Análise | Fomos injustos com Tite e Neymar? Seleção brasileira está cada vez mais longe do hexa

Ciclos turbulentos promoveram times campeões no passado, mas Brasil precisa abandonar estratégias cautelosas e reconhecer talentos do futebol nacional para chegar como favorito na Copa do Mundo de 2026

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Foto do author Marcos Antomil
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O saldo da rodada de setembro das Eliminatórias foi negativo para o Brasil. Dorival Júnior, em 10 jogos pelo time nacional, não conseguiu mostrar nada além do que Fernando Diniz exibiu em suas seis partidas no comando da seleção. O Brasil pode chegar à final da Copa do Mundo de 2026, conforme prevê o treinador atual, mas não demonstra ser a trajetória dessa comissão técnica e atletas.

A seleção sofreu com desfalques causados por lesão, no entanto, havia possibilidade de evolução com o elenco disponível. O comandante peca pela estratégia pragmática de controle de jogo pela posse de bola. Sem dinamismo e ideias mais ousadas, essa seleção caminha para novo fracasso nos Estados Unidos, Canadá e México. Conforme apurou o Estadão, os confrontos restantes pelas Eliminatórias neste ano (contra Chile e Peru, em outubro; Venezuela e Uruguai, em novembro) serão decisivos para a continuidade do trabalho de Dorival Júnior.

Estêvão, Endrick e outros jovens talentos deveriam ser melhor aproveitados na seleção brasileira. Foto: Jose Bogado/AFP

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Sob o comando de Tite - hoje treinador do Flamengo -, a seleção brasileira não tinha dificuldades para bater os rivais sul-americanos. Mesmo assim, esse panorama provou não ser o suficiente para levar o País ao hexacampeonato mundial. O Brasil caiu em 2018 e 2022 para duas adversárias de nível intermediário, em tradição e nível futebolístico: Bélgica e Croácia. Ficou a sensação de que, com Tite, o Brasil não alcançou o apogeu e poderia ir além.

Críticas também recaem sobre Neymar, um dos raros craques formados pelo Brasil neste século. Espera-se sempre mais do principal atleta. Dedicação e liderança são virtudes sine qua non. Se faltou a Neymar nos últimos ciclos atender a essas características, Vinícius Júnior segue pelo mesmo caminho. Mesmo que por responsabilidade do treinador, o melhor jogador da seleção - cotado para ser o melhor do mundo - não pode ficar abandonado num canto, completamente desconectado dos demais atletas.

No momento em que se vê a seleção brasileira atuar da forma como tem jogado em 2024, é comum questionar se as avaliações feitas a Tite e Neymar foram justas. No entanto, entender que aquilo que o Brasil produziu entre 2016 e 2022 é o máximo revela um pensamento modesto que emagrece a história da seleção. O desempenho não foi bom sob Tite, Ramon Menezes, Fernando Diniz e não está bom sob Dorival Júnior. Isso não significa que não há solução, mas que essas opções provavelmente não são as ideais.

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O time estrelado de 2006 não foi capaz de bater a França de Zidane na última vez em que a seleção, em nomes, se mostrou melhor que as concorrentes. Em 2010, Dunga permitiu, durante o Mundial da África do Sul, que o sonho do hexa fosse revitalizado, mas falhas individuais despertaram os brasileiros dessa ambição. Na Copa no Brasil, em 2014, certamente o pior elenco levou a seleção mais longe desde 2002: o pesadelo do 7 a 1 contra a Alemanha na semifinal.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) esteve próxima de desafiar a história - que mostra que jamais um técnico estrangeiro foi campeão mundial - quando negociou com o italiano Carlo Ancelotti. A desordem institucional não permite ver um horizonte sereno. É fato que o futebol brasileiro pouco impacta na seleção brasileira. Corrigir problemas de calendário e gramado podem ajudar, mas não são primordiais para levar o Brasil ao sexto título mundial.

A Argentina é um exemplo. Ganhou em 2022 com um campeonato nacional bagunçado, uma estrela no fim de carreira e um técnico sem pompa. Até o mesmo o Brasil, em seus cinco títulos, viveu ciclos turbulentos. No século XXI, troféus conquistados dessa forma parecem mais obras do acaso e da individualidade. As últimas seleções europeias campeãs foram fruto de longos processos de reformulação e definição de estilo próprio de jogo: Espanha, em 2010, Alemanha, em 2014, e França, em 2018.

Colômbia, Uruguai, Paraguai e Equador, os quatro últimos adversários da seleção brasileira, têm diversos atletas que atuam no nosso futebol. Os brasileiros “europeus” ficam devendo para os sul-americanos “brasileiros”. A seleção deveria prezar pela qualidade técnica associada ao espírito vencedor. O atleta que não vive em um ambiente de grandes apetites não vai conseguir se transformar nos poucos dias que fica com a seleção. Times de meio de tabela da Inglaterra, Espanha, Itália e França dificilmente vão fornecer atletas com gana semelhante aos jogadores habituados com títulos de Palmeiras e Flamengo, por exemplo.

A seleção brasileira está atrás de Argentina, Colômbia e Uruguai e no mesmo patamar de Equador, Venezuela, Paraguai e Bolívia nas Eliminatórias. A grande favorita para a Copa do Mundo de 2026 é a Espanha, equipe com diversos elementos que deveriam servir de espelho para o Brasil se reencontrar e fazer das palavras de Dorival uma realidade em pouco menos de dois anos, seja com ou sem ele no comando.

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Análise por Marcos Antomil

Editor assistente de Esportes. Formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduado em Jornalismo e Transmissões Esportivas pela Universidad Nebrija (Espanha).

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