Com as contratações do zagueiro Léo Ortiz e do atacante André Silva, comprados por Flamengo e São Paulo, respectivamente, por R$ 37 milhões e R$ 19 milhões, os clubes da elite do futebol brasileiro já ultrapassaram, somados, a casa do R$ 1 bilhão gastos em contratações na atual temporada. O valor é o mesmo do investimento anual dos 20 times da Série A em 2023.
Já em comparação somente à primeira janela de transferências do ano, os atuais valores desembolsados em reforços superam em 45% os cerca de R$ 700 milhões gastos neste mesmo período em 2023. Dentre as contratações para a temporada 2024, a principal é a aquisição do atacante Luiz Henrique pelo Botafogo. Ele custou 16 milhões de euros, o equivalente a R$ 85,4 milhões, com bônus que podem chegar até 4 milhões de euros - algo que, caso se concretize, transformaria a negociação na maior compra da história do futebol brasileiro, em números absolutos.
Até o momento, três equipes ultrapassaram a marca dos R$ 100 milhões gastos com reforços, casos de Flamengo (R$ 158 milhões), Botafogo (R$ 134 milhões) e Corinthians (R$ 120 milhões). Outra equipe que se aproxima desta marca é o Vasco, que já desembolsou R$ 98 milhões na janela. Fechando o top 5 dos clubes que mais investiram no ano esta o Palmeiras, com R$ 89 milhões.
Para Renê Salviano, CEO da Heatmap, agência de marketing e patrocínio esportivo, as cifras são resultados de um novo momento que o futebol brasileiro vivencia. “Vários fatores influenciam para essa crescente dos valores movimentados pelo futebol brasileiro. Vale destacar que os clubes buscam maior profissionalização dos modelos de gestão e que há equipes com SAFs que recebem aporte milionário, como Botafogo e Vasco, dois dos que mais gastaram nesta janela. Também há o dinheiro que os clubes da Liga Forte União estão recebendo pela venda antecipada dos direitos de transmissão pelos próximos 50 anos”, afirmou.
Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento americana, comandada pelo cantor Jay-Z, que cuida das carreiras de Vinicius e de outros jogadores, também cita o comportamento das equipes que se tornaram SAFs para justificar o recorde de investimento.
“Era esperado que Palmeiras e Flamengo seguissem se rivalizando nos investimentos para reforçar seus respectivos elencos. Assim como o Corinthians, em algum momento, iria se valer da capacidade de arrecadação e torcida para voltar a contratar. Além disso, temos clubes que há dois anos estavam em vias de falir e que receberam aportes relevantes, tendo dívidas centralizadas e com prazo prolongado para pagamento (por meio das SAFs). Ainda veremos por mais dois ou três anos gastos crescentes com contratações, porque será necessário para que esses clubes se mantenham na primeira divisão nacional.”
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“Já é nítido que as SAFs inflacionam custos de transferência e salários. Dois anos atrás, tínhamos três ou quatro clubes no Brasil aptos a manter um certo número de atletas recebendo salários próximos de R$ 1 milhão. Esse número já dobrou, e hoje, qualquer jogador de alto nível brasileiro que atua na Europa, não tem mais apenas o Flamengo como opção para regresso mantendo salário similar. Hoje, são ao menos seis opções, senão oito. A disputa por cada atleta é muito maior”, acrescentou.
Apesar de manter cifras menores de investimento, há também outros clubes que se destacam no mercado, como o Internacional, que surpreendeu ao fechar a contratação do atacante Rafael Borré - a segunda maior da história do clube gaúcho, com valores em torno de 6,2 milhões de euros (R$ 33 milhões) -, além de anunciar atletas como o também atacante Lucas Alario, sonho antigo do clube, e o zagueiro Robert Renan.
“O mercado brasileiro apresenta competitividade para a contratação de novos atletas e, diante desse cenário, o Internacional conseguiu sacramentar a vinda de importantes peças para qualificar o elenco e nos auxiliar a alcançar bons resultados na temporada, algo que sempre almejamos como profissionais”, afirmou Felipe Becker, vice-presidente de futebol do Internacional.
Clubes do Nordeste
No Nordeste, os principais investimentos são do Bahia, que trouxe nomes como Everton Ribeiro, Caio Alexandre, Jean Lucas e David Duarte, com investimento total em torno dos R$ 51 milhões. O clube baiano do técnico Rogério Ceni tem dinheiro do Grupo City. O Fortaleza, por sua vez, clube da região há mais tempo no Brasileirão, investiu cerca de R$ 35 milhões a fim de qualificar o grupo vice-campeão da Copa Sul-Americana em 2023, com destaque para a contratação do goleiro Santos, campeão da Libertadores com o Flamengo, e a aquisição em definitivo do atacante Yago Pikachu.
CEO da SAF do Fortaleza, Marcelo Paz avalia as expectativas para o ano a partir dos reforços contratados. “Desejamos realizar uma temporada melhor que a de 2023 e sabemos que isso se dá a partir de fatores como a vinda de novos atletas, assim como a manutenção da comissão técnica e da base do elenco”, disse.
Com as expectativas geradas pelas novas contratações, em meio aos valores recordes envolvidos na atual janela de transferências, os clubes também podem beneficiar-se sob diversos aspectos, conforme analisa Henrique Borges, CEO da Somos Young, empresa especializada no atendimento a sócios torcedores e que já trabalhou com clubes como Vasco, Bahia e Cruzeiro.
“As novas contrações criam expectativas em torno dos torcedores, de verem o quanto antes uma versão mais consolidada de seus times para o ano. Assim, mesmo durante o período dos Estaduais, em que geralmente as equipes promovem muitos testes, os fãs podem ter um ânimo a mais para acompanhar o time diretamente do estádio. Outros fatores que também podem ser explorados nesse cenário são a venda de produtos oficiais e a capitalização de receitas através de demais ações. Com um planejamento adequado, é possível turbinar o faturamento em diversas áreas, inclusive a partir dos programas de sócios torcedores”, afirmou.
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