Bandeiras nas vitrines e nas sacadas, camisa da seleção vendida nos camelôs, nas lojas oficiais e sendo usada por garçons e passantes nas ruas - a Argentina vive com grande expectativa o início da Copa do Mundo do Catar. E, ao contrário do Brasil, onde o uniforme da equipe de Tite ganhou pesada conotação política, os portenhos saboreiam o que acreditam ser a grande chance de conquistar o terceiro título. E, de quebra, consagrar a despedida de Messi.
Nem os cortes inesperados de González e Correa, por contusão, logo após a fácil vitória (5 a 0) no amistoso contra os Emirados Árabes, abalaram o otimismo da torcida. “A equipe está invencível há vários jogos, amadureceu, é a hora de conquistar outra Copa”, acredita José Garcia, 65 anos, garçom de um restaurante popular em Buenos Aires. Assim como seus colegas, ele trabalha ostentando a camisa da seleção que não perde há 36 jogos, todos com o nome de Messi grafado nas costas.
O atacante é o ídolo inconteste dos argentinos - seu único rival em popularidade é um craque morto há um ano, Diego Maradona. Pelas ruas da capital, é possível encontrar bandeiras com a estampa dos dois jogadores, uma corrente da genialidade argentina no futebol. Maradona também é lembrado em enormes murais pintados em laterais de prédios nas avenidas que dão acesso ao centro. Já Messi faz a alegria de camelôs, que vêm esgotar em poucos minutos as camisas piratas vendidas a R$ 75 (pelo câmbio oficial) o modelo infantil e a R$ 90 o adulto.
“Meu filho não sossegou enquanto não viemos até aqui comprar o uniforme”, disse uma mulher que preferiu se identificar apenas como Maria. Ao seu lado, era possível ver os olhos do garoto brilhando. A compra foi feita no chão da Calle Florida, outrora rua de lojas elegantes, hoje tomada por inúmeros cambistas que disputam no berro os turistas interessados em trocar moedas estrangeiras pelo peso argentino, usando a cotação paralela.
Atrás de dona Maria, era possível ver a entrada de uma das lojas da livraria El Ateneo, uma das mais conhecidas de Buenos Aires. Em sua vitrine, rodeada de best-sellers estava uma baixa de bandeirolas com o tradicional hino de apoio à seleção, Vamos Argentina, além de uma bola estilizada. Ou seja, independente do produto comercializado, as lojas se enfeitam com dizeres em apoio à equipe de Messi, seja no espaço onde se vende doce, na farmácia ou nos quiosques com a tradicional empanada.
Nos shoppings, a situação não é diferente: vários grupos de torcedores se aglomeraram em torno de aparelhos de TV que transmitiam o amistoso contra os Emirados Árabes. Como era na hora do almoço, a quantidade era grande, assim como o grito para cada gol. Pegando carona, uma tradicional rede de sanduíches oferecia refrigerante em copos azulados de papel com a enfática mensagem: “Chegou o momento de sermos mega argentinos.”
Já os programas de televisão gastam horas em discussões sobre cada setor do campo e as escolhas feitas pelo treinador Lionel Scaloni. Uma entrevista com Messi feita por outro grande nome do futebol argentino, Jorge Valdano, hoje comentarista, alcançou boa audiência, a ponto de ser reprisada outras vezes.
E, para coroar tamanho otimismo, o jogo eletrônico da Fifa, depois de simular todas as partidas do Mundial do Catar, apontou a Argentina como provável campeã. Detalhe: desde 2010, o game acertou todos os campeões, ou seja, Espanha (2010), Alemanha (2014) e França (2018).
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