PUBLICIDADE

Botafogo x Palmeiras: como Textor e Leila foram de aliados a inimigos na Justiça

Dirigentes sentaram-se à mesma mesa para botafoguense assinar acordo da Libra em 2022, mas acusações e troca de farpas minaram relação entre a dupla protagonista do futebol brasileiro

PUBLICIDADE

Foto do author Bruno Accorsi

Botafogo e Palmeiras se enfrentam nesta quarta-feira, às 21h30, nas oitavas de final da Libertadores, em duelo permeado por uma rivalidade construída nos bastidores pela presidente palmeirense Leila Pereira e o dono do SAF botafoguense, John Textor. Os desentendimentos começaram no ano passado, quando o americano levantou acusações de manipulação no Brasileirão, que tinha o título disputado justamente pelas duas equipes. Nem sempre, contudo, a relação entre os dois dirigentes foi conturbada.

A Crefisa patrocina o Palmeiras desde 2015, mas Leila entrou com tudo na vida política do clube em novembro 2021, quando foi eleita presidente. No mês seguinte do mesmo ano, John Textor assinava o acordo que encaminhara a compra de 90% das ações da SAF do Botafogo, concretizada em março de 2022.

Em 2022, John Textor (centro) assinou acordo com a Libra ao lado de Leila Pereira e Julio Casares. Foto: Divulgação/Botafogo

Ambos começaram a viver profundamente o futebol brasileiro quase que simultaneamente, em um momento de mudanças e de forte debate sobre a necessidade de profissionalizar as gestões dos clubes nacionais. Leila e Textor surgiram como símbolos dessa nova fase, marcada também pela iniciativa da criação de uma liga.

PUBLICIDADE

A ideia inicial era de união para fortalecer o Campeonato Brasileiro e dividir as premiações e cotas de transmissão de forma mais igualitária, porém o desfecho foi de divisão. A princípio, Botafogo e Palmeiras estavam do mesmo lado, dentro do bloco Liga Independente do Brasil (Libra).

Quando a associação foi fundada, no início de maio de 2022, o time alviverde estava entre os cabeças e assinou o estatuto da liga ao lado de Flamengo, Corinthians, São Paulo, Santos, RB Bragantino, Ponte Preta e Cruzeiro. No mesmo mês, alguns dias depois, o Botafogo se juntou ao grupo e assinou o documento ao lado de Leila Pereira e Julio Casares, presidente do São Paulo.

“Fiquei impressionado com a recepção calorosa que recebemos de um grupo com grandes dirigentes do esporte nacional. Também fiquei surpreso com a mente aberta do grupo e suas novas ideias. Ficou óbvio que teríamos grande sucesso juntos em levar o futebol brasileiro de volta ao seu lugar de direito no mundo. Podemos lutar uns contra os outros em campo, mas seremos imbatíveis enquanto parceiros na construção de uma Liga para deixar os brasileiros orgulhosos”, disse o americano na ocasião, em comunicado oficial.

Mais de um ano depois, em junho de 2023, Textor anunciou que o clube carioca estava deixando a Libra. A princípio, sinalizou que negociaria os direitos de transmissão de forma independente, sem se associar a nenhum grupo. Em novembro, contudo, o Botafogo se juntou à Liga Forte União, oposição à Libra.

Publicidade

O dono da SAF botafoguense afirmou, em entrevista ao GE na época, que mudou de direção por não concordar com a forma que a situação era conduzida na Libra e por ver o grupo preso a “velhas discussões de anos atrás”, sem citar nenhum integrante diretamente.

As suspeitas de Textor

O desentendimento com Leila Pereira, ao menos publicamente, nunca foi relacionado por Textor à disputa entre as ligas. A briga começou depois da incrível virada por 3 a 2 do Palmeiras sobre o Botafogo, com show de Endrick, em novembro do ano passado, resultado determinante para o time paulista desbancar os botafoguenses na disputa pelo título brasileiro.

Ao fim da partida, o americano esbravejou contra a expulsão de Adryelson e protagonizou o que seria a primeira de muitas acusações feitas por ele sobre supostas manipulações no Brasileirão. Chegou, inclusive a pedir a renúncia de Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF.

