Bia Souza busca o ouro que falta e espalha palavra do amor-próprio: ‘Quero ser uma imagem de força’

Campeã olímpica tem Mundial de Judô como grande missão do ano, enquanto assume papel de voz influente na luta por diversidade e acesso democrático aos esportes no Brasil

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Foto do author Bruno Accorsi

Bia Souza parece inabalável e gosta de transmitir tal imagem, embora também tenha seus momentos de fraqueza. No fim das contas, o mais importante para a medalhista olímpica de ouro nos pesados (mais de 78 kg) do judô é mostrar a própria força, no tatame e por meio das palavras, para que mais pessoas possam se sentir fortes.

Mesmo com o Mundial de Judô pela frente, em junho, quando vai buscar a medalha de ouro que lhe falta, ela vive o início da temporada 2025 de forma tranquila, enquanto continua comprometida com a missão de inspirar, especialmente meninas negras e com corpos fora do padrão. “Quando a pessoa fala que começou a fazer o judô ou algum esporte porque me viu, gostou da minha história, isso me deixa de coração quentinho”, diz ao Estadão.

Bia Souza foi medalhista de ouro no judô durante os Jogos Olímpicos de Paris.  Foto: Alex Silva/Estadão

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A judoca de 26 anos está confortável em ser um ídolo e quer que aqueles que gostam dela estejam confortáveis consigo. Quando era mais jovem, teve trocas com nomes de peso do judô, como as medalhistas olímpicas Ketleyn Quadros e Sarah Menezes, durante os Jogos Escolares, e foi transformada por esses encontros.

“Passaram sempre a mensagem de que daria certo, de que com esforço e dedicação a vitória chegaria. De que bastava acreditar, e eu quero poder passar essa imagem também, de força, de que é possível, de que é necessário sonhar e sonhar alto, e se dedicar da mesma forma, para poder conquistar”, conta. “Eu fico muito feliz de estar nessa posição agora. Já estive no lugar deles também, já fui a pessoa que estava ali procurando inspiração.”

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Durante uma vivência promovida pelo Sesc, na unidade 14 Bis, nos primeiros dias de 2025, Bia contou um pouco de sua história e fez uma demonstração para cerca de 350 pessoas, das quais praticamente metade eram crianças, muitas delas de escolas de judô.

“Ter a Bia Souza na programação do Sesc Verão reforça, de maneira potente, o compromisso do Sesc com a valorização da diversidade e o acesso democrático ao esporte. Ela não apenas inspira por suas conquistas como atleta medalhista de ouro, mas também por representar corpos e histórias muitas vezes excluídos do espaço esportivo”, comenta Carol Seixas, Gerente de Desenvolvimento Físico-Esportivo do Sesc.

“A presença de uma mulher negra e referência no esporte amplia perspectivas, quebra estereótipos e traz à tona a importância de um ambiente inclusivo onde todas as pessoas, independentemente de gênero, cor ou biotipo, possam se enxergar e se sentir acolhidas. Essa conexão entre o esporte e os valores do Sesc é fundamental para que o movimento, além de físico, seja também social e transformador”, conclui.

A judoca tem a oportunidade de ser ator dessa transformação fora dos tatames e de ambientes totalmente ligados ao esporte. No final de 2024, por exemplo, foi capa da edição brasileira da revista Elle, uma das principais publicações das áreas de moda e estilo de vida. Está em seus planos mostrar um pouco mais do que o lado atleta.

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“Já me acostumei a viver em vários lugares, mas, ainda assim, eu tento trabalhar mais minhas redes sociais, quero mostrar um pouco mais da vida do atleta, e do ser humano. Não somos máquinas. Parecemos, mas não somos. Eu fico muito feliz de ter alcançado e ter impactado de uma forma tão grandiosa os brasileiros, entrei na casa de cada um , emocionei todo mundo. Foi de forma muito mágica. Estou aproveitando cada oportunidade que eu posso. Estou gostando da carreira de modelo, é muito divertido, mas sempre focada no judô. É um novo mundo, muito legal e muito divertido”, explica.

