A Federação Italiana de Futebol absolveu o zagueiro Francesco Acerbi, da Inter de Milão, da acusação de racismo contra Juan Jesus, do Napoli, acontecida na semana, em partida válida pela 29ª rodada do Campeonato Italiano, no Estádio Giuseppe Meazza. O motivo alegado foi “falta de provas” de que o italiano teria insultado, de fato, o brasileiro. Juan Jesus ainda não se manifestou publicamente sobre a decisão.
O veredito foi dado pelo juiz da FIGC (sigla da federação, em italiano), Gerardo Mastandrea. Segundo ele, ainda que haja lógica na narrativa que acusa Acerbi, isso se sustenta apenas no que Juan Jesus relatou. “O conteúdo gravemente discriminatório permanece confinado às palavras da parte ofendida, sem qualquer suporte probatório adicional”, escreve Mastandrea, considerando o relato do brasileiro como insuficiente para uma penalização. Imagens da transmissão do jogo mostram o momento em que Juan Jesus reclama das falas do adversário.
Acerbi poderia ser enquadrado no artigo 28 do código de justiça desportiva, que define até dez jogos de suspensão. Se recebesse essa pena, o zagueiro estaria oficialmente fora da temporada da Inter de Milão e corria risco de não disputar a Eurocopa, que inicia em 14 de junho. Nesta Data Fifa, a seleção italiana o cortou depois da acusação de Juan Jesus.
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A partida ocorreu em 17 de março. Juan Jesus alertou o árbitro Federico La Penna sobre o comentário racista de Acerbi. O jogador italiano não foi advertido com cartão e pediu desculpas ao brasileiro, afirmando que não era racista enquanto apontava para Marcus Thuram, atacante da Inter de Milão, como indicativo de que tinha companheiros de equipe negros.
Após partida, Juan Jesus definiu que o italiano “passou do ponto”, mas que eles haviam se entendido. Um dia depois, contudo, o zagueiro do Napoli se pronunciou novamente, justificando que Acerbi havia distorcido o que aconteceu. “Li declarações do Acerbi contradizendo totalmente a realidade dos acontecimentos, com o que ele disse ontem no campo do jogo e com as provas mostradas também por imagens e lábios inconfundíveis, em que ele pede perdão. O racismo está sendo combatido aqui e agora. Após o meu protesto com o árbitro, admitiu que estava errado e pediu desculpas. Hoje ele mudou sua versão e afirma que não houve insulto racista”, escreveu Juan Jesus. Segundo o brasileiro, Acerbi lhe direcionou as frases “vai-te embora, preto” e “é apenas um preto”. Depois, Juan Jesus conta que o italiano justificou dizendo que “para ele, ‘preto’ é um insulto como qualquer outro”.
Também no dia seguinte ao jogo, Acerbi, convocado pela seleção da Itália para dois amistosos de preparação para a Eurocopa, deixou a concentração da equipe. Ele foi questionado pela FIGC sobre o caso e negou a intenção de ter sido racista.
O Napoli publicou uma nota após a divulgação da decisão de absolvição, nesta terça-feira. “Não é razoável pensar que ele (Acerbi) entendeu mal. O princípio da maior probabilidade de um acontecimento, amplamente visível a partir da dinâmica dos fatos e das suas desculpas em campo, que é levado em consideração na justiça desportiva, desaparece”, diz um trecho do texto. O clube ainda lamentou a decisão ter ignorado o teor ofensivo e ameaçador de Acerbi. “O Napoli não irá mais aderir a iniciativas meramente de fachada das instituições do futebol contra o racismo e a discriminação, continuaremos a fazê-las nós próprios, como sempre fizemos, com convicção e determinação renovadas”, conclui a nota.
A Inter de Milão lidera o Campeonato Italiano com 14 pontos de vantagem para o rival Milan e espera mais uma vitória na próxima semana, em 1º de abril, diante do Empoli, em Milão. Já o Napoli briga por uma vaga na Champions League, com 45 pontos e na sétima colocação. A equipe do Sul recebe a Atalanta no sábado, dia 30, no Estádio Diego Armando Maradona.
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