Clubes brasileiros preterem início dos Estaduais para fazer turnê nos EUA; vale a pena a aposta?

Cruzeiro, São Paulo, Flamengo, Atlético-MG e Fortaleza fazem pré-temporada em território americano, mesmo com calendário congestionado no ano do novo Mundial de Clubes

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Por Redação

O futebol brasileiro é indiscutivelmente reconhecido no exterior, ao mesmo tempo em que é pouco consumido por estrangeiros. Para os clubes do Brasil, portanto, é difícil expandir a marca para além do território nacional. De qualquer forma, existem oportunidades, como as turnês pelos Estados Unidos que alguns time decidiram fazer neste começo de temporada.

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De acordo com um estudo da Global Fan Report, realizado pela consultoria Censuswide e encomendado pelo Grupo Chiliz, apenas 2,96% dos fãs de futebol de outro países consideram um clube brasileiro como o seu favorito, enquanto 87% dos torcedores do Brasil se interessam por equipes internacionais e 21% têm uma equipe do exterior como sua principal.

Cruzeiro, São Paulo, Flamengo, Atlético-MG e Fortaleza são os times da elite que toparam fazer pré-temporada nos Estados Unidos e podem dar pequenos passos para construir melhor relação com o mercado externo. Os quatro primeiros participam da FC Series, disputada de 15 a 25 de janeiro.

Lucas Silva e Dudu no embarque do Cruzeiro para os EUA. Foto: Gustavo Aleixe/CruzeiroEC

Já o time do Pici está na Orlando Cup - Pro Series, torneio amistoso que teria também o Santos, mas o clube do litoral paulista desistiu de última hora após contratar o treinador Pedro Caixinha, que não concordou com a viagem.

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“O Fortaleza já tem uma carreira consistente na América do Sul, desde 2020 acumulando participações na Sulamericana e Libertadores da América, e agora chegou a vez de tremular nossa bandeira e entrar em campo nos Estados Unidos”, explica Marcelo Paz, CEO do Fortaleza SAF.

“Será uma ótima oportunidade não só para trocar experiências, mas também para expandir a imagem do Fortaleza para o mundo, internacionalizar a marca, e criar novos torcedores ao jogar em um dos países-sede da próxima Copa do Mundo, em 2026″, conclui.

Exceto pelo Santos, que recalculou rota e concluiu que jogar nos EUA prejudicaria o clube no Paulistão, os outros clubes não se importaram em sacrificar parcialmente o início dos respectivos estaduais, que começam mais cedo por causa da pausa de um mês para o novo Mundial de Clubes, entre junho e julho.

Na gira americana, o São Paulo, por exemplo, enfrenta o Cruzeiro, dia 15, em Orlando, e o Flamengo, dia 19, em Fort Lauderdale. Por isso, conseguiu adiar seu compromisso da primeira rodada do Paulistão e vai estrear apenas na segunda rodada, dia 20 contra o Botafogo-SP, com um time alternativo.

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No Brasil, o assunto da internacionalização dos clubes sempre foi amplamente discutido, seja devido à expansão de lojas oficiais das marcas de materiais esportivos para outros continentes, seja pela presença em amistosos ou competições internacionais, que já foi maior em outras épocas.

Até o começo da década de 1990, era comum que os clubes fizessem excursões por outros países, mas isso ficou mais difícil frente ao calendário cada vez mais cheio. Hoje, em um mundo globalizado e conectado pelas redes sociais, apenas visitar um país não é o suficiente para lembrarem de seu escudo por mais tempo.

“Acredito que é uma maneira de os clubes explorarem institucionalmente e comercialmente seus ativos. Não é apenas com isso que ele se tornará mais ou menos conhecido fora do país, mas ajuda, principalmente se bem trabalhada as ativações envolvendo também os atletas, além, é claro, de um conteúdo bem executado nas redes sociais”, pontua Claudio Fiorito, CEO da P&P Sport Management Brasil, empresa especializada no gerenciamento da carreira de atletas.

“Mercadologicamente soa bonito quando um clube de futebol informa que fará a pré-temporada no exterior? Sem dúvida, mas na realidade participar de uma-pré temporada isoladamente sem um planejamento de médio e longo prazo de ações que vise a internacionalização da imagem do clube, não agrega nada de relevante a imagem do clube”, acrescenta Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo, e que faz a captação de contratos entre marcas envolvendo profissionais do esporte.

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Outras estratégias, se combinadas ao jogos em território estrangeiro, podem ajudar os clubes brasileiros na construção de maior relevância mundial. Um ponte chave para isso é a busca por um bom acordo de transmissão de internacional. Ao longo do ano passado, com o trunfo da midiática contratação do holandês Memphis Depay, o Corinthians transmitiu todos os seus jogos como mandante para o exterior, gratuitamente, no YouTube.

“Estamos atrasados há mais de 50 anos. Imaginem o quanto sofremos com essa questão, perdendo bilhões de reais em receita para os clubes, valorização do nosso futebol e visibilidade dos nossos atletas. É só olhar para o que fizeram os clubes ingleses nas últimas cinco décadas”, observa Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo, e que faz a captação de contratos entre marcas envolvendo profissionais do esporte.

“Somente nesses últimos anos conseguimos algo tão simples, que é transmitir os jogos para outros países, e isso é o principal para a internacionalização da marca. Vejo como uma ação muito importante este tipo de pré-temporada, mas transmitir os nossos jogos para os seis continentes é algo imprescindível”, completa.

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