Bia Souza compartilhou sua história durante evento no Sesc 14 Bis. Foto: Alex Silva/Estadão

Convivência com ídolos e a busca pelo novo ouro

Em sua jornada rumo ao ouro olímpico, Bia Souza sempre esteve rodeada de mulheres que a ajudaram se tornar a superatleta e a pessoa que é hoje. Sempre que pode, valoriza o quão importante é sua relação com Maria Suellen, para quem perdeu a vaga na Olimpíada de Tóquio, quatro anos depois de ajudá-la na preparação para os Jogos do Rio. No ciclo de Paris, a Sussu, como é carinhosamente chamada por Bia, foi treinadora da campeã olímpica. A parceria continua com foco em Los Angeles-2028.

“Eu conheço a Sussu desde nova. Fui ajudar ela na Olimpíada do Rio, em tudo que precisasse. A gente estava ali trabalhando desde os treinamentos, bem antes da Olimpíada. Ela sempre foi uma mulher forte, sempre fiquei admirando. Em Tóquio, a gente chegou a disputar a vaga. A gente sempre se respeitou muito, o que ficou muito mais fácil quando ela se tornou técnica. Uma troca muito sincera entre nós duas. No final de Tóquio, a gente estava conversando e ela falou que não queria continuar no alto rendimento, que pensava em ser técnica. E eu falei: ‘então, querida, eu estou aqui’ (risos), vou continuar, a gente pode trabalhar juntas’”, lembra.

A judoca paulista também aprendeu muito com Mayra Aguiar, dona de três bronzes olímpicos, conquistados em Londres-2012, Rio-2016 e Tóquio-2020. Até Rebeca Andrade conseguir quatro medalhas em Paris-2024 e chegar ao total de seis pódios em Olimpíadas, a gaúcha era, ao lado da jogadora de vôlei Fofão, a maior medalhista do Brasil entre as mulheres.

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Mayra anunciou aposentadoria em dezembro de 2024, após dividir quarto com Bia durante muitas viagens para a disputa de campeonatos ao redor do mundo, durante os quais apelidou a colega de ‘Ursinho’.

“Eu amo a Mayrão, não tem como não falar dela. É uma mulher brilhante. Uma das pessoas que me adotou quando eu cheguei na seleção. Desde muito nova, ela sempre cuidou muito bem de mim. Tanto que foi ela que me deu o apelido de ‘Ursinho’. Ela tem um legado maravilhoso. É incrível a história dela de luta, desde sempre”, diz Bia.

“Como atleta, a gente entende que voltar de uma lesão é extremamente difícil, ter que recomeçar, se reconstruir, toda vez. Ela veio de inúmeras lesões e sempre sempre medalhando. É um ícone olímpico para o mundo inteiro, o mundo inteiro conhece e sabe quem é. É alguém que eu carrego no coração para sempre, a gente é muito amiga. Eu entendo, ela construiu toda a história dala e encerrou a carreira no judô totalmente em paz, cabeça tranquila”, conclui.

Bia Souza vai buscar o ouro no Mundial de Judô, em junho. Foto: Alex Silva/Estadão

Sem lesão para se recuperar, mas com muito cuidado para chegar inteira ao Mundial, Bia Souza ainda está no início da preparação para a temporada e não sabe qual vai ser a primeira competição que disputará no ano. É certo que, em fevereiro, não estará no Grand Slam de Paris, cidade na qual subiu ao lugar mais alto do pódio na Olimpíada.

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O Mundial será disputado em Budapeste, entre os dias 13 e 20 de junho. Ganhar medalhas na competição não seria novidade para Bia, mas o ouro nunca veio. Em Mundiais, tem duas pratas e quatro bronzes entre as disputas individuais e por equipes. A busca por um feito inédito na carreira, como era alcançar o pódio olímpico, não tira o sono da judoca.

“Eu estou muito tranquila, na verdade. Eu amo competir. Claro que eu vou para a competição pensando em ser campeã, quero a medalha de ouro. Mas quero sempre colocar em prática tudo aquilo que eu venho treinando, me sentir bem, me sentir à vontade. Competição é sempre o melhor dia da minha vida, é um dia mega divertido. Eu vou em busca, sim, da medalha de ouro, quero muito trazer ela para fechar esse pódio no Mundial. A última que falta”, diz.

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