O Conselho Deliberativo do Flamengo vota nesta segunda-feira, 8, o contrato com a Globo para transmitir jogos do clube como mandante no Campeonato Brasileiro de 2025 a 2029. Existe o entendimento de alguns conselheiros de que o acordo não será benéfico ao time rubro-Negro e o negócio pode não ser validado pelo órgão.
Parte dos conselheiros critica os moldes do negócio e lembra que o Flamengo, clube de maior torcida do País, historicamente é o que mais arrecada com direitos de televisão. A decisão de aceitar a oferta da Globo sem “determinados privilégios” foi tomada em fevereiro e anunciada no início de março. O contrato atual de direitos do Brasileirão termina em dezembro de 2024. O Estadão procurou o Flamengo e não obteve retorno.
O Flamengo faz parte da Liga do Futebol Brasileiro (Libra), que negocia em bloco a venda dos direitos de transmissão dos clubes. O Estadão teve acesso a informações e números que circularam entre os clubes depois do acerto da Libra com a Globo, anunciado no início de março. A projeção é de que o clube rubro-negro arrecade R$ 198 milhões no ano que vem com a transmissão de suas partidas.
Como comparação, o Flamengo arrecadou R$ 275 milhões com direitos de televisão em 2023. Ou seja, a redução na arrecadação com direitos de transmissão em 2025 seria de R$ 78 milhões por ano, e cerca de R$ 400 milhões no total, já que o novo contrato pela venda dos direitos televisivos é de cinco anos, com o término em 2029.
Um dos motivos da queda dos ganhos do Flamengo com direitos de transmissão é a derrubada do chamado “mínimo garantido” pelo pay-per-view, privilégio concedido apenas a Flamengo e Corinthians no contrato em vigor, válido para o ciclo entre 2019 e 2024. Essa cláusula foi estendida a todos os signatários do bloco. Só dessa forma pôde haver um entendimento entre os clubes que compõem o grupo, já que esse ponto era um mais controversos e que mais gerava divergências entre as equipes, como deixou claro a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, figura importante nas decisões dentro do bloco.
A arrecadação com os direitos de transmissão será distribuída entre os clubes a partir de regra aprovada em uma Assembleia Geral da entidade: 40% de modo igualitário, 30% por performance (posição na tabela do Brasileirão) e 30% por audiência. Caberá ainda um repasse de 3% do valor total para os clubes do grupo que estiverem na Série B, como forma de estimular a competitividade.
Silvio Matos, CEO da Libra, afirmou, em entrevista à CNN Brasil, que o Flamengo abriu mão de “determinados privilégios” para que os clubes do bloco chegassem a um entendimento quanto à venda dos direitos de transmissão. Embora esteja distante o acerto para a formação de uma liga única com os 40 clubes das duas principais divisões do futebol brasileiro, o executivo está otimista.
“Cabe às lideranças de ambas as partes sentarem cada vez de uma forma mais transparente, correta, ética e tentar amarrar os pontos para que a gente possa consolidar o movimento de liga. Se ele vai acontecer ou não vai acontecer, depende muito dessas cabeças e das suas intenções”, disse Matos.
O contrato com a Globo é de exclusividade, terá duração de cinco anos e foi fechado por R$ 6,5 bilhões, que serão pagos durante a vigência do acordo. Os times que fazem parte da Libra são: Atlético-MG, Bahia, Corinthians, Flamengo, Grêmio, Palmeiras, Red Bull Bragantino, Santos, São Paulo, Guarani, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Ponte Preta, Sampaio Corrêa e Vitória.
O acordo com a emissora renderá R$ 1,3 bilhão por ano, tanto da TV aberta quanto fechada e pay-per-view, para os membros da Libra apenas se nove clubes que compõem o bloco estiverem na Série A. Cabe lembrar que o Corinthians foi o único do grupo a não assinar com a Globo, ao menos por enquanto. Oficialmente, o time alvinegro ainda não deixou a Libra.
Sem o Corinthians, time de segunda maior torcida do País, o valor pago pela Globo cai em cerca de 10% e as equipes receberiam aproximadamente R$ 1 bilhão anualmente na divisão de receitas. Se houver oito clubes em 2025, caso o Santos não volte à elite do futebol brasileiro, por exemplo, haverá um decréscimo de mais 11%.
Negociação por investimentos
Fundada oficialmente no primeiro semestre de 2022, a Libra é um dos grupos que reúnem clubes brasileiros e seus interesses. Ela negocia com a Mubadala Capital (de um fundo de Abu Dhabi) para ter investimentos e é assessorada pelo BTG Pactual. Além dos times da Série A e do Santos, a Libra ainda conta com ABC, Brusque, Guarani, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Paysandu, Ponte Preta e Sampaio Corrêa.
Do outro lado, a Liga Forte União (LFU) reúne Internacional, Cruzeiro, Fluminense, Vasco, Athletico-PR, Atlético-GO Botafogo, Goiás, Fortaleza, América-MG, Cuiabá, Criciúma e Juventude, na Série A; além de e Sport, Ceará, Avaí, Chapecoense, Coritiba, CRB, Vila Nova, Londrina, Tombense, Figueirense, CSA e Operário. O grupo tem assessoria da XP Investimentos.
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