Miguel Angel Borja ganhou os holofotes do futebol brasileiro ao marcar quatro gols pelo Atlético Nacional, da Colômbia, contra o São Paulo nos duelos das semifinais da Copa Libertadores de 2016. A equipe de Medellín ficou com o título daquela temporada, e o centroavante foi eleito o 'Rei da América' pelo tradicional jornal uruguaio El País. Desde então, seu nome esteve vinculado a importantes clubes do Brasil, principalmente ao Palmeiras, que buscava um novo atacante após a conquista do Campeonato Brasileiro.
As negociações entre Atlético Nacional e Palmeiras não foram simples. Elas se arrastaram por semanas e foram envoltas por blefes e especulações. Já com a temporada 2017 em andamento, Alexandre Mattos, então diretor de futebol da equipe palestrina, viajou à Colômbia para finalizar as tratativas e convencer o colombiano a se transferir para o futebol brasileiro e não para um clube da China, que havia feito proposta ainda mais tentadora.
Os recursos empregados na negociação vieram da patrocinadora. Foram cerca de R$ 34 milhões gastos na aquisição de 70% do contrato do jogador. Foi a compra mais cara da história do Palmeiras e ela se transformou em uma bola de neve formada por dívidas e insatisfação pelo futebol apresentado por Borja na equipe alviverde. Em 2020, o Palmeiras se viu obrigado, por decisão da Fifa, a cumprir cláusula do acordo junto ao Atlético Nacional e pagar mais seis parcelas de US$ 500 mil (totalizando cerca de R$ 16 milhões) para ficar com 100% dos direitos do atleta.
Borja foi recebido com grande festa no Aeroporto de Cumbica (Guarulhos). Torcedores do Palmeiras carregaram o jogador nos ombros enquanto cantavam: "O Borja vem aí e o bicho vai pegar". O colombiano fez sua estreia no dia 25 de fevereiro de 2017, em jogo com a Ferroviária pelo Paulistão, e já chegou deixando sua marca. Marcou o terceiro gol da goleada por 4 a 1. Borja tinha uma ingrata missão, ocuparia a posição deixada por Gabriel Jesus, que fora negociado meses antes com o Manchester City. O colombiano brigava por vaga no time com Alecsandro e Rafael Marques.
Em sua primeira temporada, Borja não conseguiu se firmar, fosse com o técnico Eduardo Baptista ou Cuca. Ganhou mais chances na Libertadores de 2017, mas não balançou as redes. No ano seguinte, com Roger Machado e, posteriormente, Felipão, o colombiano marcou nove gols na competição continental, reafirmando sua ligação com o torneio. A temporada de 2019 tirou qualquer brilho que ainda houvesse nos olhos dos palmeirenses quando o assunto era Borja. O colombiano pouco jogou e sabia que em 2020 seu destino seria longe do Palestra Itália.
VOLTA À COLÔMBIA
Assim, ele foi emprestado para o Junior de Barranquilla, seu time do coração, voltando a seus melhores dias e recuperando espaço na seleção colombiana. No início de 2021, Borja teria a possibilidade de retornar ao Palmeiras, que disputava, àquela altura, as semifinais da Libertadores. O técnico Abel Ferreira entrou em contato com o centroavante, mas não ouviu o que queria. O colombiano teria dito que esperava ser o titular da equipe, segundo relato do próprio técnico português, que optou por indicar à direção palmeirense que o ideal seria mantê-lo emprestado.
Com um bom primeiro semestre pela equipe de Barranquilla, Borja esteve novamente disponível para o técnico Abel Ferreira. Passados alguns dias no clube, voltou a ser emprestado, mas dessa vez para o Grêmio, onde reencontrou Luiz Felipe Scolari. No tricolor gaúcho, marcou cinco gols, mas eles não foram suficientes para salvar a equipe do terceiro rebaixamento.
Apesar da temporada não terminar da maneira ideal, Borja conseguiu números razoáveis, tendo assinalado 19 gols em 42 jogos. Seu desempenho despertou novamente o interesse do Junior, onde deixou saudades. Agora, será oficialmente jogador do time de Barranquilla, que comprou 50% do contrato do atleta por US$ 3,5 milhões (R$ 20 milhões aproximadamente). O Palmeiras mantém metade dos direitos econômicos do centroavante e poderá lucrar em caso de venda futura.
Borja tem um estilo de jogo bastante peculiar. Pouco hábil com a bola nos pés, costuma ter a seu favor jogadas com no máximo dois toques até a finalização. O famoso pivô não é o forte do colombiano. Borja não se encaixou ao modelo de jogo do Palmeiras. A venda de um porcentual de seus direitos vem carregado com uma mescla de sentimentos de alívio e decepção. A contratação do colombiano deixou ensinamentos no Palmeiras, que planeja cada vez melhor suas contratações - sem se deixar levar por pedidos dos torcedores - para não repetir outra negociação nesses moldes.
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