Há dez anos, em 19 de novembro de 2014, a bola rolou pela primeira vez para um jogo oficial no Allianz Parque, erguido no lugar do antigo Palestra Itália. A arquibancada de concreto deu lugar a setores mais bem definidos e as cadeiras ganharam tonalidades de verde, o “gol da ferradura” se transformou no setor onde monta-se o palco para estrelas nacionais e internacionais, a capacidade foi ampliada em cerca de dez mil lugares, o preço dos ingresso subiu consideravelmente, e o estádio virou uma arena multiuso, considerada por muitos até hoje a mais moderna do País.
Uma década se passou desde que o Palmeiras inaugurou seu então novo estádio com derrota para o Sport, que marcou o primeiro gol do Allianz Parque com o finado Ananias (1989-2016), cujo filho, Enzo, se tornou palmeirense. “Quero ser jogador e quero jogar no Palmeiras um dia”, afirmou no ano passado o garoto de 13 anos quando visitou o estádio a convite do Palmeiras. O pai jogou no Palmeiras e foi uma das 71 vítimas do acidente de avião que levava o elenco da Chapecoense à Colômbia para a disputa da final da Sul-Americana em 2016.
Desde então, 425 partidas foram disputadas na arena, que foi palco de nove títulos do Palmeiras e um elemento importante para turbinar as receitas do clube e dar grande auxílio na consolidação da reconstrução do time, iniciada em 2015. Concebida para ser uma arena multiuso, também recebeu 230 shows, 663 eventos corporativos e 218 festas de aniversários.
Em dez anos, mais de 14 milhões de pessoas foram ao estádio localizado na zona oeste de São Paulo e colado à sede social do Palmeiras, seja para assistir a um jogo ou ver apresentação musical de algum artista, como Paul McCartney, que se apresentou dez vezes no local, onde esteve mais vezes que 13 clubes da Série A do Brasileirão.
Em uma década, foram muito mais alegrias do que tristezas no Allianz Parque, que foi palco de nove das 14 conquistas palmeirenses desde 2015: Copa do Brasil (2015 e 2020), Brasileirão (2016 e 2022), Paulistão (2020, 2022, 2023 e 2024) e Recopa Sul-Americana (2022). Destaque para outras taças erguidas pelas equipes de base.na arena, como a Copinha de 2022.
“Foi um sentimento agridoce na época. O time era horroroso e nosso medo era cair logo no centenário, mas um dos raros momentos de alegria foi a inauguração do estádio, um lugar nosso”, relata o torcedor e jornalista Lucas Berti, um dos mais de 40 mil palmeirenses que estiveram na abertura da arena. “O torcedor estava apátrida, largado, com técnicos horríveis, times horríveis e sem lugar pra jogar”.
Os números evidenciam a força do time diante de seu torcedor: foram 205 vitórias, 69 empates e 43 derrotas em 308 partidas no estádio. Em sua casa, a equipe marcou 687 gols e sofreu 227.
“A inauguração do Allianz Parque foi o elemento transformador da nossa história. O Paulo Nobre era o cara certo no lugar certo e, na retaguarda desse elemento transformador, trouxe muita coisa que foi perenizada como procedimento dentro do clube, com os resultados expressivos dessa década”, afirmou em entrevista recente ao Estadão Savério Orlandi. O advogado foi diretor de futebol do clube na gestão de Luiz Gonzaga Belluzzo, presidente que alinhavou o contrato com a WTorre para a construção do estádio. Savério é candidato à presidência do Palmeiras e será adversário da atual presidente Leila Pereira na eleição marcada para o dia 24 deste mês.
Reis do Allianz Parque
Maior campeão pelo Palmeiras neste século, Dudu lidera as estatísticas e continua sendo o maior protagonista que já pisou no gramado - hoje sintético - do Allianz Parque. É ele o jogador com mais jogos (204), vitórias (144) e assistências (59). “Já vivi muitos momentos especiais aqui no estádio e continuarei me esforçando ao máximo para dar mais alegrias ao nosso torcedor”, afirmou o atacante quando completou 200 partidas na arena.
