Arena da Portuguesa terá grama sintética, hotel ao lado e custará R$ 700 milhões

Projeto prevê a construção de uma arena parecida com o Allianz Parque, capaz de abrigar 30 mil pessoas em jogos e 50 mil em shows

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Foto do author Ricardo Magatti

Inaugurado há quase 60 anos, o Canindé está fechado desde janeiro, e não vai mais existir como conheceram milhões de torcedores, sobretudo os da Portuguesa, acostumados a assistir às partidas de seu time no estádio localizado na zona norte de São Paulo, próximo ao Terminal Rodoviário do Tietê, o maior do País. O estádio será demolido e vai virar uma arena multiuso.

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O projeto prevê a construção de uma arena de parecida com o Allianz Parque, casa do Palmeiras inaugurada em 2014 no lugar do antigo Palestra Itália. A ideia é que, além dos jogos da Portuguesa, o equipamento seja palco de diferentes atividades de entretenimento, de eventos corporativos a grande apresentações musicais.

A Revee, empresa que diz ser se dedicar a criação, revitalização e operação de espaços para eventos, tem acordo de direito de superfície com a Portuguesa, de modo que o clube aceitou conceder os 99 mil metros quadrados do Canindé à empresa por 50 anos, contados antes mesmo da inauguração da arena, em troca da reforma do estádio. Desde novembro do ano passado, a Portuguesa se tornou SAF, embora a venda à Tauá Partners (80% das ações) ainda não tenha sido homologada.

“Um equipamento que nem esse que a gente vai desenvolver representará uma mudança de patamar para a Portuguesa, mas é um projeto para a cidade de São Paulo. A ideia é que tudo converse, que tudo seja sinérgico, para ter a eficiência e entregar a experiência da melhor forma possível”, afirma Luís Davantel, CEO da Revee, em entrevista ao Estadão. “O show basicamente é plugar a guitarra e sair tocando, porque a gente vai entregar um equipamento muito pronto”, garante.

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O Canindé comporta 13 mil torcedores e será reaberto para acomodar 30 mil pessoas em jogos e 50 mil em shows. No complexo, haverá boulevard, um edifício garagem para 3.400 vagas cujo terraço será destinado a receber eventos para até 3 mil pessoas, e um hotel com 220 suítes. A proposta é trazer restaurantes, lojas, espaços de coworking e manter o complexo ativo, com grande circulação de pessoas.

Serão construídos 80 camarotes, as arquibancadas terão cobertura e o gramado será sintético, uma vez que seria inviável, diz Davantel, manter uma grama natural de boa qualidade em meio a tantos eventos. “Em gramado natural não pode ter show. Dá para ter quatro shows por ano, mais ou menos. O espetáculo do futebol e do show é ruim”.

Projeto do novo Canindé, que será transformado em arena multiuso Foto: Divulgação/Revee

O executivo esteve à frente da construção e da administração do Allianz Parque, trabalhando na WTorre e depois na gestão da arena palmeirense por quatro anos, antes de sair em 2023. Até por isso, o estádio do Palmeiras, espaço que mais recebe shows no mundo - em dez anos, foi palco de 230 apresentações musicais -, é inspiração para o projeto da empresa liderada por Davantel.

“É um modelo parecido, mas evoluído, porque a gente, de alguma forma, entende quais eram os pontos de dúvida”, diz ele, que vai errar, mas espera não repetir os erros cometidos na gestão do Allianz Parque. A arena palmeirense é modelo e, no futuro, será um concorrente. “O Allianz faz 40 shows por ano e tenho certeza que eles gostariam de fazer menos”.

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Ele disse ter visitado diferentes estádios no Brasil e no mundo, principalmente na Europa, antes de o projeto ter sido desenhado, juntando todas as referências buscadas.

A ideia não é copiar, é um negócio meio híbrido, é fazer um mix do operacional com a nossa realidade econômica. Seria fantástico fazer o que o Real Madrid fez no Santiago Bernabéu, mas não dá. Adequamos as experiências que temos à nossa realidade econômica e operacional.

Luís Davantel, CEO da Revee

O Allianz Parque consegue, hoje, desmontar a estrutura de um show em 12 horas para que a bola role no dia seguinte a uma apresentação musical, como ocorreu no último domingo, na final do Paulistão. Esse trabalho será ainda menor e mais rápido na arena da Portuguesa, promete o executivo.

O projeto tem um corte na arquibancada para deixar toda estrutura pronta para outros eventos, que não seja futebol. Eu posso ter um show no sábado à noite e um jogo domingo de manhã porque a desmontagem é fácil.

Luís Davantel, CEO da Revee

Fechado desde janeiro, Canindé dará lugar a arena multiuso Foto: Márcio Fernandes/Estadão

Seu plano é que, como o Allianz já faz e pretende fazer também o novo Pacaembu, o futuro estádio da Portuguesa seja palco de diferentes eventos: corporativos, religiosos, feiras de agronegócio, galerias de arte, etc. “Há desafios, mas acho que cabe”.

A obra foi orçada, inicialmente, em R$ 500 milhões. Mas o complexo todo não será entregue por menos de R$ 700 milhões, segundo a projeção da gestora. “Como anexamos o hotel no projeto, então vai passar de R$ 500 milhões. Acho que será entre R$ 650 e 700 milhões o (valor) do complexo inteiro”.

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Na modernização está incluído o clube social da Portuguesa, que espera gerar receitas com a venda de títulos para associados. Quanto ao estádio, 100% da bilheteria será revertida à agremiação, que terá direito também a uma porcentagem de todas receitas geradas na arena, incluindo alimentação, venda de camarotes e naming rights. O percentual ainda não está definido.

A arena não será inaugurada antes de 2028. A previsão é que a demolição comece no fim deste ano e as obras, que devem levar de 24 a 30 meses, tenham início no ano que vem. Antes disso, é necessário que o projeto seja aprovado.

Há um longo caminho para ser percorrido, entre comissões, secretarias e órgãos da Prefeitura, até que seja dado o alvará que permite o começo da reestruturação do Canindé. Davantel está otimista de que o projeto seja protocolado para aprovação em abril. “É um projeto de fácil aprovação”, acredita. Procurada pela reportagem, a Prefeitura não se manifestou.

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Luis Duvantel, CEO da Revee, empresa responsável pela reforma do complexo do Canindé Foto: Felipe Rau/Estadão

Portuguesa em outros estados

Jogar em um estádio cujo dono não será mais a Portuguesa terá seu ônus para o time no futuro. Como ocorre com o Palmeiras no Allianz Parque, a projeção é de que shows marcados na arena tire a equipe de seu estádio. Como compensar isso? O plano da Revee é levar a equipe para outros equipamentos da gestora no País.

“A gente tem a Fonte Luminosa, em Araraquara, desde setembro de 2023 e estamos em negociação muito avançada com a Arena das Dunas. Fizemos manifestação de interesse por outras arenas da Copa, para governos do Mato Grosso, de Manaus”, revela Davantel. “A Portuguesa pode jogar no Centro-Oeste, no Nordeste, temos que pensar em promover a marca da Portuguesa”.

Todos os investidores - Tauá e Revee - creem que a Portuguesa possa subir de divisões até chegar à elite do futebol brasileiro em 2028. O sucesso esportivo ajudaria a atrair público para a futura arena, grande, em tese, para uma torcida pequena, que não pontuou nas pesquisas mais recentes e que esteve longe de encher o Pacaembu em seus jogos no Paulistão.

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