preparado e com enorme carisma. Costuma mostrar raça nas disputas, já teve grandes derrotas e sabe que não é imbatível. De qualquer forma, ele entra como um dos favoritos nas temporadas e também sempre foi candidato ao pódio nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Já enfrentou lendas do surfe, como Gabriel Medina e o havaiano John John Florence, bicampeão mundial. São os jovens surfistas ditando o ritmo em uma modalidade que atrai cada vez mais torcedores e patrocinadores. Italo ssempre acreditou. Quando saiu de Baía Formosa, disse para os pais que não queria bronze nem prata. Queria o ouro. E assim foi, mesmo depois de ter sua prancha quebrada na bateria final, num mar pesado. Teve calma e categoria. Esteve sempre confiante. "Treinei muito, por meses. Agora, meu nome está escrito na história do surfe."
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