A relação entre Corinthians e Caixa Econômica Federal estremeceu nos últimos dias por causa da dívida da arena em Itaquera. O banco notificou o clube extrajudicialmente nesta quinta-feira, informando a execução da dívida total do financiamento do estádio. Atualmente essa dívida gira em torno de R$ 450 milhões. O Corinthians emitiu comunicado logo em seguida para informar que procurará meios legais para se defender.
"Se a CEF (Caixa Econômica Federal) escolheu trocar a rota da negociação (que existia entre as partes) pela do confronto, não cabe ao clube outro recurso senão defender na Justiça seus direitos", informou o Corinthians por meio de nota oficial. A decisão da Caixa pegou o clube de surpresa.
O clube e o banco negociavam amigavelmente até então novo parcelamento da dívida de R$ 450 milhões. Desde o ano passado, existe um acordo entre as partes. Esse acerto de boca só não foi sacramentado até agora, segundo explicações do Corinthians, pela "perspectiva da iminente troca de comando da Instituição financeira".
O Estado já detalhou em reportagem anterior que o acerto prévio teria validade até 2028. O clube pagaria parcelas mensais de R$ 6 milhões, de março a outubro de cada temporada, e R$ 2,5 milhões entre novembro e fevereiro, período em que há um menor número de jogos no calendário do futebol brasileiro. No começo do ano, os times estão se preparando para a temporada e no fim, quem não tiver outros competições, só disputam o Brasileirão, pelo calendário atual.
"Como não houve interrupção do diálogo e tudo caminhava para um acordo mutuamente vantajoso, não há como compreender o gesto intempestivo, que sequer foi previamente comunicado à agremiação", informou os diretores do Corinthians. O clube não revela quanto já pagou do estádio em Itaquera, tampouco o total de juros assumidos da dívida. O presidente Andrés Sanchez admite, no entanto, que 70% do dinheiro ganho na arena com bilheteria é revertido para o pagamento da dívida do estádio.
A Caixa emprestou inicialmente R$ 400 milhões ao Corinthians para a construção do estádio. Desde o início do financiamento, em 2014, o clube pagou cerca de R$ 160 milhões, sendo R$ 80 milhões de fevereiro de 2018 até agora. Mas como corre juros mensais, a dívida atual está na casa dos R$ 450 milhões.
"O Sport Club Corinthians Paulista informa que enquanto finalizava negociações com a Caixa para um reperfilhamento do financiamento da Arena - processo iniciado nos primeiros dias da atual gestão -, foi surpreendido por uma notificação extrajudicial alegando que diversos procedimentos prescritos pelo atual contrato não estariam sendo cumpridos", informou a nota.
Ninguém questiona as parcelas pagas pela atual gestão. Elas estão em dia há mais de um ano. "O clube continua aberto a voltar à mesa de negociação, se a Caixa optar por prosseguir a trajetória amigável que juntos vínhamos construindo até aqui", encerrou a nota corintiana. O Estado procurou a Caixa, mas até o momento ela não se manifestou.
O embroglio acontece no momento em que o Corinthians encaminhava acerto também com a Odebrecht. Além dos 400 milhões de dívida com a Caixa, o clube havia se comprometido a pagar R$ 420 milhões para a construtora. Esse valor viria por meio dos CIDs (Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento), da Prefeitura de São Paulo. Por causa os juros, a Odebrecht cobrava R$ 800 milhões. O Corinthians informou em agosto que pagaria no máximo R$ 160 milhões além dos R$ 420 milhões via CID.
Confira a íntegra da nota do Corinthians
O Sport Club Corinthians Paulista informa que enquanto finalizava negociações com a Caixa para um reperfilhamento do financiamento da Arena – processo iniciado nos primeiros dias da atual gestão — foi surpreendido por uma notificação extrajudicial alegando que diversos procedimentos prescritos pelo atual contrato não estariam sendo cumpridos.
Esta mudança de atitude não encontra respaldo na realidade dos fatos. Um acordo preliminar de adequação do contrato ao fluxo de caixa efetivo da Arena havia sido negociado há quase um ano, mas ficou suspenso pela perspectiva da iminente troca de comando da Instituição, à espera da orientação da nova gestão. Desde então, os compromissos vinham sendo honrados, como se os termos do acordo preliminar estivessem vigendo.
Além dos ajustes financeiros, a Caixa requeria a implantação de procedimentos administrativos com os quais o clube esteve sempre de acordo e cuja implementação dependia, como depende, de procedimentos dentro da Caixa até hoje não especificados definitivamente.
Assim, tanto no plano financeiro como no administrativo, o clube sempre se pautou por total transparência quanto à sua atuação operacional e subordinação inconteste a um processo de pagamentos compatível com a realidade financeira do mercado esportivo atual. Como não houve interrupção do diálogo e tudo caminhava para um acordo mutuamente vantajoso, não há como compreender o gesto intempestivo, que sequer foi previamente comunicado à agremiação.
Ao contrário de inúmeras outras arenas que receberam da mesma linha de financiamento, o clube nunca repudiou sua dívida nem deixou de dialogar com o repassador destes recursos, a CEF, quando dificuldades transitórias se interpunham. Se a CEF escolheu trocar a rota da negociação pela do confronto, não cabe ao clube outro recurso senão defender na Justiça seus direitos.
O clube continua aberto a voltar à mesa de negociação, se a Caixa optar por prosseguir a trajetória amigável que juntos vínhamos construindo até aqui.
TIRE SUAS DÚVIDAS
O Corinthians corre o risco de perder a Arena?
Por enquanto não. Se Corinthians e Caixa não entrarem em acordo, deverá haver uma longa briga judicial. O clube tem direito a entrar com recurso e questionar a decisão do banco. Isso poderá levar anos.
O que a Caixa pode fazer?
Para receber o dinheiro, o banco pode exigir as garantias financeiras. Ou seja, fazer com que se cumpra o contrato assinado entre as partes.
Quais as garantias estabelecidas pelo Corinthians?
Para conseguir o financiamento, o clube colocou como garantia do pagamento de R$ 400 milhões parte do terreno do Parque São Jorge.
O clube então pode perder parte do local onde é sua sede?
Existe esse risco, mas a execução de imóveis é um processo longo e até lá pode haver um novo acordo enre as partes.
O Corinthians deixaria de jogar na arena?
Não, o processo vai correr na Justiça, em caso de não acerto, e, enquanto isso, o clube continuará se valendo do seu estádio.
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