Matheus Montenegro, de 20 anos, teve uma mudança repentina em sua vida no último mês. Em busca de uma faculdade no exterior, ele conquistou 28 bolsas de estudo em universidades dos Estados Unidos por meio de um fator inusitado: o Fortnite, jogo multiplayer e febre entre os mais jovens.
Graças às suas habilidades no game, o ex-aluno de escola pública e morador de São Vicente, litoral de São Paulo, foi aprovado para integrar diversas equipes universitárias de eSports nos EUA. Com a chance de escolher o seu destino, optou pela Oklahoma Christian University, onde conquistou bolsa de 75% e irá cursar ciências da computação.
Os resultados de hoje são frutos que começaram a ser cultivados desde que Matheus ainda era pequeno, com oito anos. Antes mesmo de qualquer pensamento sobre faculdades ou estudar no exterior, o jovem teve seu primeiro contato com os jogos e com a “cultura americana”, que foram paixões à primeira vista. “Comecei a jogar no Playstation 2 do meu pai, depois passei para o computador, mas segui nesse universo desde então”.
O Fortnite entrou na sua vida enquanto estava no Ensino Médio. Lançado em 2017, o modo “Battle Royale” do jogo tem 100 jogadores simultâneos que ficam confinados em uma ilha e precisam ir em busca de equipamentos e armas. Apenas um jogador ou equipe saem vitoriosos.
Como uma forma de diversão e lazer, Matheus passou a jogar com frequência de duas a quatro horas por dia e, com o passar do tempo, se aprimorando. Mesmo sem nunca ter participado ativamente do competitivo do Fortnite, por seu computador não ser o ideal para as partidas, o garoto se destacou entre os amigos pela habilidade. Ao planejar seu futuro, o Fortnite se tornou uma chance de atingir seus objetivos.
“Em 2021, busquei muitas oportunidades para estudar nos EUA, mas não fazia ideia de que, através dos eSports era possível conseguir uma vaga na universidade”, diz.
Matheus, assim como tantos outros jovens, imaginava que os únicos esportes que garantiriam bolsa de estudos nos EUA eram basquete, futebol, atletismo e natação.
Por meio de outra história, Matheus descobriu que o Fortnite, seu hobby nas tardes de lazer com os amigos, poderia tornar seu sonho realidade. Guilherme Mannarino, hoje com 18 anos, conquistou 31 bolsas para estudar nos EUA para integrar a equipe de Fortnite. A conquista do jovem inspirou Matheus a seguir o mesmo caminho. Deu certo.
Com um objetivo bem definido desde o primeiro momento (Matheus não planejava fazer o ensino superior no Brasil), o jovem contou com o apoio da família assim que percebeu que seria possível. O processo para entrar nas universidades não foi fácil. Além de apresentar boas notas no Ensino Médio, atividades extracurriculares e uma série de documentos, como cartas de recomendação de professores, também teve de realizar testes de proficiência no inglês e enviar vídeos de Fortnite para as instituições de ensino a fim de comprovar sua habilidade.
Aprovado em 28 universidades, a escolhida, Oklahoma Christian University, conferiu a Matheus uma bolsa de 75% no valor do curso. “A cidade (de Oklahoma) é bem grande, o ensino (da ciência da computação) me agradou e o programa de eSports vem sendo muito desenvolvido na Universidade”, aponta os motivos que o fizeram optar pela instituição. O desenvolvimento de sua área de atuação nos EUA (ciência da computação) foi outro fator fundamental por sua escolha.
“Uma loucura”, resume Matheus sobre sua vida nos últimos dias. “Muitos me chamando, me perguntando como consegui e me parabenizando nas redes. Quase não estou tendo tempo para jogar mais”, brincou o jovem Entretanto, essa conquista ainda não garante a ida do jovem ao exterior. Como a bolsa não é integral, restam 25% dos custos, que devem partir da família. Como as aulas começarão em agosto, Matheus precisa arrecadar cerca R$ 84 mil. Para isso, iniciou em suas redes sociais uma campanha de financiamento coletivo para atingir seu objetivo. “Não tenho plano B”, afirmou Matheus. Caso não atinja a meta para estudar nos EUA, dificilmente iniciará o ensino superior no Brasil. Até o momento, cerca de 25% do que precisa foi atingido.
Mesmo sem sua ida garantida, o jovem se mostra empolgado para essa nova fase de sua vida. “Ainda não caiu a ficha. Nunca saí de São Paulo, nem viajei de avião, mas não vejo a hora de tudo se tornar realidade”, diz. Matheus conta que já conversou com seu treinador da equipe de Fortnite e diz que nos primeiros meses será um desafio conciliar os estudos com a rotina de treinos. “É preciso manter as notas altas, mas também focar nas competições”.
O jovem também planeja inspirar adolescentes que, assim como ele, têm o sonho de estudar no exterior. “Quero iniciar projetos de mentoria, porque quando fui atrás (de Universidades nos EUA), havia poucas pessoas ensinando os passos para conquistar as bolsas por meio do Fortnite e dos games”, conta.
Na onda das “live streams” na Twitch, Matheus também planeja entrar nesse universo. Para isso, tem algumas referências. “Seguir os passos do Clix, Tfue e Ninja (streamers de Fortnite) e do Alanzoka e Edukof (criadores de conteúdo brasileiros)."
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