A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vai rescindir o contrato que mantém com a Galera.bet, empresa do setor de apostas esportivas. O Estadão apurou que a entidade que comanda o futebol nacional está insatisfeita com a postura da casa de apostas, que foi à Justiça alegando quebra do contrato de exclusividade com a entidade esportiva.
A Galera.bet é patrocinadora máster do Brasileirão, mantendo acordo de exclusividade no segmento de palpites e apostas esportivas com a CBF até 2024. A parceria de três anos, celebrada em 2022, já na gestão de Ednaldo Rodrigues, dá direito a ações offline, digital, branding, relacionamento e ativações exclusivas de experiências com a marca. Mas a empresa de apostas alega que o contrato foi descumprido depois que a CBF permitiu que as concorrentes Betano e Bet Nacional dividissem o mesmo espaço que era reservado apenas a ela em propriedades oficiais da competição nacional.
Tratam-se de exposições nos backdrops, painéis onde os atletas são entrevistados antes e depois dos jogos, e também no pórtico inflável colocado no gramado antes das partidas. A CBF passou a exibir outras marcas do mesmo segmento que a Galera.bet desde a terceira rodada do Brasileirão. Nos jogos da quarta jornada, a última disputada, no fim de semana, apareceu outra marca concorrente, a 1Xbet.
O juiz João Marcos de Castello Branco Fantinato, da 34ª Vara Cível do Rio de Janeiro, deu decisão favorável à Galera.bet ao conceder liminar à empresa e multar a CBF em R$ 200 mil a cada partida em que a cláusula de exclusividade for desrespeitada.
“Defiro o pedido de tutela de urgência para que a CBF observe fielmente o direito de exclusividade da marca Galera.bet como única ‘empresa de palpites e apostas esportivas’ nas propriedades do Brasileirão, até a temporada de 2024″, escreveu o juiz em sua decisão.
A CBF está recorrendo na Justiça da decisão para que possa exibir a marca das concorrentes da Galera.bet nas próximas partidas do campeonato, cuja quinta rodada começa nesta quarta-feira, com sete confrontos, enquanto trabalha para desfazer o acordo com a casa de apostas. A ideia é pagar a indenização e não mais ter a Galera.bet como patrocinadora máster do Brasileirão.
Em resposta ao Estadão, a CBF afirmou que só se pronunciará nos autos do processo. Procurada, a Galeta.bet não se manifestou. Em caso de respostas, as informações serão atualizadas nesta reportagem.
PROLIFERAÇÃO DAS CASAS DE APOSTAS NO FUTEBOL
A Galera.bet pertence à Playtech, um das maiores empresas do mundo em tecnologia para jogos e que tem sede em Londres, e é uma das muitas empresas do setor de apostas esportivas que exibem suas marcas no futebol nacional. Já foi patrocinadora dos times masculino e feminino do Corinthians e hoje patrocina a equipe feminina da Ferroviária e a Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Também mantém acordos comerciais com algumas torcidas organizadas, como a Mancha Alvi Verde, do Palmeiras, a Dragões da Real, do São Paulo, e a Raça Rubro-Negra, do Flamengo.
Hoje, 39 dos 40 das Séries A e B possuem algum tipo de parceria com casas de apostas. A única exceção é o Cuiabá, que já manifestou publicamente o desejo de conseguir um patrocínio desta categoria de apoiador, mas ainda não encontrou uma oferta que seja satisfatória.
São pelo menos 17 marcas diferentes estampando seus logos nos uniformes ou em propriedades dos clubes. A predominância fica por conta do Esportes da Sorte, que é a primeira em número de patrocinadores na Série A, com quatro equipes, e da Série B, com outras cinco agremiações - ainda detém mais um clube, o América-RN, na Série C do Campeonato Brasileiro.
REGULAMENTAÇÃO
Nos últimos anos, as casas de apostas pela internet entraram no mercado publicitário, nos times de futebol e também nos bolsos dos brasileiros. Sem regulamentação para operar em solo nacional, empresas com sede no exterior como PixBet, Betfair, BetNacional, Betano, Galera.bet e centenas de outras, conforme estimativa do BNL Data, um informativo online do segmento, movimentam bilhões em apostas no País. As estimativas são de que o dinheiro que passa por essas empresas chegue a R$ 12 bilhões, segundo Magno José, presidente do Instituto Brasileiro Jogo Legal e fundador do BNL Data.
Em 2018, no governo do então presidente Michel Temer, as apostas foram legalizadas no País, mas se estabeleceu um prazo máximo de quatro anos para que fossem regulamentadas pelo Ministério da Fazenda. Esse prazo venceu em dezembro passado e, como isso não aconteceu, elas operam atualmente em uma espécie de limbo regulatório. Sem fiscalização, as suspeitas de manipulação de resultados e de lavagem de dinheiro também proliferam.
O Ministério da Fazenda não tem ainda números oficiais sobre a movimentação dessas empresas, mas o ministro Fernando Haddad já afirmou que pretende usar a tributação dos jogos para compensar a perda da arrecadação causada pela revisão na tabela do Imposto de Renda, que terá ampliação da faixa de isenção. A estimativa do governo é de arrecadar entre R$ 2 bilhões e R$ 6 bilhões por ano.
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