O ato de tomar o celular da mão de um jornalista do Grupo Globo na zona mista do Mineirão pode render ao técnico Abel Ferreira uma punição. A procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) vai analisar as imagens e estuda denunciar o técnico do Palmeiras.
Ronaldo Piacente, procurador-geral do STJD, confirmou ao Estadão que vai analisar o caso. Segundo ele, o que ocorreu se enquadra no artigo 258 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva. O episódio não foi citado pelo árbitro na súmula da partida.
“Assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva não tipificada pelas demais regras deste Código”, diz o artigo em questão. A pena prevista pelo CBJD quando o ato é cometido por um treinador é de uma a seis partidas de suspensão, com a possibilidade de aplicação de multa ao clube de até R$ 10 mil.
Mesmo em caso de condenação, Abel Ferreira pode ter sua pena convertida em advertência se o STJD considerar “infração de pequena gravidade”, como prevê o CBJD. Ele pediu desculpas mais tarde, em sua entrevista coletiva.
Abel foi flagrado tomando um celular da mão de um jornalista que filmou uma reclamação do diretor de futebol do Palmeiras, Anderson Barros, com o quarto árbitro da partida, Ronei Cândido Alves, que trabalhou no empate da equipe alviverde, por 1 a 1, com o Atlético-MG. Eles estavam no túnel de acesso aos vestiários, área cuja presença da imprensa é permitida.
As imagens rapidamente circularam pelas redes sociais. O dono do celular é Pedro Spinelli, produtor da Rede Globo. Abel não estava na discussão entre o dirigente e o representante da arbitragem, mas tentou dar uma camisa do Palmeiras ao quarto árbitro, que recusou o presente.
Vendo que estava sendo filmado, ele pegou, então, o celular do jornalista de forma abrupta. Rapidamente, devolveu o aparelho ao produtor, mas, na sequência, se irritou com um outro repórter, este da rádio Itatiaia, que filmou a ação do treinador português. “O futebol está assim por vossa culpa”, disparou o técnico ao profissional da rádio mineira, antes de deixar o local e entrar no vestiário.
Pedido de desculpas
Com a cabeça mais fria, o técnico do Palmeiras reconheceu o erro e pediu desculpas na entrevista coletiva que deu minutos depois do episódio no Mineirão. “Vou fazer um esclarecimento, uma vez que todo mundo aqui gosta de transformar um copo d’água em uma tempestade. Passou-se aqui uma discussão, uma confusão ali no túnel, entre nosso diretor esportivo e um dos assistentes da arbitragem. E tinha ali, não sei se repórteres, a filmarem tudo. Eu peço desculpas se me excedi”, disse.
“São coisas do futebol, isso é muito nosso, mas infelizmente hoje todos têm câmeras. Há coisas que a imprensa não tem que saber”, completou, provavelmente citando o gesto de presentear um membro da arbitragem com uma camisa do Palmeiras. Mas não era isso que estava sendo gravado.
Repúdio
A Globo afirmou que o jornalista Pedro Spinelli teve seu trabalho interrompido “abruptamente” pelo técnico do Palmeiras e disse repudiar “qualquer tentativa de intimidação ao trabalho da imprensa”.
A Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo (ACEESP) e a Associação de Cronistas Esportivos do Brasil (ACEB) também repudiaram a atitude de “desrespeito” do técnico e se solidarizaram com o repórter.
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