“Não tenho certeza nem se foi falta. Mas não é cartão vermelho, ele mudou o jogo. Isso é corrupção, isso é roubo. Por favor, me multa, Ednaldo, mas você precisa renunciar amanhã de manhã. É isso que precisa acontecer. Esse campeonato se tornou uma piada. Ninguém merece isso, esses jogadores do Palmeiras não querem ganhar desse jeito, nós não queremos perder desse jeito”, disse na ocasião.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Textor chegou a ser punido preventivamente por 30 dias pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) por causa da declaração, mas se apegou ao discurso. No dia da penúltima rodada do Brasileirão de 2023, 6 de dezembro, enviou ao STJD um ofício no qual pedia que fossem tomadas providências em relação a um relatório encomendado pelo Botafogo junto à empresa Good Game. O documento teria evidências que comprovaram manipulação de resultados.

No mesmo dia do pedido de Textor, o Palmeiras se tornou campeão brasileiro ao empatar por 1 a 1 com o Cruzeiro, confirmando a frustração do Botafogo, que foi líder durante a maior parte do campeonato e deixou as coisas desandarem na reta final. Já campeã, Leila rebateu o botafoguense .

“Me causa estranheza porque eu acho que o proprietário está desequilibrado. O Botafogo liderando por tanto tempo o campeonato, dá todo esse problema, a turbulência e perder esse campeonato acho que o Textor ficou desequilibrado”, disse. “Chega até a ser ridículo. Ele desprestigia, desvaloriza esse produto tão importante que é o futebol. Ele deveria ter mais serenidade. É uma parte de desequilíbrio do senhor John Textor.”

Publicidade

Endrick comemora um dos gols marcados no Botafogo no Brasileirão de 2023. Foto: Cesar Greco/Palmeiras

2024 reforçou rivalidade

A partir daquele momento, instaurou-se o clima de oposição entre os dirigentes, que cresceu ainda mais durante a temporada 2024. Em abril, o tom acusatório do americano engrossou, como durante sua participação na CPI da Manipulação de Resultados, no Senado, em que disse estar certo que o Palmeiras foi beneficiado, embora não tenha atribuído culpa ao rival paulista.

“Não vejo contradição. Baseado no que acredito, nas evidências que temos, vamos comprovar que o Palmeiras foi beneficiado por manipulação de resultados em 2022 e 2023. Eu nunca aleguei que o Palmeiras ou o São Paulo, como clubes, estariam por trás disso. O Julio (Casares, presidente do Palmeiras) é uma das pessoas mais receptivas a mim. Me abraçou e disse que minha presença foi transformadora”, comentou.

A resposta de Leila deixou a discussão mais grave, com direito a ofensas durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. “Esse senhor, com o perdão da expressão, é um idiota. O que esse John Textor está achando é que o Brasil é uma bagunça e que as autoridades não tomam providência nenhuma. Para se coibir isso, acho que esse homem tem que ser banido do futebol brasileiro.”

Em meio às declarações polêmicas, o Palmeiras entrou com uma ação na Justiça do Rio contra Textor, exigindo a apresentação de provas concretas de manipulação. Do outro lado, o americano moveu um processo por injúria e difamação contra Leila, processo em andamento no Vara Criminal de São Paulo.

Segundo os autos, Textor alega ter sido ofendido pela presidente palmeirense em três ocasiões. A primeira quando foi chamado por ela de “fanfarrão”, em entrevista para a CazéTV, no dia 7 de abril. A segunda, um dia depois, quando o chamou de “vergonha do futebol nacional”. E a terceira, durante a participação no programa “Roda Viva”.

A rivalidade fomentada pelos dirigentes foi comprada por parte dos torcedores de cada clube, a ponto da construção de um cenário potencialmente violento. No reencontro entre as duas equipes, em julho, pela 17ª rodada do Brasileirão, bonecos com rostos de Leila e Ednaldo Rodrigues foram pendurados simulando uma cena de enforcamento nas proximidades do Nilton Santos, antes da partida.

A ação de torcedores botafoguenses foi feita em frente ao setor sul do estádio, que é destinado aos visitantes. A mandatária palmeirense e o clube carioca repudiaram o ato.

Publicidade

“A rivalidade deve sempre se restringir ao campo de jogo. Entendo que o esporte precisa de dirigentes responsáveis, que não fomentem a violência”, disse Leila, que não viajou ao Rio na ocasião para evitar um possível encontro com Textor. O Botafogo repudia veementemente as ameaças e atos criminosos manifestados contra a Presidente do Palmeiras, Leila Pereira, e o Presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. Tão logo tomou conhecimento, a Diretoria solicitou ao policiamento que agisse imediatamente”, manifestou-se o clube carioca em nota oficial.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.