Lionel Messi vive um momento especial com a camisa da Argentina. O craque de 35 anos já não carrega mais o peso de ser a única referência técnica na seleção albiceleste e vê a sua equipe desembarcar desembarca no Catar como uma das favoritas ao título da Copa do Mundo, embalada pela série de 36 partidas sem perder e podendo quebrar o recorde de invencibilidade da Itália. O craque do Paris Saint-Germain não confirma, mas deve fazer seu último “tango” em mundiais no Oriente Médio, torcendo para um desfecho menos dramático e melancólico do que nas últimas edições. Messi é o sexto e último personagem da série ‘Caras da Copa’ do Estadão, que já trouxe Benzema, Kane, Neymar e De Bruyne e Cristiano Ronaldo.
Não resta dúvida de que Messi chega mais leve ao Catar, o quinto Mundial da sua carreira. A conquista da Copa América diante do Brasil no ano passado, em pleno Maracanã, enterrou a tese de que o craque não tinha sorte com a camisa da seleção argentina, elevando ainda mais o seu status de ídolo com a torcida. Foi o primeiro título do jogador com a seleção, depois de amargar três vices em três anos consecutivos (Copa do Mundo de 2014, e as edições de 2015 e 2016 da Copa América). Tendo cumprido a missão de ser campeão pelo seu país, Messi jogará sem a mesma pressão do Mundial da Rússia, quando se despediu do torneio com apenas um gol.
Diferentemente de Cristiano Ronaldo, com quem acostumou revezar o título de melhor jogador do planeta, o argentino chega no ocaso de sua carreira podendo sonhar ainda com voos altos. A mudança do Barcelona para o Paris Saint-Germain, em agosto do ano passado, renovou as esperanças de Messi em erguer novamente o título da Liga dos Campeões. A despedida do principal torneio de clubes da Europa com a camisa catalã foi na fatídica goleada por 8 a 2 diante do Bayern de Munique. Semanas depois, os espanhóis anunciaram a saída do ídolo, mesmo contra a vontade do atleta.
Dividindo os holofotes com Neymar e Kylian Mbappé no PSG, Messi experimentou a função de garçom em sua primeira temporada no PSG, com 14 assistências em 34 jogos, além de ter marcado 11 gols. Se consagrou campeão do Campeonato Francês de Supercopa da França, mas acabou ficando sem o título da Liga dos Campeões. O time parisiense caiu nas oitavas de final para o Real Madrid, com o argentino desperdiçando um pênalti na partida de ida. As atuações mais discretas deixaram o jogador fora da lista dos 30 melhores da Bola de Ouro, prêmio que já levou para casa sete vezes.
Tal qual um bom vinho argentino — ou francês —, Messi só melhorou com o passar do tempo e está mais bem adaptado a Paris. Na atual temporada já serviu seus companheiros o mesmo número de vezes da anterior e já balançou as redes por 19 vezes até a pausa para o Mundial, superando a quantidade de gols marcados anteriormente. As boas atuações fizeram a imprensa internacional voltar a citar o argentino como um dos melhores do futebol europeu.
“O primeiro ano (em Paris) foi uma mudança muito grande para mim, porque tudo aconteceu de repente e não era uma decisão que eu queria deixar o Barcelona”, disse Messi, em entrevista publicada na segunda-feira pela Conmebol. “Mas depois desse processo de um ano, que foi longo, hoje estou feliz onde estou morando e tanto eu quanto minha família estamos curtindo Paris”, concluiu.
Cereja do bolo e recorde à vista
Não é só o título da Copa América no currículo que dá confiança para Messi ir buscar a taça da Copa do Mundo, título que ainda falta conquistar na carreira. A fase da Argentina é um capítulo à parte. Nesta quarta-feira, o time comandado por Lionel Scaloni goleou os Emirados Árabes, por 5 a 0, em amistoso preparatório, em Abu Dabi. Com o resultado, os argentinos acumulam 36 partidas sem derrotas.
Caso o time albiceleste vença a Arábia Saudita na estreia da Copa, irá igualar a Itália no recorde de invencibilidade entre as seleções. A Azzurra ficou 37 jogos sem perder, entre 2018 a 2021, quando era comandada por Roberto Mancini, conquistando o título da Eurocopa. Curiosamente, os campeões do Velho Continente não conseguiram se classificar para o Mundial pela segunda vez consecutiva, perdendo a chance de buscar o penta.
Messi pode ser considerado atualmente a cereja do bolo do time argentino. Se antes o argentino era visto como ilha de luz na escuridão do time de Jorge Sampaoli, o camisa 10 hoje é parte de uma equipe muito competitiva montada pelo Scaloni, com uma defesa sólida, com destaques para o goleiro Emiliano Martínez e a dupla de zaga formada pelo experiente Otamendi e Lisandro Martínez, e um meio-campo esbanjando vitalidade, com Paredes e De Paul. No ataque, Messi continua acompanhado por Angel Di Maria — autor do gol do título da Copa América —, mas ganhou a companhia do artilheiro Lautaro Martínez. No banco, a joia Julian Alvarez aparece como um candidato a coadjuvante de luxo para ajudar o Messi, enfim, a levantar o título da Copa do Mundo.
“Estamos muito empolgados, temos um grupo muito legal que está muito ansioso, mas pretendemos ir aos poucos. Sabemos que os grupos da Copa do Mundo não são fáceis. Quanto mais você joga e quanto mais tempo você passa em campo, mais você se conhece. Conhecemos as características um do outro e o que há de melhor em todos os momentos”, disse ele”, disse Messi em entrevista recente, em Miami.
Apesar da boa fase, Messi é cauteloso ao citar os favoritos para levantar o título no Catar. Para o capitão da seleção argentina, França, Brasil e Inglaterra são os adversários a serem batidos na Copa. “Sempre que falamos de candidatos, falamos dos mesmos times. Se eu tiver que colocar um acima dos outros, acho que Brasil, França e Inglaterra estão um pouco acima dos demais”, disse.
A Argentina de Messi está no Grupo C da Copa do Mundo e estreia no dia 22, contra Arábia Saudita, às 7h. A seleção sul-americana enfrenta o México no dia 26, às 16h, e a Polônia no dia 30, também às 16h.
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