Com R$ 6 bilhões em reforços, Campeonato Inglês defende status de 'melhor futebol do mundo'

Apesar da pandemia, investimento feito pelos clubes ingleses na última janela foi muito superior aos times de outras ligas

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Por Rafael Sant'Ana Ferreira
Atualização:

A Premier League, responsável pela organização do Campeonato Inglês, está programada para começar a temporada 2021–22 nesta sexta feira, com o jogo entre Brentford e Arsenal. O investimento feito pelas equipes durante a última janela chega perto da casa de 1 bilhão de euros (R$6,15 bilhões), algo sem comparação às outras ligas europeias. Nomes estelares como Sancho, ex-Borussia Dortmund, e Romelu Lukaku, ex-Internazionale, retornaram ao país e aumentaram ainda mais a popularidade do campeonato, que defende o status de 'melhor futebol do mundo'. 

Como mencionado, o dinheiro envolvido em transferências no Campeonato Inglês é fora do comum. Mesmo em meio a pandemia de coronavírus, os clubes conseguiram gastar mais do que todos seus concorrentes europeus juntos. Enquanto times da Bundesliga e da La Liga, responsáveis pelo Campeonato Alemão e Espanhol, respectivamente, tiveram um déficit de mais de R$ 500 milhões, as 20 equipes da Premier League lucraram aproximadamente R$ 5,9 bilhões no último verão. As informações são do Centro de Economia e Pesquisa de Negócios (CEBR) do Reino Unido. 

A bola do Campeonato Inglês para a temporada 2021/22. Foto: Divulgação/Premier League

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A liga com maior lucro no cenário europeu, tirando a inglesa, foi a francesa, que teve um superávit de R$369 milhões. O tamanho sucesso do futebol na Inglaterra não veio por acaso e remonta ao dia 15 de abril de 1989, quando 96 pessoas morreram na partida entre Liverpool e Nottingham Forest, no que ficou conhecido como ‘Desastre de Hillborough’.

Em 1992, a antiga Football League foi substituída pela Premier League , uma marca que oferecia direitos de TV bem mais lucrativos e uma oportunidade de esquecer o passado marcado por desastres, hooligans e estádios em más condições. 

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Eduardo Carlezzo, sócio-fundador do Carlezzo Advogados, avaliou o processo de transformação do Campeonato Inglês, e o porquê de seu sucesso inegável. Ele afirma que após chegar no ‘fundo do poço’, os organizadores se movimentaram em relação ao tratamento dado aos torcedores e à infraestrutura esportiva da liga.

“Como consequência destas e outras ações, a competição se fixou como a mais assistida do mundo, tendo um contrato de venda dos direitos de TV por valores estratosféricos. Além disso, temos o fato de que os clubes foram sendo adquiridos ao longo destes anos por bilionários, aumentado imensamente seu poder financeiro. A soma de tudo isso, em síntese, faz com todos aqueles que se envolvam com futebol queiram estar perto da liga inglesa”, disse.

Analisando a trajetória do Campeonato Inglês, é possível afirmar pelo menos mais cinco motivos para que a competição tenha se tornado um fenômeno no meio esportivo. Os melhores jogadores estão lá, a língua inglesa é a segunda mais falada no mundo, atrás da chinesa, o que dá um acesso global à competição, e o próprio futebol é mais atrativo e competitivo do que o jogado em outras ligas. Além disso, o marketing implementado pelos organizadores é muito bem feito, e por fim, a história e os fãs fazem a diferença. Afinal de contas, foram os ingleses que inventaram o futebol há mais de 150 anos.

Para essa temporada, os clubes não pouparam dinheiro e investiram pesado em reforços. O Manchester City, atual campeão, tirou o meia-atacante Jack Grealish do Aston Villa por 118 milhões de euros (R$ 722 milhões), o maior valor da história da Premier League. Antes dele, o francês Paul Pogba havia se transferido da Juventus para o Manchester United em 2016 por 111,5 milhões (R$ 679 milhões na cotação atual). 

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Jack Grealish, a contratação mais cara do Campeonato Inglês. Foto: Lindsey Parnaby/AFP

Txiki Begiristain, ex-diretor de futebol do Barcelona, e atual do City, não pretende parar por aí. A imprensa europeia noticia que, após a saída de Agüero para o Barcelona, o time azul de Manchester está disposto a desembolsar 150 milhões de euros (R$ 919 milhões) por Harry Kane, centroavante do Tottenham.

Em coletiva no último sábado, Pep Guardiola preferiu não dar muitos detalhes sobre o futuro do clube no mercado e especulou o número de jogadores que ainda podem chegar. “Talvez um, mas não mais. Como todo mundo sabe, tudo é difícil hoje por causa da pandemia, então veremos. Mas se tivéssemos que ficar com o time, mesmo sem Jack (Grealish) ou qualquer jogador, nós estaríamos muito bem”, afirmou o treinador.

Do outro lado da cidade, os Diabos Vermelhos também não se acanharam e fecharam a contratação de Jadon Sancho, que deixou o Borussia Dortmund e retorna à Inglaterra após passar pela base dos Citizens em um negócio de 85 milhões de euros (R$522 milhões). O francês Raphaël Varane foi anunciado no último dia 27 para fazer dupla com Harry Maguire e deve custar cerca de 50 milhões de euros (R$ 305,5 milhões).

Outra contratação que merece destaque é a do belga Romelu Lukaku, que retorna ao Chelsea após oito anos. Marina Granovskaia, a ‘dama de ferro’ dos Blues, pagou 100 milhões de euros (R$615 milhões) para tirar o atacante da Internazionale, campeã italiana, e garantir sua volta ao Stamford Bridge. Ben White, zagueiro que atuava no Brighton, foi adquirido pelo Arsenal por 58,5 milhões de euros (R$360 milhões), uma quantia questionada pelos torcedores dos Gunners.

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Se as principais equipes se movimentaram no mercado, o Liverpool, 3º colocado na última temporada, decidiu ser mais modesto. A única contratação dos Reds foi a do francês Ibrahima Konaté, zagueiro do RB Leipzig, que custou 40 milhões de euros (R$246 milhões) ao time do alemão Jürgen Klopp. Mas não se engane. O trio de ataque formado por Mané, Firmino e Salah continua em Anfield e promete levar a equipe às primeiras posições da tabela.

Leicester e West Ham também devem brigar pelo topo nessa temporada. Os vencedores da edição 2015–16 venceram a Copa da Inglaterra pela primeira vez e terminaram o campeonato na 5ª posição. Logo atrás, veio o West Ham, que sob o comando de David Moyes, pode surpreender novamente. Olho no bom Leeds, treinado por Marcelo Bielsa, e no recém-promovido, Brentford, que tem um estilo de jogo ofensivo e quer fazer bonito em sua estreia na elite do futebol inglês.

Aqui no Brasil, a DAZN, plataforma de streaming esportivo, abriu mão dos direitos de transmissão da Premier League. A Disney pode exibir todos os 10 jogos da rodada e, além de ESPN Brasil e o Fox Sports, também pretende colocar o campeonato no Star+, um serviço de streaming por assinatura que será lançado em 31 de agosto.

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