Foram 31 rodadas na liderança do Brasileirão, destaques individuais que chegaram à seleção brasileira, futebol de alto nível que lhe credenciou a ganhar o título com bastante antecedência e uma vantagem na ponta que chegou a ser de 13 pontos. Porém, tudo desmoronou para o Botafogo no segundo turno, fazendo valer a frase célebre “há coisas que só acontecem ao Botafogo”, que foi apresentada à crônica esportiva em 1957 pelo jornalista Paulo Mendes Campos no texto “O Botafogo e eu”.
O Botafogo fez campanha de rebaixado no returno, levou viradas inacreditáveis até para os torcedores mais acostumados com o fracasso, deixou vitórias escaparem nos acréscimos e protagonizou derrocada histórica que resultou na perda do título brasileiro, provavelmente para o Palmeiras. O Estadão elencou 13 atos que, ao longo deste Brasileirão, ampararam o roteiro do derretimento do Botafogo e a perda do título nacional.
Dança das cadeiras
Na era dos pontos corridos, nenhum time foi campeão tendo mais do que três técnicos em seu comando ao longo da campanha. O Botafogo começou com o português Luís Castro, depois teve Claudio Caçapa em alguns jogos como interino até a contratação do também lusitano Bruno Lage. Mais tarde, contou com Lúcio Flávio como tampão e, sem os resultados, foi demitido para a chegada de Tiago Nunes.
Cristiano Ronaldo
Uma ligação de Cristiano Ronaldo pode ter sido determinante para o fracasso do Botafogo. O astro português foi o responsável por convencer Luís Castro a deixar o clube carioca para treinar o Al-Nassr, da Arábia Saudita. CR7 queria o compatriota no comando do seu time.
Aposta em Lúcio Flávio
Depois de errar com Bruno Lage, português que substituiu sem competência seu compatriota Luís Castro e comandou o Botafogo em poucos jogos, a diretoria decidiu apostar em Lúcio Flávio. Ele deixou de ser auxiliar técnico permanente e virou treinador no início de outubro. O elenco sempre elogiou o ex-meio-campista, mas com ele foram poucos os resultados positivos. Na verdade, o time passou a amargar derrotas em sequência e perdeu toda a vantagem na liderança que havia construído. Foi com o ex-jogador que a equipe perdeu quatro jogos seguindo, incluindo as viradas sofridas para Palmeiras e Grêmio. Seu último jogo no comando foi o empate por 2 a 2 com o Bragantino. Textor o demitiu depois dessa partida.
No escuro
O Botafogo entrou em uma maré de azar a partir do jogo com o Athletico-PR, em 22 de outubro. Foi essa partida que deu início a uma sequência irremediável de tropeços. Naquela noite, faltou luz no Estádio Olímpico Nilton Santos por diversas vezes e, após horas de espera e seguidas paralisações e retomadas, o duelo teve de continuar no dia seguinte, sem público. O placar se manteve inalterado: 1 a 1, mas as consequências seriam outras.
Adiamento
A suspensão do jogo com o Athletico-PR obrigou o time a voltar a campo no dia seguinte. Com isso, para cumprir com as 66 horas de intervalo entre uma partida e outra, a CBF adiou o jogo com o Fortaleza - que jogaria, em tese, com time reserva uma vez que iria disputar no fim de semana a final da Sul-Americana. A partida só foi realizada em 23 de novembro, terminou empatada por 2 a 2 e marcou a perda da liderança para o Palmeiras.
Weverton
O cronômetro mostrava 37 minutos do segundo tempo. O Botafogo ganhava por 3 a 1 e poderia marcar o quarto gol, liquidando a fatura. Tiquinho Soares e Weverton ficaram frente a frente para aquela cobrança de pênalti. Penalidades não são o forte do goleiro palmeirense, mas naquela noite sua atuação foi decisiva. O atacante botafoguense bateu rasteiro no canto inferior esquerdo. Weverton pegou. Aquele lance deu início à virada histórica do Palmeiras no Nilton Santos.
Viradas
A incapacidade de o Botafogo segurar vitórias foi determinante para que o título escapasse. Duas viradas impressionantes amargadas num intervalo de dez dias se destacam em meio aos tropeços botafoguenses: os dois 4 a 3 sofridos para Palmeiras e Grêmio com requintes de crueldade, sobretudo diante do time alviverde, o qual vencia por 3 a 0 no primeiro tempo.
Destempero de John Textor
O Botafogo definhou em campo e deu vexame fora dele. A figura que comanda a SAF do clube considerou que o time foi prejudicado em várias rodadas e, por isso, atirou contra árbitros, o chefe da arbitragem, Wilson Seneme, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, e adversários. O magnata americano falou em “integridade do Brasileirão corrompida”, “repletos erros e abuso no processo” e divulgou um extenso relatório elaborado por uma consultoria em que contesta decisões da arbitragem em jogos do Botafogo e aponta que a equipe deveria ter 10 pontos a mais na tabela. Seu comportamento emocional não ajudou o time e lhe rendeu 30 dias de suspensão dada pelo STJD.
Os acréscimos
Nessa sequência negativa, o Botafogo fez seus torcedores passarem por momentos cruéis. Contra Palmeiras, Red Bull Bragantino, Santos e Coritiba, a equipe alvinegra sofreu gols nos minutos finais das partidas e viu pontos decisivos se perderam graças à desatenção e falta de brio de seus atletas.
Fraqueza emocional
Ao contrário do Palmeiras, time cuja força mental é uma das virtudes, o Botafogo ruiu emocionalmente e foi incapaz de se reerguer de duras derrotas. Os atletas imergiram em um profundo abatimento e não conseguiram sustentar vitórias improváveis de escapar. O episódio mais emblemático talvez tenha sido o empate com o Coritiba, sofrido no último lance, dois minutos depois de abrir o placar de pênalti.
Queda de desempenho
Sem Luís Castro, foram poucos os bons momentos do Botafogo. A equipe tinha uma estratégia bem definida e muitos atletas viviam o seu auge técnico. O português saiu e o que se viu foi um time inseguro defensivamente, com dificuldade para criar e ineficiente no ataque. Antes melhor goleiro do campeonato, Lucas Perri começou a falhar, bem como Victor Cuesta. Marçal virou alvo de críticas e até o artilheiro e craque do time, Tiquinho Soares, cambaleou.
Segundo turno de time rebaixado
O Botafogo fez um primeiro turno memorável. Somou 47 pontos e chegou a se manter 13 pontos distante do segundo colocado. No returno, porém, desidratou ao ponto de fazer uma campanha semelhante às de Coritiba e América-MG, dois dos rebaixados à Série B. Foram apenas 18 pontos em 54 possíveis.
O último ato
O Botafogo reservou para ter diante de seus torcedores o último ato da campanha desastrosa do segundo turno. No domingo, o empate sem gols com o Cruzeiro colocou um ponto final no sonho do título nacional. O novo tropeço fez o time alvinegro acumular dez partidas seguidas sem vitória no Brasileirão.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.