Como a Inglaterra e a Premier League lidam com as casas de apostas e manipulações no futebol

Principal competição nacional vai banir os patrocínios másters de jogos de azar a partir de 2026; clubes arrecadam cerca de R$ 420 milhões por ano com as Bets

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Foto do author Murillo César Alves
Atualização:

A partir de 2027, a Premier League, principal competição nacional do Reino Unido e uma das mais badaladas da Europa, deixará de ter casas de apostas como patrocinadores nas camisas dos clubes. Em acordo inédito, os times do país se prontificaram a não assinar ou renovar seus contratos com as plataformas online de apostas, as Bets. O movimento reflete como a Inglaterra passou a enxergar as apostas e seu envolvimento no esporte.

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A lei que regulamenta as apostas e jogos de azar no Reino Unido, aprovada em 2005, proíbe que atletas e técnicos participem de apostas esportivas. A medida passará por uma reavaliação e consulta pública nos próximos anos para incluir a realidade dos jogos online, mas já é possível traçar paralelos com o Brasil.

Na última semana, a Medida Provisória que altera a Lei 13.756, sancionada em 2018 pelo então presidente Michel Temer, proíbe que dirigentes, técnicos, árbitros e jogadores de futebol realizem apostas no Brasil. No Reino Unido, o debate sobre as apostas esportivas é visto como uma questão de saúde pública também, em meio ao aumento dos casos de dependência no país.

Wolverhampton é um dos clubes da Premier League com patrocínio de casas de apostas em seu uniforme. Foto: Carl Recine/Reuters

Das 20 equipes que estão na disputa do Campeonato Inglês, 18 votaram a favor para o término dos patrocínios de casas de apostas no futebol. Houve duas abstenções. Newcastle, Fulham, West Ham, Bournemouth, Brentford, Southampton e Everton são os clubes que, nesta temporada, estampam marcas do tipo em seus uniformes da primeira divisão.

A Premier League é a primeira competição nacional que, por decisão dos próprios clubes, tomou essa medida de tirar as Bets do futebol. O Campeonato Espanhol e o Campeonato Italiano possuem legislações similares por causa do governo de seus respectivos países. No entanto, essa medida adotada pelos clubes ingleses a partir de 2026/27 não significará, neste primeiro momento, o fim do acordo com as casas de apostas.

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Semelhante à realidade brasileira, 19 dos 20 clubes da Premier League possuíam algum acordo comercial com casas de apostas, seja para estampar suas marcas na camisa, nas placas de publicidade no estádio ou até em publicações nas redes sociais oficiais das equipes. A única exceção em 2021/2022 foi o Norwich, que atualmente disputa a segunda divisão do Campeonato Inglês.

Com a revisão da Acting Law (lei de atuação), o patrocínio de casas de apostas pode ser regulado com o governo, semelhante a outros países da Europa. No Reino Unido, apenas a Premier League aboliu essas marcas das camisas; o Campeonato Escocês, por exemplo, segue sem uma regulação específica.

Vício e valor do patrocínio das apostas

James Grimes, de 33 anos, é o fundador do The Big Step, cuja finalidade é promover debates para o fim dos patrocínios de casas de apostas no futebol inglês. Ao Estadão, ele revela que passou a enxergar como uma questão de saúde pública após um caso pessoal: 12 anos com vício em apostas, que começou na juventude.

A legislação britânica proíbe que menores de idade apostem ou joguem em cassinos, mas, segundo Grimes, esses patrocínios e o discurso, presente no futebol inglês, torna essas casas atrativas aos jovens. “O Tottenham, meu time de coração, e a seleção inglesa divulgavam apostas esportivas. Os jogos da Premier League tinham patrocínios de jogos de azar. Fui puxado para esse mundo, que acreditava não ter riscos à saúde”, conta.

Atualmente, a campanha conta com o apoio de 30 clubes ingleses. “Tentamos conversar com todos os clubes que possuem patrocinadores do tipo, como foi o caso do Everton, Leeds United e Manchester City”, revela. A ideia do projeto, iniciado em 2019, é de que o futebol no Reino Unido não divulgue casas de apostas.

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Patrocínios de casas de apostas também está presente em placas de publicidade no Campeonato Inglês. Foto: Carl Recine/Reuters

“O fim do patrocínio nas camisas é um começo, mas não é o suficiente”, aponta Grimes. No contato com os clubes, ele aponta que há uma resistência para encerrar patrocínios que, na visão financeira, são muito rentáveis. Cerca de 70 milhões de libras (cerca de R$ 420 milhões) foram arrecadadas na última temporada, entre todos os clubes, com os acordos de jogos de azar.

“Os clubes ingleses pensam a curto prazo. ‘Vamos trazer o máximo de dinheiro possível, porque esse dinheiro pode ser capaz de contratar um jogador e isso nos mantém sem a pressão dos torcedores”, afirma Grimes. “Não há nenhuma preocupação com a comunidade e a lisura do esporte.”

Em abril, quando a Premier League anunciou o fim dos patrocínios de casas de apostas, Tony Bloom, dono do Brighton, reforçou que os valores dos acordos são um obstáculo para o fim dos vínculos com os clubes. “Não acho bom ter patrocínio de jogos de azar em camisas, mas entendo que as empresas de jogos de azar pagam melhor, por isso é uma decisão difícil para os clubes recusá-las.”

Envolvimento de atletas em apostas esportivas

A lei que proíbe os atletas de apostarem na Inglaterra não é infalível. Kieran Trippier, então no Atlético de Madrid e hoje no Newcastle, foi considerado culpado em dezembro de 2020 por violar o código de conduta e foi excluído de todas as atividades relacionadas ao futebol por dez semanas - quase três meses.

No futebol inglês, Ivan Toney, atacante do Brentford, se declarou culpado por apostar em eventos esportivos. Nesta quarta-feira, a Federação Inglesa puniu o jogador, que ficará oito meses fora dos gramados e terá de pagar multa de 50 mil libras (R$ 308 mil) por infringir 262 vezes as regras impostas para controlar as apostas no país.

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Em outros casos do país, as punições chegaram a até um ano e meio de gancho. Joey Barton, por exemplo, recebeu 18 meses de suspensão na reta final de sua carreira ao declarar ter realizado mais de mil apostas entre 2006 e 2013.

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