Mas o maior artilheiro do Allianz Parque é Raphael Veiga, autor de 51 gols. “Nunca foi um objetivo pessoal bater essas marcas de gol, mas é sempre bom melhorar. Que venham mais 50 ou 100 gols”, dissera o meio-campista recentemente. Ele está à frente de Dudu, vice-artilheiro, com 40 gols. Depois vêm Rony (37), Willian Bigode (28) e Gustavo Scarpa (20).
A maior vítima é o São Paulo, que perdeu 13 vezes na casa palmeirense. O time tricolor é, também, o que mais vezes visitou o Palmeiras (21) e o maior algoz, ao lado do Corinthians, com quatro vitórias.
Os outros que mais vezes foram derrotados na casa do Palmeiras são: Santos (11), Fluminense (9), Bragantino e Internacional (7), Athletico-PR e Corinthians (6).
O primeiro título
O ex-goleiro Fernando Prass viveu as agruras e as alegrias de defender o Palmeiras ao ir parar no clube em 2013, quando a equipe conquistou o acesso à Série A. Ele morava próximo do estádio e viu, da janela seu apartamento, as obras terminarem e a nova casa palmeirense ser erguida e inaugurada no duelo com o Sport, que terminou aquele jogo vitorioso. “A gente inaugurou o estádio numa fase muito difícil, brigando para não cair, no ano do centenário, e o apoio da torcida foi sempre incondicional”, diz Prass, ao Estadão.
Em 2014, era um dos líderes do elenco que brigou até a última rodada para não ser mais uma vez rebaixado no ano de seu centenário e teve o sofrimento aliviado com a permanência na Série A graças ao Santos, que derrotou e rebaixou o Vitória.
Foi 2015 o ano do início da reconstrução do clube depois de um longo período de martírio dos torcedores, que não aguentavam mais ver elencos medíocres jogando para não cair de divisão. No fim daquele ano, eles puderam sorrir e vibrar com o título da Copa do Brasil, o primeiro do Allianz Parque, com vitória sobre o Santos na final.
“A nova era do Palmeiras se confunde muito com a inauguração do Allianz”, constata Prass, um dos mais importantes ídolos recentes da torcida alviverde. Para muitos palmeirenses, a idolatria foi conquistada por causa daquela campanha vitoriosa. O goleiro foi decisivo, principalmente, na semifinal e na decisão, agarrando pênaltis e também convertendo a última cobrança na final.
“Marcou muito porque foi a primeira conquista, foi o início da caminhada em termos de vitórias porque as coisas começaram a mudar antes”, afirma o hoje comentarista dos canais ESPN. “Eu bater o pênalti todo mundo lembra. Mas tenho uma memória muito particular que foi a chegada do ônibus, aquele ambiente no entorno do estádio, acho que nunca mais vi uma festa como aquela”.
Relembre gols de alguns dos duelos mais marcantes do Palmeiras no Allianz Parque
Curiosidades do Allianz Parque
- Primeiro gol: Ananias, na vitória do Sport por 2 a 0 sobre o Palmeiras;
- Primeiro gol do Palmeiras: Henrique Dourado, em 07/12/2014, no empate por 1 a 1 com o Athletico-PR;
- Técnico que mais comandou o Palmeiras no estádio: Abel Ferreira (127 partidas);
- Gol mais rápido: Raphael Veiga, em 07/07/2021, aos 15 segundos, na vitória do Palmeiras 2 a 0 sobre o Grêmio, pelo Brasileirão;
- Gol mais tardio: Flaco López, em 18/08/2024, aos 56min31 do segundo tempo, na vitória do Palmeiras por 2 a 1 sobre o 1 São Paulo, pelo Brasileirão;
- Maior goleada: Palmeiras 8 x 1 Independiente Petrolero-BOL, pela Libertadores de 2022.
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