Acordo com SAF pode endividar a Portuguesa, diz órgão fiscalizador do clube

Conselho de Orientação e Fiscalização (COF) aponta dívida maior do que valor prometido para quitação pela Tauá Futebol, que afirma não ter recebido comprovação da diferença de valores

PUBLICIDADE

Foto do author Ricardo Magatti
Foto do author Bruno Accorsi
Atualização:

Prestes a chancelar a transformação em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), em assembleia marcada para terça-feira, a Portuguesa ainda tem debates internos sobre o contrato da venda de 80% de suas ações à Tauá Futebol. O Conselho de Orientação e Fiscalização do Clube (COF) fez algumas ressalvas sobre o acordo, entre elas o temor de que o clube social fique endividado por causa de alguns termos, os quais a Tauá, contudo, garante que não vão onerar a associação.

PUBLICIDADE

A dívida levantada pelo grupo de investidores, por auditoria, está na casa de R$ 550 milhões, valor que foi levado para recuperação judicial. Cofistas dizem que a dívida real seria de R$ 900 milhões, mas não apresentaram nenhum documento que comprove isso.

O COF afirma que chegou a tal valor com base em um estudo realizado pela empresa BDO, após o balanço das contas do clube referente a 2023 ter sido reprovado. A reportagem teve acesso e analisou os documentos da BDO e não encontrou a discriminação dessa diferença. De acordo com a avaliação do órgão, a diferença de R$ 350 milhões oneraria os cofres do clube social da Portuguesa, que vai manter 20% das ações.

Portuguesa vive debate interno sobre termos da SAF. Foto: Portuguesa via Facebook

O posicionamento do COF de que o clube social pode ser onerado repousa sobre outros pontos. O COF encomendou pareceres junto à CDSB, empresa de consultoria de Sérgio Santos Rodrigues, ex-presidente do Cruzeiro que participou da implementação da SAF no clube mineiro, vendido para Ronaldo Fenômeno em 2021 - posteriormente, o ex-jogador negociou suas ações com o empresário Pedro Lourenço.

Publicidade

Em um primeiro documento, é sugerida que seja criada uma margem extra, além dos cerca de R$ 523 milhões até então calculados como divida total, no caso do surgimento de um passivo oculto posterior. Em novo parecer, após o compromisso de pagamento da Tauá ser atualizado para R$ 550 mil, é destacado que o próximo passo seria “entender se esta é uma margem suficiente para proteger” o clube.

Procurada pela reportagem, a Tauá Futebol pontua que, se novas dívidas forem descobertas, serão incluídas no processo de recuperação judicial (RJ) pelo qual o clube passa neste momento. O grupo também garante ter mapeado e conversado com todos os credores da Lusa para inclui-los na RJ.

O COF diz ser favorável à SAF e que tem feito pontuações para que a associação não seja prejudicada. Nos relatórios, o órgão também vê nova dívida sendo originada a partir dos investimentos prometidos ao departamento de futebol do clube. O compromisso é de investir R$ 12 milhões, captados no mercado, de forma que o COF entende que a SAF já nasce devendo empréstimos.

Esse primeiro aporte já está em andamento e, segundo a Tauá, já foram investidos R$ 10 milhões no clube até o momento. O plano era que os R$ 12 milhões fossem injetados até setembro, para quando está previsto um segundo aporte de R$ 18 milhões, quando devem se concluir os trâmites da recuperação judicial. Como restam ainda seis meses, a tendência é que o valor do primeiro aporte passe da quantia original.

Publicidade

Os investidores argumentam que a interpretação do COF está equivocada, porque não se trata de um empréstimo e sim de um investimento. Além disso, garantem que o clube social não será onerado por causa de dívidas e receberá 20% dos dividendos, como é seu direito frente à fatia que possui das ações.

Embora a transformação em SAF tenha sido aprovada em novembro do ano passado, e o contrato tenha sido assinado, as ressalvas apontadas pelo COF foram consideradas pelo presidente da Assembleia, Marcos Lico, que alegava que o resultado só seria homologado se as ressalvas levantadas pelo COF fossem aceitas pelos investidores.

Eles defenderam que essas recomendações foram contempladas no contrato assinado entre as partes. O COF entende que o documento continua com “pontos de atenção” que precisam ser observados para “resguardar os interesses do clube”.

A pressão fez Lico mudar de ideia, e ele decidiu retificar a ata da assembleia no último dia 10. Só que o cartório não reconheceu a ata retificada e sugeriu a realização de uma nova assembleia. A Portuguesa chegou a ir à Justiça e os investidores enviaram uma notificação alertando para um possível fim da parceria. Uma nova assembleia, a ser realizada nesta terça, 18, deve chancelar a ata da SAF.

Na prática, sem a oficialização da SAF, a Portuguesa não pode registrar novos atletas, nem receber cotas de televisão, valores de premiação etc. A Portuguesa SAF, para a Federação Paulista de Futebol (FPF) e para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), não existe, mesmo após R$ 10 milhões investidos pelos acionistas em três meses.

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.