Análise | Palmeiras de Abel Ferreira lembra o de Vanderlei Luxemburgo: inócuo e sem ideias

Time apresenta futebol pobre há mais de uma temporada, é incapaz de inovar e não causa problema algum ao Corinthians na final do Paulistão; ciclo de Abel terminou

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Foto do author Ricardo Magatti

O Palmeiras perdeu a oportunidade de erguer sua quarta taça seguida do Paulistão ao empatar sem gols com o Corinthians em Itaquera. A torcida se chateia com o vice do Estadual e se preocupa com o futuro porque, para além dos resultados, as apresentações são ruins. Abel Ferreira é incapaz de fazer o time jogar um bom futebol. Há meses que se repetem as atuações robóticas, pragmáticas e melancólicas. Não há inovação.

Se quiser arvorar troféus na temporada e não amargar o primeiro ano com Abel sem taças, o Palmeiras terá de jogar muito mais bola do que tem jogado. O time segue competitivo, só que o modelo de jogo está saturado e o treinador mais vitorioso da história do clube não encontra mais soluções como antes - também não indica estar com o mesmo apetite de anos atrás. Qual foi a última vez que ele descolou uma grande sacada? Seu ciclo parece ter chegado ao fim.

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O Palmeiras de hoje lembra o Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo, o antecessor de Abel, que sucedeu o experiente treinador em outubro de 2020 e caminha para seu último ano na equipe que transformou sua vida e carreira. É um time amorfo e inócuo. Não há coragem, ousadia, inovação, novas ideias.

Na final, o que se viu foi uma ode à cautela e a impressão de que a equipe jogou a decisão como se estivesse em campo para um duelo de primeira fase, não muito importante. Fora o pênalti sofrido por Vitor Roque e muito mal batido por Raphael Veiga, nada produziu o vice-campeão paulista. Melhor para o Corinthians, que não encontrou problemas em segurar o 0 a 0.

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Quem acompanha o Palmeiras sabe que, desde o segundo semestre de 2023, as apresentações não são boas. Há exceções, é claro, mas, no geral, a estratégia se resume a chutões, cruzamentos em direção à área e bola para Estêvão se virar contra os marcadores. Robótico e pragmático, o time mostra um limitado repertório de jogadas.

Raphael Veiga perdeu pênalti decisivo que resultou em vice do Paulistão Foto: Alex Silva/Estadão

O Paulistão do Palmeiras foi medíocre. O poderoso e rico clube paulista só dominou rivais pequenos, como o São Bernardo nas quartas, e graças a Estêvão, em noite feliz. Quando a joia palmeirense não está inspirada, como não esteve contra o Corinthians, não é tarefa árdua para o adversário se defender dos programados ataques palmeirenses. Surgem, então, algumas perguntas a Abel Ferreira:

  • Por que Estêvão nunca foi experimentado mais por dentro, como um 10, como foi em toda sua jornada nas categorias de base?
  • Por que os meias não se aproximam?
  • Por que a insistência em jogar com o mesma formação com dois pontas, um meia e um centroavante?
  • Por que Emi Martínez e Aníbal, dois volantes que nada criam, jogaram juntos a final?
  • Por que o letárgico Raphael Veiga tem vaga cativa entre os titulares?
  • Por que o Palmeiras não deu um chute sequer no primeiro tempo da final?
  • Por que Thalys, Luighi e Allan, que sempre jogaram bem nos poucos minutos que tiveram, não receberam mais chances no mata-mata?

O português lida mal com as críticas e questionamentos e não é o mesmo treinador sanguíneo e enérgico de anos atrás. Indica não querer mais estar onde está. Expulso no segundo tempo, o técnico não encontra soluções no bom elenco que têm à disposição. Em seu discurso, dá aos parabéns ao rival, cita Ayrton Senna, Telê Santana ou algum outro ídolo dele, repete que não é possível ganhar sempre e minimiza as derrotas. Na coletiva pós-vice, foi grosseiro e superficial. “O que faltou para o Palmeiras sair com o título?”, perguntou um repórter. “Fazer mais gols que o Corinthians”, respondeu o técnico. Ele segue sem explicar por que sua equipe retrocedeu.

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A torcida se preocupa com o declínio técnico de alguns das estrelas do time, como Raphael Veiga. Mas mais preocupante é a pobreza tática da equipe que até 2022 se acostumou a aniquilar seus rivais. Aquele time não existe mais, embora o elenco seja de bom nível, recheado de atletas talentosos, mas que seguem sem deslanchar, caso, principalmente, de Felipe Anderson. Por culpa dele e também de Abel Ferreira, que não consegue extrair o que tem de melhor o atleta, protagonista por anos na Lazio. Meses atrás, a torcida confiava: “Abel tem um plano”. Agora, deve se perguntar: “ele realmente tem um plano?” Não é falta de vontade, a questão é tática.

E Abel não pode mais se queixar porque tem em mãos um dos melhores e mais ricos elencos do País. Veio o tão pedido camisa 9, Vitor Roque, o sistema defensivo foi reforçado e o plantel está equilibrado. Raphael Veiga está mal faz tempo, é verdade, mas há Maurício, o genial Estêvão, Flaco mostrou ser útil e Paulinho ainda irá estrear. Existem, no plantel, jogadores que se completam, mas que têm de ser potencializados para que a equipe funcione coletivamente. O meio, principalmente, precisar criar mais.

Cabe ao português provar que é capaz, em quinta temporada - e última, segundo ele disse - de reciclar suas ideias, se renovar e transformar o time novamente em um dos melhores do continente. Isso inclui também deixar de insistir em atletas em declínio técnico e procurar soluções no plantel, o que é difícil para o treinador, apegado a seus homens de confiança.

Alguns deles não vivem a melhor de suas fases desde o ano passado. Weverton tem falhado seguidamente contra o Corinthians, Richard Ríos prejudica a equipe com sua habitual displicência e Veiga é improdutivo.

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O futebol burocrático não foi suficiente para conquistar o Paulistão, e certamente não será para ganhar Libertadores, Brasileirão e muito menos o Super Mundial de Clubes. É preciso inovar.

Análise por Ricardo Magatti

Repórter da editoria de Esportes desde 2018. Formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), com pós-graduação em Jornalismo Esportivo e Multimídias pela Universidade Anhembi Morumbi. Cobriu a Copa do Mundo do Catar, em 2022, e a Olimpíada de Paris, em 2024.

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