Como o Brasileirão mudou de viés e estabeleceu recordes históricos de público?

Edição 2024 teve a segunda melhor média da história, quase metade das arquibancadas com presença de sócios e arrecadação de quase meio bilhão com venda de ingressos

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Foto do author Rodrigo Sampaio
Atualização:

O Campeonato Brasileiro mais uma vez alcançou altos índices de espectadores, com aproximadamente 10 milhões de torcedores nas arquibancadas em 2024. A edição deste ano, que terminou com o Botafogo campeão após 29 anos, registrou a segunda melhor média de público da história, com 26,5 mil pessoas por partida. A marca é superior à temporada 1983, que teve pouco mais de 22,9 mil, e fica atrás somente de 2023, com 28 mil. Os números são de acordo com os boletins financeiros dos jogos.

Dono da maior torcida do País, o Flamengo novamente aparece na ponta do ranking, com uma média de 54,5 mil torcedores. O Corinthians surge logo atrás, com 43,7 mil, a melhor marca do clube desde a inauguração da Neo Química Arena, há dez anos. Já o São Paulo, que foi o segundo colocado em 2023, fecha o pódio (40 mil), enquanto o Palmeiras figura na sétima colocação (31,5 mil).

Torcida do Corinthians teve a segunda melhor média de público do Brasileirão.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Com a mudança do formato de mata-mata para a disputa de pontos corridos, o Brasileirão viu o número de público não ser o mesmo de outrora nas últimas duas décadas. Segunda especialistas, a reabertura dos estádios no período pós-pandemia e uma incrementação da relação do clube no produto oferecido ao seu torcedor explicam o porquê de a competição ter voltado a ganhar relevância nas arquibancadas.

“É necessário que cada vez mais as equipes sigam idealizando ações criativas e estratégicas, com eficácia, com uma perspectiva para além do campeonato em si. Assim, é possível consolidar ainda mais a marca da instituição, assim como alcançar maior proximidade com os fãs”, comenta Bruno Brum, CMO da End to End, empresa que realiza ativações com o intuito aproximar ainda mais o torcedor do clube.

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“Desde a volta da pandemia, os jogos do campeonato nacional têm registrado públicos crescentes. Acredito que nesse período os clubes também buscaram outras estratégias para se aproximar mais dos fãs, seja com os programas de sócio-torcedor, com a contratação de grandes craques, com uma maior atenção ao match day e a intensificação da produção de conteúdo digital”, destaca Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.

Sócios engajados

O Brasileirão 2024 também ficou marcado pelo bom índice de ocupação dos sócios-torcedores nos estádios. Ao todo, 45% do público total da competição foi representado por associados. Para evitar que as arquibancadas fiquem vazias, os clubes brasileiros têm apostado em alavancar os programas sócio, oferecendo a quem adere aos planos entradas grátis ou com abatimento do preço cheio do bilhete. Em contrapartida, ficou cada vez comum torcedores que não são sócios reclamarem dos altos valores dos ingressos.

Em 2024, o destaque fica por conta do Criciúma, que não competia na primeira divisão desde 2014, e teve 87,5% do público presente nos jogos composto por sócios. Apesar de contar com uma torcida apaixonada, o time catarinense ficou na 18ª posição, com 38 pontos, e não conseguiu evitar a queda para a Série B.

Já o Vitória, segundo colocado no ranking, tem 77,8% do público no estádio sendo composto por sócios-torcedores. Na sequência, aparecem o Corinthians, com 67,5%, Athletico Paranaense, com 67%, e Bahia, com 62%. Entre as outras equipes, os associados também foram maioria nos estádios nos casos de Fortaleza (59,7%) e Vasco (50,8%).

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“Nossa torcida, em geral, tem sido muito importante e inclusive temos registrado uma crescente no programa de associados. Como costumo dizer, essa adesão é potencializada quando mantemos um elenco competitivo e que mobilize o torcedor para que tenha interesse em estar no estádio e contribuir mensalmente. Além disso, ainda há atrativos como uma boa experiência de jogo e a possibilidade de contar com ampla rede de serviços, desde descontos nos produtos sociais do clube a prioridade em eventos”, ressalta Marcelo Paz, CEO da SAF do Fortaleza.

“Com os programas de sócios-torcedores, os clubes asseguram receitas que hoje são vitais para o futebol moderno. Além dos 90 minutos de jogo, é importante idealizar estratégias diferenciadas, que garantam benefícios aos associados. Nesse sentido, é essencial sair um pouco da relação ‘jogo e ingresso’, visando ampliar a adesão dos fãs e garantir recursos que podem fazer a diferença ao longo da temporada”, diz Jorge Duarte, gerente de marketing e esportes da Somos Young, empresa que realiza o atendimento a sócios-torcedores.

Arrecadação milionária

Junto aos altos índices de público, o Brasileirão 2024 registrou um valor de R$ 497milhões de arrecadação com bilheteria. A equipe que mais se destacou nesse quesito foi novamente o Flamengo, o único a ultrapassar a casa dos R$ 3 milhões com bilheteria média. Outros que se destacam pelo faturamento são Corinthians (média de R$ 2,6 milhões), Palmeiras (R$ 2,4 milhões por partida), São Paulo (média de R$ 2,38 milhões) e Botafogo (R$ 1,8 milhão por jogo).

Em comum, todos os quatro times têm apostado na construção de camarotes premium em seus estádios, para oferecer experiências diferenciadas aos torcedores e angariar mais receitas. É o caso do Fielzone, na Neo Química Arena, do Fanzone, no Allianz Parque, do Camarote dos Ídolos, no MorumBis, e do Firezone, no Estádio Nílton Santos.

“Os camarotes são um importante fator dentro da arrecadação dos clubes nos dias de jogos. Além disso, também apresentam uma série de experiências únicas que proporcionamos aos torcedores, como atrações musicais antes e depois das partidas”, destaca Léo Rizzo, CEO da empresa Soccer Hospitality.

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